domingo, 19 de julho de 2020

HOMÍLIA DIÁRIA, COMENTÁRIO E REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DIA 19/07/2020

ANO A



16º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano A - Verde

“Os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai.” Mt 13,43

Mt 13,24-43

Ambientação

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A presente liturgia recorda-nos que a adesão ao Reino de Deus dá-se dentro de um processo, sendo preciso discernir, dia-a-dia, os passos necessário à se chegar numa autêntica vivência da fé. Supliquemos a sabedoria que vem do alto e aproximemo-nos do Senhor, cantando.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, eis que o Senhor, bom, clemente e fiel, está no meio de nós. Iniciando esta semana na sua presença, queremos acolher a proposta do Reino por Ele anunciada. Alegrando- nos por sua manifestação, nós, seu povo eleito, renderemos nossa ação de graças ao Pai, na força do seu Espírito. Que esta celebração nos mantenha fiéis e perseverantes até o fim, para que possamos escutar, cheios de esperança, a promessa de que um dia iremos viver eternamente na presença de Deus.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Uma tendência natural dos homens é a de dividir a humanidade em duas grandes categorias: os bons de um lado, os maus de outro. Essa tendência existe também no plano religioso. Invocamos bençãos sobre nós mesmos, sobre nossa família, nossa nação; as maldições caiam sobre os outros, os inimigos, ou seja, aos que se opõem a nós... Jesus inaugura o reino dos "últimos tempos", não como juiz que separa os bons dos maus, mas como pastor universal, vindo antes de tudo para os pecadores. Não exclui ninguém do reino; todos são a ele chamados, todos podem aí entrar, pois nenhum pecado pode cortar irremediavelmente as pontes de comunicação com a força misericordiosa de Deus.

IGREJA EM SAÍDA: UMA COMUNIDADE MISSIONÁRIA

A Igreja "em saída" é a comunidade de discípulos missionários que "primeireiam", que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!
Como consequência, a Igreja sabe "envolver-se". Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: "Sereis felizes se o puserdes em prática" (Jo 13, 17). Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se - se for necessário - até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o "cheiro das ovelhas", e estas escutam a sua voz.
Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a "acompanhar". Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações.
Fiel ao dom do Senhor, sabe também "frutificar". A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora.
Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre "festejar": celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.
Papa Francisco
(Exortação Apostólica A alegria do Evangelho, n. 24)

Comentário do Evangelho

Por que da criação boa de Deus surgiu o mal?

O texto do evangelho é uma sequência de três parábolas, mais a explicação da parábola do joio e do trigo. Todo o texto está situado no capítulo treze de Mateus, que, muitos comentaristas, dizem ser o capítulo central do primeiro evangelho. Esse longo ensinamento em parábolas, às multidões e aos discípulos, visa fazer compreender a natureza do Reino dos Céus, a sua situação neste mundo, o seu desenvolvimento e as exigências que ele impõe aos que aderem a ele. O ensinamento de Jesus em parábolas divide o auditório. Na resposta à pergunta dos discípulos sobre o motivo do ensinamento em parábolas às multidões, Jesus faz uma distinção entre eles e as multidões (Mt 13,10-11). Não se trata de discriminação ou exclusão, mas de uma constatação: há os que aderem ao Reino (os discípulos) e os que o rejeitam. Para os discípulos o ensinamento de Jesus dá acesso ao mistério de Deus; para os outros, ele é um enigma. No entanto, essa distinção só existe porque Deus permite, isto é, Deus respeita profundamente a liberdade do ser humano. O Reino dos Céus cuja realidade Jesus revela só pode ser acolhido na liberdade. As três parábolas supramencionadas têm em comum que exigem um engajamento pessoal. A parábola do joio e do trigo é uma releitura dos três primeiros capítulos do livro do Gênesis. No campo de Deus, ele semeou a boa semente. O campo é o jardim de Deus onde ele colocou o ser humano, para que na comunhão com o seu Criador ele pudesse ser feliz (Gn 2,8-15). A boa semente que se desenvolve e dá fruto é o ser humano que Deus criou à sua imagem e semelhança e colocou em seu jardim. A pergunta do homem de ontem continua sendo a mesma da do homem de hoje: Por que da criação boa de Deus surgiu o mal? Se Deus semeou somente a boa semente do trigo em seu campo, de onde veio o joio? A resposta: o inimigo de Deus e do ser humano foi quem o fez. O trigo que germina no meio do joio parece vulnerável, como a existência humana ameaçada pelo mal. No entanto, aos olhos de Deus, nossa existência é portadora do projeto de Deus e dará fruto no tempo certo. O Reino de Deus sofre violência, neste mundo, e bem e mal estão mesclados no mesmo campo. No entanto, o dono do campo não renuncia à colheita, ele espera pacientemente.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, reveste-me com o dom do discernimento e a virtude da paciência que me predispõem a superar as dificuldades que o Maligno coloca no meu caminho.
Fonte: Paulinas em 20/07/2014

Vivendo a Palavra

«Quem tem ouvidos, ouça.» Essa palavra final não pode ser desprezada. Ouvir, no caso, significa escutar, assimilar, guardar no coração e fazer da mensagem norma de vida. Comparando-a com sementes, Jesus quer nos ensinar a aceitar a Vida que nos dá como dom a ser cultivado, até que produza frutos a serem partilhados com os irmãos.
Fonte: Arquidiocese BH em 20/07/2014

VIVENDO A PALAVRA

Jesus usa a pedagogia das parábolas para nos encantar com o Reino do Pai. Diante de uma parábola, peçamos a Luz do Espírito Santo para ultrapassar a sua letra e mergulhar na compreensão do que ela realmente quer nos comunicar. No texto que ouvimos, Jesus nos ensina: sobre a existência do mal no mundo; sobre a força interna da fé, que é capaz de se tornar árvore, mesmo sendo do tamanho do grão de mostarda; sobre a difusão do Reino do Pai pelo mundo, como o fermento leveda toda a massa. Não paremos nos símbolos, mas busquemos os seus significados!

Recadinho

Respondeu-lhes: “Foi algum inimigo que fez isto!” E os empregados perguntaram: “Queres que arranquemos o joio?” O patrão respondeu: “Não! Para que não suceda que, ao colher o joio, arranqueis também o trigo. Deixai que os dois cresçam juntos até a colheita; e no momento da colheita direi aos ceifadores: “Arrancai primeiro o joio e ajuntai-o em feixes para ser jogado ao fogo; e recolhei depois o trigo a meu celeiro”.
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Fonte: a12 - Santuário Nacional em 20/07/2014

Reflexão

I. INTRODUÇÃO GERAL

O tema principal das leituras de hoje é a grandeza de Deus. Deus é tão grande, que seu coração tem lugar para todos, também para os pecadores. Ele “contemporiza” até o momento em que eles terão de decidir se aceitam a sua graça, sim ou não. Isso nos ensina também algo sobre o pecado: com o tempo, o pecado se transforma, ou em arrependimento, ou no orgulho “infernal”, cujo fim é o destino dado ao joio de que fala a parábola do evangelho.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Sb 12,13.16-19)

A bela primeira leitura, tomada do livro da Sabedoria (escrito no tempo em que Jesus nasceu), ensina que o poder de Deus se mostra na capacidade de perdoar. O israelita piedoso (como também o “bom cristão”) gosta de dividir os seres humanos em bons e maus e, quando vê que Deus não observa essa divisão, chega a ponto de acusá-lo! Mas a sabedoria de Deus mostra-se tanto na paciência quanto no julgamento. Por outro lado, também os “bons” precisam da misericórdia de Deus. Já vimos, no domingo passado, que ninguém conhece a profundeza do pensamento de Deus. Incredulidade não significa necessariamente perdição. Como ainda muitos “bons cristãos” hoje, também os antigos judeus se admiravam de que Deus deixasse coexistir fé e incredulidade, justos e injustos. Mas Deus não precisa prestar contas a ninguém. Sua grandeza, ele a mostra julgando com benignidade, pois tem suficiente poder; Deus não é escravo de sua própria força (v. 18a)! Contrariando nossa impaciência e intolerância, Deus aguarda que talvez o injusto ainda se converta ( v. 19; cf. Lc 13,6-9). Segundo o profeta Oseias, Deus exprime seu direito a ser paciente e generoso com a expressão: “Eu sou Deus, não ser humano” (Os 11,9). Em sua automanifestação a Moisés, em Ex 34,5-6, Deus se apresenta antes de tudo como misericordioso, clemente, lento na ira, mas rico em bondade e fidelidade. O salmo responsorial de hoje (Sl 86[85]) acentua exatamente esse tema da magnanimidade de Deus.

2. Evangelho (Mt 13,24-43)

A generosa paciência de Deus de que falamos é também o tema do evangelho. Em torno desse tema, Jesus bordou uma de suas mais eloquentes parábolas: a parábola do joio e do trigo. Quando, num campo, no meio do trigo, é encontrado o joio (erva ruim, cizânia), é muito imprudente extirpá-lo apressadamente, pois se poderia arrancar também o trigo. Melhor é ter paciência, deixar tudo amadurecer e, no fim, conservar aquilo que serve e queimar a cizânia. Deus é tão grande, que no seu Reino há espaço até para a paciência com os incrédulos e injustos. Ele é quem julga.
Assim como fez com a parábola do semeador (cf. evangelho de domingo passado), também aqui Mateus provê a parábola de uma explicação (v. 36-43). O tempo da Igreja é o tempo do crescimento. No último dia, o joio será separado do trigo. Nem todos os que estão na Igreja são realmente dela, são “eleitos” dignos do povo de Deus (cf. a parábola da rede, Mt 13,47-50).
Antes da explicação da parábola do joio, são inseridas algumas outras parábolas, de semelhante inspiração campestre (v. 31-33: o grão de mostarda e o fermento). Ambas se referem ao incrível crescimento do Reino de Deus. Há, porém, diferenças de acento. Na parábola do grão de mostarda, o enorme crescimento do Reino, incomparável com seu humilde início, dá uma impressão de amplidão, de expansão, de espaço. Na parábola do fermento, é a força interior que é acentuada: um pouco de fermento faz a massa crescer e dá gosto ao todo. Assim, o ouvinte vai combinando os diversos acentos, para que tenha uma percepção bem rica do mistério do Reino.
Nos versículos 34-35, o evangelista faz uma consideração sobre a pedagogia de Jesus. Não foi para confundir o povo que Jesus falou por meio de parábolas. Contudo, sua pregação confundia, de fato, os que achavam que sabiam tudo (cf. Mt 13,12-15, domingo passado). Ora, para quem quiser escutar cumpre-se, graças à pedagogia de Jesus, aquilo que o salmista havia anunciado muito tempo antes: revelam-se as coisas escondidas desde a formação do mundo (13,35, cf. Sl 78[77],2).
O tema principal para hoje é, pois, a grandeza de Deus, que tem lugar para todos, também para os pecadores, até o momento em que estes terão de decidir se aceitam a sua graça ou não. Mas como viver num mundo onde coexistem fé e incredulidade, justiça e pecado (muitas vezes, dentro da mesma pessoa e também dentro da Igreja)? Como aceitar as pessoas, sem aceitar seu pecado nem a estrutura pecaminosa de nosso mundo? São perguntas candentes, que podem ser meditadas à luz da paciência – não tanto “histórica”, mas antes escatológica – de Deus: a paciência de Deus não tem fim; o que tem fim é o nosso tempo…

3. II leitura (Rm 8,26-27)

A segunda leitura nos ensina algo sobre a “espiritualidade”. Para muita gente, espiritualidade é uma espécie de conquista de si mesmo, um treinamento, uma ascese – tanto que, antigamente, nos seminários e institutos religiosos, “ascese e espiritualidade” eram estudadas no mesmo tratado. Ora, espiritualidade cristã existe quando o Espírito de Cristo vive em nós, toma conta de nós. Isso nada tem que ver, de per si, com ascetismo, uma vez que o Espírito adota até a nossa fraqueza. Nós nem sabemos rezar como convém, mas “o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (v. 26). O Espírito Santo auxilia nossa fraqueza. Fé e esperança são antecipações daquilo que ainda não está aí (cf. Rm 8,24). Assim, nossa vida cristã é uma vida “a amadurecer”, por enquanto inacabada. O “sopro” (= “espírito”) de Deus, “adotando” nossa fraqueza, ajuda a alma a se desenvolver desde sua infância espiritual. O Espírito conhece os dois “abismos”: o ser de Deus e o coração humano. Como não temos bastante amplidão, seu soprar em nós é um gemido dirigido a Deus. No entanto, ele já nos faz ser santos. Portanto, o importante é deixar-nos envolver por esse Espírito e não expulsá-lo pela autossuficiência do nosso próprio espírito. O Espírito de Cristo é que consegue dar conta da nossa fraqueza; o nosso, dificilmente…

III. PISTAS PARA REFLEXÃO: paciência na evangelização

O evangelho de hoje (Mt 13,24-43) apresenta Jesus muito tolerante. Isso pode até desagradar a quem gostaria de um Jesus mais radical. A Igreja parece tão pouco radical… Por que não romper, de vez, com os que não querem acompanhar? Ou será que o radicalismo do evangelho é coisa diversa daquilo que imaginamos? Neste evangelho, Jesus descreve o Reino de Deus (o agir de Deus na história) em três parábolas. Na primeira, explica que, junto com os frutos bons (o trigo), podem crescer frutos menos bons (o joio, a erva ruim); é melhor deixar a Deus a responsabilidade de separá-los, na hora certa… Na segunda, ensina que o agir de Deus tem um alcance que sua humilde aparência inicial não deixa suspeitar (a sementinha). Na terceira, adverte que a obra de Deus, muitas vezes, é escondida, enquanto, invisivelmente, penetra e leveda o mundo, como o fermento na massa.
Nós gostamos de ver resultados imediatos. Somos dominadores e impacientes com os outros. Deus, ao contrário, tem tanto poder, que ele se domina a si mesmo… Não é escravo de seu próprio poder. Sabe governar pela paciência e pelo perdão (1ª leitura). Seu “reino” é amor, e este penetra aos poucos, invisivelmente, como o fermento. Impaciência em relação ao Reino de Deus é falta de fé. O crescimento do Reino é “mistério”, algo que pertence a Deus.
No tempo de Mateus, a impaciência era explicável. Os primeiros cristãos esperavam a volta de Cristo (a parusia) para breve. Hoje, já não é essa a razão da impaciência. A causa da impaciência, hoje, bem pode ser o imediatismo de pessoas aparentemente “superengajadas” – e podemos questionar se muito ativismo é realmente verdadeira generosidade a serviço de Deus ou apenas autoafirmação. É preciso dar tempo às pessoas para que fiquem cativadas pelo Reino, e a nós mesmos também. Isso exige maior fé e dedicação do que certo radicalismo mal compreendido, pelo qual são rechaçadas as pessoas que ainda estão crescendo.
Devemos ter paciência especial com aqueles que, vivendo em condições subumanas, não conseguem assimilar algumas exigências aparentemente importantes da Igreja: os jovens, as pessoas que “perderam a cabeça” (por causa das complicações da vida moderna urbana ou por causa da televisão, que pouco se preocupa em propor às pessoas critérios de vida equilibrada etc.). Devemos dar tempo ao tempo… e entrementes dar força ao trigo, para que não se deixe sufocar pelo joio.
Em nossas comunidades, importa cativar os outros com paciência. Fanatismo só serve para dividir. Moscas não se apanham com vinagre. Importa ter confiança em Deus, sabendo que ele age mesmo. Então, sentir-nos-emos seguros para colaborar com ele, com “magnanimidade”, com “grandeza de alma” (pois é assim que se deveria traduzir o termo “paciência”, tão desvirtuado…). Deus reina por seu amor, e o amor não força ninguém, mas cativa a livre adesão das pessoas.

Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e mestre em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Lovaina. Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Dedica-se principalmente aos seguintes assuntos: Bíblia – Antigo e Novo Testamento (tradução), Evangelhos (especialmente o de João) e hermenêutica bíblica. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A-B-C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje; Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da “Fonte Q”.
Fonte: Vida Pastoral em 20/07/2014

Reflexão

A PACIÊNCIA QUE EDIFICA

O papa João XXIII dizia: “A mansidão é a plenitude da força”. Essa frase parece condizer com a primeira parábola do evangelho deste domingo. O reino de Deus se manifesta na comunidade aberta e acolhedora, mas convive com os obstáculos espalhados pelo inimigo. O primeiro impulso da comunidade é eliminar o diferente e adverso, mas é alertada para que saiba coexistir com ele.
Em geral, somos exigentes com os outros, intolerantes com suas falhas e inclinados a justificar com facilidade nossas fraquezas. Até que não nos reconheçamos corresponsáveis pelo mal presente na comunidade e na sociedade, não nos converteremos nem experimentaremos a bondade e a gratuidade de Deus. O mal não está somente fora de nós; nosso coração, com frequência, abriga maldade, injustiça, corrupção, sonegação. Em cada terreno (coração humano) habita um pouco de trigo e um pouco de joio. Rezamos na Oração Eucarística V: “somos povo santo e pecador”. Não podemos, porém, nos resignar e deixar tudo como está. Contribuímos semeando a boa semente.
O projeto de Deus é um campo aberto que acolhe o trigo e o joio, o bem e o mal, os bons e os maus. A sabedoria do evangelho recomenda que a separação seja aguardada até a hora da colheita. O Mestre adverte os que querem antecipar a separação, os que não têm paciência e tolerância, os que querem fazer justiça com as próprias mãos e os que se classificam como bons e rotulam os outros de maus. À paciência de Deus devem corresponder a tolerância, a não violência, a compreensão e o respeito mútuo.
Jesus nos fala do diabo que “semeia o joio” na seara do Senhor, e hoje não é diferente: os inimigos estão infiltrados no meio do povo para tentar ludibriá-lo e desviá-lo dos bons propósitos. Em toda sociedade e em todas as organizações, encontramos os adversários do reino de Deus. São aqueles que, por exemplo, agem contra os projetos de promoção humana e as políticas públicas em favor dos mais pobres. É a luta constante entre o projeto de Deus e os projetos contrários ao seu reino.
Pe. Nilo Luza, SSP
Fonte: Paulus em 20/07/2014

Reflexão

PARA ALÉM DO BEM E DO MAL

O ser humano geralmente quer dividir pessoas, coisas, a vida, o mundo, em duas partes: o bem e o mal. Talvez seja uma forma simplificada de resolver a realidade, que na verdade é bem complexa. Não é fácil entender os fatos, muito menos as pessoas. É mais fácil criar rótulos, construir abismos intransponíveis entre pessoas e povos inteiros.
Para desconstruir esse tipo de mentalidade, Jesus ensina ao seu público por meio de parábolas. A parábola faz pensar. O Mestre se utiliza desse estilo expressivo para estimular seu público a pensar, a buscar os significados ou as lições para além do senso comum ou dos preconceitos.
Jesus ensinou muitas vezes assim. Usava imagens comparativas de acordo com a realidade de seu público. De modo simples e profundo, sua mensagem era acessível. Ele falava bonito, mas não queria ser celebridade, queria que todos o entendessem, compreendessem a mensagem do reino, a esperança que estava no meio deles.
O evangelho de hoje apresenta um bloco de três parábolas que ensinam sobre o reino de Deus. A primeira é a “do joio e do trigo”. O trigo representa o que é bom. O joio, a erva daninha, tudo aquilo que atrapalha. A segunda refere-se ao “grão de mostarda”, uma semente muito pequena, aparentemente insignificante. No entanto, esconde um segredo: traz em si a potência de uma grande árvore, de ramos frondosos e sombra agradável. A terceira é a do “fermento”, capaz de fazer a massa crescer, sem ostentação.
Por meio dessas parábolas, a comunidade cristã é chamada a olhar para a própria fé. A fé anda de mãos dadas com o amor. Sendo amiga íntima do amor, alimenta os mesmos sentimentos. Logo a fé não condena, não fica com o dedo em riste para apontar os defeitos dos outros. A fé corrige, mas também espera. Tem em seu horizonte a esperança. A fé age em sigilo, discretamente, feito um grãozinho de uma planta ou como o fermento, e de suas atitudes nascem frutos de vida feliz.
As parábolas de hoje são um ensinamento para a comunidade cristã descobrir a novidade do reino de Deus. É um apelo a não deixar esfriar o entusiasmo da fé. Cada discípulo deve se deixar guiar pelo exemplo compassivo e misericordioso de Jesus. O sentimento de vingança e a busca por fazer justiça com as próprias mãos não devem ser atitudes de quem segue Jesus. Ele perdoou a todos. Quem somos nós para apontar ou condenar o outro? A colheita pertence a Deus. Ele sabe a hora certa de colher os frutos. “Deixai crescer um e outro até a colheita!”
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Fonte: Paulus em 20/07/2014

Reflexão

Pistas para a reflexão

I leitura: O poder de Deus se mostra na capacidade de amar e perdoar.
II leitura: O Espírito Santo nos auxilia em nossas fraquezas e dúvidas.
Evangelho: Jesus nos ensina a ser pacientes e perseverantes na construção do reino.
Fonte: Paulus em 20/07/2014

Reflexão


“PACIÊNCIA” DE DEUS, A CIÊNCIA DA PAZ!

Leituras:
Sb 12,13. 16-19;
Sl 85 (86), 5-6. 9-10.15-16ª;
Rm 8,26-27;
Mt 13,24-43.

Situando-nos brevemente

Caros irmãos e irmãs, passada uma semana que ouvimos o Evangelho do semeador a Igreja insiste positivamente em nos apresenta modelos de “terra boa” aberta à Palavra semeada . Esta semana quatro grandes testemunhas do que pode o divino Semeador, rico em paciência, fazer em favor daqueles que abrem o coração, nos serão apresentadas na sagrada liturgia: terça-feira próxima celebraremos a memória de Santa Maria Madalena, a primeira discípula missionária do Cristo ressuscitado. Na sexta-feira 25 celebraremos a festa de São Tiago, chamado Maior; ele que foi testemunha da transfiguração intercederá em nosso favor para sermos, também nós, transfigurados em Cristo. E por fim, no sábado 26, celebraremos os santos Joaquim e Ana, pais da Bem-aventurada Virgem Maria.
Os santos são testemunhas da fé levada a última consequência, por isso a Igreja, desde tempos remotos, os introduziu na celebração do ministério pascal de Cristo. Assim como cada domingo, também esse, nossa Páscoa semanal, nos abre a possibilidade de nos encontrarmos mais uma vez na casa do Senhor, para sermos nutridos com o Pão da Palavra e da Eucaristia, elementos que nos dão forças para que também nós nos tornemos suas testemunhas até os pontos mais extremos da terra e da nossa existência.
Uns fazem esse percurso com mais rapidez e agilidade, outros com maior lentidão e dificuldades, alguns sob tantas dificuldades, outros com certa facilidade. O Senhor, que ‘sabe de que barro somos feitos’ (Sl,102), tem exercido a nosso favor uma paciência em saber esperar o tempo justo e o momento oportuno para colher nas nossas vidas o que ele tem plantado com o anúncio da palavra e com a vivência dos sacramentos. Foi sobre essa paciência divina que a liturgia da palavra nos falou hoje. Rememoremo-la.

Recordando a Palavra

Como dito domingo passado, o Evangelho deste XVI Domingo do tempo Comum, é continuação do capítulo 13 do Evangelho de São Mateus, e nos apresenta uma série de três parábolas: a do joio, a da semente de mostarda e a do fermento, ambas ditas por Jesus para ilustrar o modo de “entender” como se manifesta o Reino de Deus. Das três o texto de Mateus sublinha a primeira, para a qual “Jesus fez uma homilia”, explicando-a, em casa, aos seus discípulos, e dando-lhe sentido. Também a nós neste momento, como aos discípulos “ele nos abre e revela as Escrituras e parte o Pão para nós”.
Com essas três parábolas Jesus também traça a situação do reino espalhado pelo mundo, Dio qual a Igreja é um sinal. A parábola da semente de mostarda que “um homem pega e semeia no seu campo” e que, “embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”, indica o crescimento do reino sobre a terra. Uma semente pequena, lançada numa terra distante, árida, desértica, confiada a um pequeno grupo, se estende por toda a terra. Comparar o Reino com o fermento “que a mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”, equivale também a indicar o crescimento do Reino, não tanto em extensão, quanto mais em intensidade; indica a força transformadora do evangelho, que fermenta a massa dos batizados, a Igreja, fazendo-a transformar-se em pão/alimento/oferenda para a salvação do0s homens seus irmãos.
A parábola do joio é esclarecida, como já sublinhamos, pelo próprio Jesus: o homem que semeia a boa semente é Ele mesmo, o campo é o mundo, a “boa semente semeada são os que pertencem ao Reino”. O inimigo que veio semear a má semente enquanto todos dormiam, é o diabo. O trigo, fruto da boa semente e o joio, fruto da má semente, crescem juntos até o dia da colheita, identificado com o fim do mundo. Naquele se acolherá primeiro o joio, que são aqueles que “fazem os outros pecar e os que praticam o mal; depois de que os lançarão na fornalha de fogo”; e depois, então se colherá o trigo, os justos que “brilharão como o sol no Reino” dos céus. Os anjos farão essa colheita.
O Apóstolo Paulo na segunda leitura fala do Espírito Santo, que, “vem em socorro da nossa fraqueza”; ele que intercede por nós. Colocando-nos diante desse “divino personagem”, Paulo o apresenta a nós como aquele que foi enviado para nos ajudar a nos aproximarmos do “divino agricultor” com ânimo confiante na sua virtude por excelência: a paciência. A “paciência” é a “ciência da paz”, da qual o “divino agricultor” é o príncipe.

Atualizando a Palavra

O tema central da parábola do joio é a paciência de Deus. “A liturgia o sublinha com a escolha da primeira leitura que é um hino à força de Deus que se manifesta sob a forma de paciência e indulgência. A paciência de deus não é um esperar o dia do juízo para então punir com mais satisfação. Ele é verdadeiramente como canta o salmo responsorial, ‘clemente e fiel, amor paciência e perdão’”. O belo é que a paciência do patrão deve servir de modo aos servos.
Jesus ao inaugurar o reino não se apresenta como um juiz que vem para discriminar os homens separando-os por categorias de bons e maus. Ele não exclui ninguém do reino. “Todos são convocados, todos podem entrar nele. Por sua atitude durante toda a sua vida, Jesus encarna a paciência divina em relação aos pecadores. Nenhum pecado arranca o homem ao poder misericordioso do Pai. A vontade divina de perdão é ilimitada”. Tamanha generosidade e paciência têm certamente um pano de fundo ou uma força motriz, um segredo: o amor. Jesus ama aos homens como ele é amado pelo Pai. A universalidade do amor não permite distinções, ele, o amor convida e provoca uma perfeita reciprocidade. Para responder generosamente ao amor dado, uma reciprocidade de amor que seja plenamente verdadeira e livre, exige tempo. O amor com que os homens são amados por Deus em Jesus Cristo pode ser qualificado como amor paciente porque se constrói pouco a pouco, o seu percurso de construção é uma verdadeira aventura espiritual, onde “os avanços andam juntos com os recuos” e a gratuidade e o doar-se são parceiros constantes do egoísmo e o voltar-se sobre si.
Essa paciência amorosa de Jesus se manifesta plenamente na cruz, porque ele ama o homem até quando este está atolado em seu pecado, mesmo aí o amor é persistente e sobre a cruz manifesta-se vitorioso; como lembrou alguém, “nenhum pecado pode cortar irremediavelmente as pontes de comunicação com a força misericordiosa de Deus”.
Sendo a Igreja o corpo de Cristo, ela tem como missão primeira encarnar entre os homens a paciência de Cristo, o “divino semeador”. Ela não tem como missão separar ou “categorizar” os homens entre bons e maus. A sua missão verdadeira é aquela de revelar a fisionomia de Deus, a verdadeira fisionomia do amor. No seio da Igreja, que está no mundo, o trigo sempre estará misturado ao joio e entre essas duas categorias não existe uma clara linha que delimita espaço terreno. Não temos a capacidade de discernimento que seja correta e segura, a triagem não nos compete. Dentro de nós também coexistem trigo e joio, é preciso muito tempo, o tempo de Deus para um verdadeiro discernimento, que também esse não compete a nós. Importa sim que sigamos o conselho do sábio de que o “justo” seja humano (primeira leitura), ou seja, haja com humanidade para com os seus próximos, isto significa despojar-se do velho para passar a uma vida nova (depois da comunhão).
Um grande teólogo do século passado nos lembrou que “A Igreja é aqui na terra e permanecerá até o fim uma comunidade mista: trigo ainda na palha, arca contendo animais puros e impuros, embarcação cheia de maus passageiros que sempre parece a ponto de levá-la ao naufrágio... Os pecadores que não regeneram continuam a pertencer-lhe, e sabemos muito bem que eles são a imensa maioria. Sem viverem segundo o Evangelho, ainda creem, entretanto, por meio dela, no Evangelho, e este elo, que certamente não seria suficiente para construir a Igreja, é suficiente, mesmo que desabilita quase ao extremo, para que esses pecadores permaneçam seus membros, ainda que ‘enfermos’, ‘estéreis’, corrompidos’ ou ‘mortos’. A Santa Igreja os conserva com paciência. Quanto aos melhores de seus filhos, também eles estão a caminho da santificação, e sua santidade é sempre precária. Todos têm sempre que se refugiar da malícia do mundo, na misericórdia de Deus... Cada dia esta Igreja que nós somos, deve dizer sem exceção: “Perdoai-nos as nossas ofensas’ (Mt 6,12), cada dia ela deve implorar a força e a compaixão do seu Salvador. “Cada dia desta terra é pra ela um dia de purificação; cada dia deve lavar sua veste no sangue do Cordeiro, ‘até que seja purificada pelo fogo do céu e consumada em Deus’”.

Ligando a Palavra com a ação eucarística

Na coleta desta missa imploramos a Deus: “sede generoso para com os vossos filhos e multiplicai em nós os dons da vossa graça”, isto é, lhe pedimos que usasse de paciência para conosco, que redobrasse o amor para conosco, que os dons da sua graça fossem em nós multiplicados. O dom maior da sua graça é Jesus Cristo que neste altar vem se fazer comunhão. A Oração Eucarística IV faz memória do Evangelho de São João ao proclamar que Jesus sabendo que chegara a hora de ser glorificado pelo Pai “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” Esse amar-nos até o fim é o sinal de que ele não se desespera de nós, não nos despreza na nossa constante mutação e metamorfose trigo/joio.
Eis que a Eucaristia que receberemos, saída deste altar é a prova concreta do seu amor que não nos obriga não nos aprisiona, não nos constrange, porque é ele quem livremente se aprisiona sob a forma de pão e de vinho e por seu aprisionar-se nos liberta das nossas amarras para respondermos com generosidade e gratuidade o seu amor. A Eucaristia, abolindo classificações e categorias, se dá a todos os que dela se aproximam com coração reto e purificada intenção. Dá-se indistintamente a quem vier à sua presença com as mãos estendidas, porque se estão estendidas é sinal de que estão vazias e de tudo e se elevam para serem preenchidas do Tudo.

Sugestões para a celebração

O rito da apresentação das oferendas é cheio de profunda significação para toda a ação litúrgica. Ele é oração antes de tudo pelo gesto e depois pelo conteúdo do que se é apresentado porque mais tarde se torna Salvação.
Dependendo das disposições da comunidade seria interessante enriquecer esse momento ritual com elementos do Evangelho que “significam” isto é que representam a Igreja, tais como espigas de trigo, um grande e substancioso pão fermentado, grãos. Esses “símbolos” podem ser trazidos processionalmente e organizados de maneira visível ao pé do altar.
Uma atenção toda especial poderia se dar ao Cântico para a Apresentação das Ofertas.
Fonte: Emanarp em 20/07/2014

Reflexão

A demora na realização das promessas de Deus possibilita aos discípulos e a nós, entrarmos em crise. Percebendo essa situação, Jesus conta para eles e para nós, a parábola das sementes.
A Palavra de Deus é, em si mesma, boa e, se bem apresentada, produzirá muitos frutos; mas isso não depende só da Palavra; depende também das diversas situações em que se encontra o terreno onde ela é depositada, isto é, das diversas respostas.
A Palavra é oferecida e exatamente por ser oferecida, conserva em si todo o risco da negligência, do descaso, da não aceitação, da oposição.
De acordo com a parábola, ela poderá ser comida pelos pássaros, poderá cair entre as pedras e não criar raízes e, finalmente, poderá cair entre os espinhos e morrer sufocada.
Vamos refletir sobre cada um desses alertas feitos por Jesus. O primeiro se refere à semente que pode ser ciscada pelos pássaros. É o nosso medo do sofrimento, em relação ao caminho da cruz, tantas vezes abordado por Jesus e a busca incessante de realizações, de êxito. É como aquela pessoa que vê na possibilidade de exercer um serviço eclesial, como uma ocasião de prestígio, de ter status.
A semente que caiu entre as pedras e não criou raízes, representa aqueles que só externamente aceitaram a Palavra. Ela não foi aceita com profundidade. Teme-se que a adesão a Cristo seja ocasião de constrangimento, de envergonhar-se.
A que caiu entre os espinhos é a semente sufocada, imagem de muitíssimos cristãos. As preocupações da vida presente, a atração exercida pelo ter, pelo poder, pelo possuir, pelo ganhar se impõem, são obstáculos para o acolhimento da Palavra.
A Palavra não é ineficaz, mas falta o acolhimento. A Palavra se adapta às condições do terreno, ou melhor, aceita as respostas que o terreno dá e que com freqüência são negativas. É necessário preparar o terreno, os corações, para que percam o endurecimento causado pelos ídolos das ideologias, do consumismo, do dinheiro, do prazer, das demais riquezas.
Se o terreno, se os corações forem trabalhados pela simplicidade, pela autenticidade, pela educação libertadora daqueles ídolos, a Palavra descerá qual chuva fina, penetrando a terra e fazendo a semente frutificar.
Fonte 2014-07-19 Rádio Vaticana
Fonte: Liturgia da Palavra em 20/07/2014

Reflexão

Aos camponeses da Palestina, Jesus continua seu ensinamento sobre o Reino de Deus por meio de parábolas. O texto de hoje nos põe diante de três delas: o trigo e o joio, a semente de mostarda e o fermento. A primeira – o trigo e o joio – recebe uma explicação do próprio Jesus aos discípulos, como aconteceu com a parábola da semente. Essa parábola pode nos surpreender quando pensamos o Reino de Deus como algo fora da realidade, situado talvez no além. A parábola mostra que a comunidade não é formada por anjos, mas é uma mistura de pessoas mais ou menos santas e pecadoras. A tentação dos discípulos talvez seja nossa também: extirpar o joio. A tentação farisaica de separar “bons” e “maus” é combatida pelo Mestre. Ele convida à paciência e condena o julgamento precipitado, pois o julgamento seletivo cabe a Deus no dia da colheita. Além do mais, cada um é um pouco trigo e um pouco joio. Quando nos consideramos melhores que os outros, podemos nos tornar odiosos e intolerantes.
Oração
Senhor Jesus, o Reino de Deus não é um filme de ficção a que assistimos para chorar no final, aplaudir ou desprezar. Ele nos pede uma decisão. Por isso, te rogamos, Senhor, que nos mantenhas alertas, ao longo de nossa vida, e envolvidos com a prática da justiça e da misericórdia. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))

Comentário do Evangelho

SUPORTANDO A CONTRADIÇÃO

A parábola do joio e do trigo mostra como devemos, na vida, suportar a coexistência do bem e do mal. É impossível realizar uma clara separação entre eles. A ação concomitante do senhor do campo, semeando a boa semente, e a do seu inimigo, semeando a erva daninha, é inevitável. É preciso contar com esta eventualidade!
Os discípulos foram alertados quanto à tentação de querer arrancar a erva daninha, deixando crescer somente o trigo. Seria arriscado, pois juntamente com a erva má, arrancar-se-ia também a boa. O prejuízo desaconselha uma tal providência.
Diante desta situação, a atitude correta consiste em ter paciência, misericórdia e esperança. Paciência,porque, no final das contas, ficará patente a identidade do bem e do mal, embora, num determinado momento, parecessem semelhantes. Além disto, fica sempre aberta a possibilidade de conversão do pecado para a graça, pois a ação de Deus, no coração humano, supera o nosso entendimento. Misericórdia,porque o discípulo do Reino é chamado a acolher os pecadores, com a mesma benevolência do Pai, sem pretender excluí-los dos benefícios do Reino. Trata-se de uma luta constante para libertá-los da escravidão à qual foram reduzidos pelo pecado. Sem misericórdia, este processo de aproximação será inviável.Esperança, porque o mal está fadado a ser derrotado. Pela força de Deus, o bem terá a última palavra na história humana.
Oração
Espírito de esperança, encha o meu coração de paciência e de misericórdia que me permitam viver as contradições da história, confiante na vitória do bem.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Ó Deus, sede generoso para com os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Dom Total em 20/07/2014

Meditando o evangelho

O TEMPO DA MISERICÓRDIA

A parábola do joio e do trigo oferece uma chave de compreensão da história humana. Para os que desejam um mundo expurgado de toda maldade, onde impere a justiça e o amor seja o parâmetro das relações interpessoais, o Evangelho ensina que deverão conformar-se com a coexistência de bons e malvados, puros e pecadores, justos e injustos. Ademais, até no coração dos bons, dos puros e dos justos existem elementos de maldade, de pecado e de injustiça. E, na direção inversa, no coração dos malvados, dos pecadores e dos injustos, sem dúvida existem elementos de bondade, de pureza e de justiça. A coexistência destes dois tipos de elementos é inevitável. É a ambigüidade da história e da realidade humana!
O discípulo do Reino deve convencer-se que a História é o tempo da misericórdia. Tempo de acolher os pecadores e de propor-lhes o caminho da conversão. Assim agiu Jesus! Para escândalo de seus adversários, seu ministério consistiu em solidarizar-se com os que viviam longe do Reino, a fim de atrai-los para Deus. Recusou-se, peremptoriamente, a assumir a postura de juiz, como queriam os que já se tinham na conta de salvos. Contra estes, sim, foi implacável.
O discípulo do Reino imita a benevolência e a misericórdia do Mestre. Longe de pretender fazer-se juiz dos pecadores, esforça-se por fazê-los voltar para Deus.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Pai, enche de misericórdia o meu coração para que, como Jesus, eu me solidarize com os pecadores, e procure atraí-los para ti.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. JOIO, TRIGO E A PACIÊNCIA...
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Não há no calendário da igreja, pelo menos não tenho conhecimento, de uma santa com o nome de Paciência, apesar disso, ela é muito invocada pelas pessoas, quando alguém faz algo de errado, “Tenha Santa Paciência!” eu cresci ouvindo essa expressão que acho bem interessante e oportuna para a reflexão deste evangelho pois o homem paciente é aquele que sabe esperar, empenhando-se em construir algo novo, acreditando que o seu trabalho dará resultado, ainda que os frutos só sejam colhidos pelas gerações futuras.
O Reino de Deus não cai do céu já pronto, e nem acontece no imediatismo, mas como em um gigantesco quebra-cabeça, cada peça vai sendo colocada, até que no final iremos todos ver uma belíssima obra, e, das comparações que Jesus fez sobre o reino, a mais fiel é a parábola da semente, algo que precisa ser plantado, cuidado, cultivado, para poder germinar, e depois de germinado tem de ser muito bem conservado e mantido, ou seja, a edificação do reino é algo permanente em nossa vida, que um dia, na visão beatífica iremos contemplar e poder admirar toda sua beleza, e ainda mais, sentir uma imensa alegria ao perceber que ajudamos a construí-lo.
Mas quem é que planta uma semente hoje e espera que amanhã ela já brote e se transforme em uma planta? É preciso não ter pressa, nem para ver a semente germinar, nem para colher os frutos, que se arrancados da árvore fora de tempo, não estarão maduros e nenhum prazer trará a quem o comer. Eis o grande mal que afeta a relação entre as pessoas, nos dias de hoje: a falta de paciência! Talvez como conseqüência da relação homem versus máquina, dos avanços da tecnologia e da informática, que nos permite no toque de uma tecla, ver ou ter de imediato, aquilo que se quer, não se faz mais nenhum esforço para abrir um portão, que é eletrônico, acender um fogão, ligar a TV ou mudar de canal, sem levantar-se do sofá, e até controle eletrônico para o som do carro, o que eu acho um absurdo.
E assim, acabamos transportando para a relação com as pessoas, esse imediatismo, quando queremos resultados, ou mudanças de comportamento, as grandes empresas investem largamente em cursos de treinamento, porque querem resultado imediato na linha de produção.
Mas as pessoas não são máquinas, programadas para nos atender, elas tem autonomia, são movidas por sentimentos, emoções, temperamento, estão sujeitas a fraquezas, pequenos enganos ou erros atrozes, são volúveis, capazes de amar e odiar, ao mesmo tempo, o homem é um mistério, um verdadeiro Fenômeno, como define o conteúdo da obra de Pierre Teilhard de Chardin. E diante de toda essa complexidade humana, em Jesus descobrimos que o Pai nos ama, e que o seu amor é paciente, compassivo, tolerante e sabe esperar, confiando no ser humano, quando o chama para viver a vocação do amor.
Entretanto, embora alcançado pela graça de Deus, o homem não consegue refletir para o semelhante essa imagem e semelhança, com Aquele que é a essência do puro amor, pois a impaciência, a intolerância e o radicalismo, acaba prevalecendo em lugar do amor que tudo suporta e tudo crê, falta paciência com os pais, com os idosos, com as crianças, com os enfermos, com os pobres, com a esposa, com o esposo, com os netos, com os alunos, com a equipe de trabalho, com os que são diferentes, no aspecto cultural, econômico, político, religioso, onde fazemos, de simples adversário um inimigo mortal.
O que Jesus nos pede neste evangelho é justamente isso, a paciência de crer e saber esperar o novo reino, ajudando a construí-lo no meio dos homens, com todo empenho, dedicação e seriedade, o verdadeiro cristão jamais pode ser radical ou imediatista, pois seria ingenuidade desejar fazer acontecer o reino á toque de caixa, na família, na comunidade, no trabalho, na escola ou na política, infelizmente ainda há muitos cristãos que se sentem frustrados por não ver resultado do seu trabalho, são aqueles que não aceitam que haja joio em meio ao trigo, fecham-se em seus grupos, suas comunidades, seu pequeno mundo, e são sempre impulsionados a querer arrancar o joio de suas relações, ignorando que a palavra de Deus e a verdade do evangelho, quando testemunhadas de maneira autentica, tem poder sim, para transformar qualquer joio em trigo, resultado da obra da salvação, desejada por Deus e realizada plenamente por Jesus através da sua igreja.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP

2. Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? - Mt 13,24-30
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)

Para brilhar, o justo deve ser “humano”, lemos no Livro da Sabedoria. É humano aquele que ama o seu próximo, que também é humano.
No Evangelho de hoje, o proprietário do campo e seus funcionários têm força e poder para arrancar a erva daninha, mas não o fazem. Poderão arrancá-la a qualquer momento, mas pacientam, dão tempo ao tempo, pois o tempo não poupa o que se faz sem ele. Assim também aos agentes do poder demoníaco se concede tempo para uma verdadeira conversão, até que o tempo se esgote. A concessão, porém, não é inerte, pois o “Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” e nos desperta. O joio foi semeado enquanto dormiam. O Espírito nos desperta e nos torna vigilantes. Não protegemos o trigo isolando-o. Estamos, porém, atentos para que a proximidade do joio não o corrompa.
O fermento não vai sozinho à massa, mas conta com nossas mãos que sabem que o Reino cresce como a semente de mostarda. Jesus fala em parábolas, pequenas histórias que ajudam a perceber o que é o Reino dos Céus, das quais você tira conclusões. Muitas vezes a parábola contém uma crítica que o bom entendedor entende. Ele sabe que o que está sendo dito é para ele ou para o seu grupo de pensamento e comportamento. A parábola contém um chapéu que cabe na cabeça de alguém. Ao bom entendedor, meia palavra basta. Em que cabeça entra o chapéu? A crítica está feita e se refere aos agentes do diabo, que favorecem os escândalos e a desintegração da sociedade. No fim dos tempos, estes serão punidos, enquanto os justos brilharão como o sol no Reino do Pai. Mas, para brilhar, o justo deve ser humano.
O capítulo treze de São Mateus é o capítulo das parábolas. Elas nos dizem com que podemos comparar o Reino dos Céus. Não é uma forma didática de se dizer as coisas com mais clareza, pois Jesus falava em parábolas para os de fora e explicava tudo em particular para os seus discípulos. Na realidade, a parábola é polêmica e precisa de explicação, porque sua crítica tem destinatários e não atinge a todos.

Homilia do 16º Domingo do Tempo Comum, por Pe. Paulo Ricardo


A paciência de Deus

O Evangelho escrito por São Mateus é dividido em cinco grandes sermões: o primeiro é o “sermão da montanha” (5-7); o segundo, o chamado “sermão da missão” (10), é o em que Ele envia os apóstolos para evangelizar; o terceiro é o “sermão das parábolas” (13); o quarto, o “sermão eclesiástico” (18); e o quinto, o “sermão escatológico”, é o em que ele fala das últimas realidades. Com esses discursos, Jesus é apresentado como o “novo Moisés”, ou melhor, como realização daquilo de que Moisés era somente a promessa. É sabido que “o Senhor falava com Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo” [1]. Isso, no entanto, era uma pequena amostra do que seria, na plenitude dos tempos, a encarnação do Verbo. De fato, “ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” [2].
Ao falar em parábolas, como faz no capítulo 13 de São Mateus, Nosso Senhor lança mão de um recurso pedagógico que, ao mesmo tempo em que revela, deixa algo escondido. É um pouco do que experimentamos quando nos apresentamos diante de Deus: ao mesmo tempo em que Ele é extremamente simples, é-nos profundamente misterioso.
A parábola com que Jesus encerra o Evangelho deste Domingo é a famosa passagem do joio e do trigo. Interessa-nos, sobretudo, a sua explicação:
Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifeiros são os anjos. Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos, e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.”
Ao dizer que se deve deixar crescerem juntos o joio e o trigo, até a colheita, Jesus aponta para a onisciência divina, que já sabe quem se vai salvar e quem será condenado. Se, no entanto, isso é claro aos olhos de Deus, permanece uma incógnita para nós: assim como o joio e o trigo são plantinhas pequenas e muito semelhantes, neste mundo, é tarefa árdua distinguir os bons dos maus, sendo necessário, para isso, esperar o “tempo da colheita”, que “é o fim dos tempos”.
Por isso, a grande protagonista dessa parábola é a paciência de Deus. Em Sua misericórdia, o Senhor contraria a pressa dos homens – como a dos filhos de Zebedeu, que perguntaram a Jesus se não queria que mandassem “fogo do céu” para destruir os ímpios [3] – e deixa que o joio e o trigo cresçam juntos. Como diz São Paulo, “Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” [4].
Também São Pedro recorda que a paciência divina é, para todos nós, fonte de salvação: “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” [5]. As demoras de Deus são sinais da Sua benevolência, da grandeza do Seu coração, que “não deseja que ninguém se perca”. A virtude da paciência consiste nisto: em carregar um fardo, um peso sobre as costas. Não foi justamente o que fez Nosso Senhor, ao carregar o fardo de nossos pecados e o peso da Santa Cruz? Não foi justamente a atitude do pai da parábola do filho pródigo, que esperou pacientemente a volta de seu filho mais novo, chegando a fazer uma grande festa com sua chegada?
Muitas vezes, comportamo-nos, diante dos maus, como aquele filho mais velho, enciumado com o amor do pai por seu irmão rebelde. Diante das injustiças, somos tomados pelo espírito de Tiago e João e queremos invocar a justiça divina... Mas, estamos realmente seguros de estar do lado do trigo? Se Nosso Senhor voltasse hoje para a colheita, não seríamos os primeiros a ser lançados no inferno, nós, “a quem muito foi dado” e, portanto, muito será exigido [6]?
A parábola do joio e do trigo é, na verdade, um resumo de toda a história da salvação. O Senhor desposa o Seu povo com uma aliança de amor, à qual é integralmente fiel; em troca, no entanto, só recebe infidelidades e prostituição. E, ao invés de assinar o libelo de divórcio, Ele é paciente e continua a amar-nos, mesmo em nosso egoísmo e amor-próprio desordenado. É que, como canta o Apóstolo, “o amor é paciente, é benfazejo; (...) não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido (...). Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” [7].

Santa Faustina Kowalska escreve:
Quando uma vez perguntei a Jesus como pode suportar tantos delitos e diversos crimes e não os castigar, respondeu-me o Senhor: – Para os punir, tenho a eternidade, por agora prolongo-lhes o tempo da Misericórdia (...).” [8]
Vivamos sob a luz dessa caridade, dessa misericórdia infinita de Deus. E, quando formos tentados a perder a paciência com os outros, lembremo-nos de somos objeto da paciência divina.

Referências:
Ex 33, 11.
Jo 1, 18.
Lc 9, 54.
1 Tm 2, 4.
2 Pd 3, 9.
Lc 12, 48.
1 Cor 13, 4-5.7.
Diário, 1160.
Fonte: Reflexões Franciscanas em 20/07/2014

HOMILIA

O PAPEL DO DIABO É SEMEAR O JOIO

São três as parábolas narradas no evangelho de hoje: o joio, a semente de mostarda e o fermento. Todas elas oferecem um aspecto particular ou qualidade do Reino.
A palavra parábola vem do grego cujo significado é pôr junto duas coisas, é comparar. A definição popular é que é uma história terrena que demonstra uma verdade celestial. Difere do conto ou da fábula em que a história da parábola pode ter sucedido ou pode ser real em qualquer momento futuro; e o conto ou a fábula, não.
O joio é uma planta muito parecida com o trigo antes de se formar a espiga.
A espiga do joio é muito mais fina do que a do trigo e frequentemente está infectada com fungos que a tornam negra e venenosa. Também a própria gramínea tem, como o esporão do centeio, um componente venenoso. O joio só se distingue do trigo quando a espiga amadurece, sendo que a espiga do joio é formada por grãos pretos como de carvão.
O termo de comparação das três parábolas é o Reino dos céus. Apesar do título dos céus, ele tem como assento a terra, não no sentido geográfico, mas humano, por isso é mais exato traduzi-lo por Reinado. O povo que o forma não é o conjunto dos bem-aventurados do céu, mas refere-se à Igreja da terra, formação visível da comunidade dos fiéis que escolheram Jesus como seu Senhor e que estão misturados no campo do mundo com pessoas que não são crentes ou têm outras ideologias, sem descartar que dentro da Igreja podem existir também os escandalosos e os que praticam a iniqüidade. Pois na explicação dada por Jesus aos discípulos ele transforma a parábola em alegoria.
Jesus se identifica com esta figura que pode substituir a palavra o Filho do Homem.
Os judeus usavam pois, a frase filho do homem para se referir a si mesmos. Porém existe um significado que caracteriza a expressão através do uso de Jesus em conformidade com Daniel 7, 13. Filho do homem era a figura de Israel como reino a ser instaurado definitivamente com a vinda do Messias que era o representante máximo do mesmo. Podemos afirmar que o filho do homem é o Verbo enquanto homem, ou seja Jesus tal e como era visto e contemplado por seus conterrâneos.
Nas três parábolas com as quais se compara o Reino: A do joio é própria de Mateus sem que encontremos um paralelo nos outros evangelhos. Somente em 1 João 3, 10 encontramos a oposição entre filhos de Deus e filhos do Diabo. Estes são os que não praticam a justiça e não amam o seu irmão. A explicação da parábola revela, em parte, o mistério da iniquidade de que fala Paulo em 2Ts 2, 7. Esta iniqüidade é o fruto de rejeitar a lei ou de ignorá-la e pode ser traduzida por maldade ou perversidade. Quem é o promotor dessa iniquidade é o Maligno, o Diabo. Nele nasce a maldade e oposição ao Reino.
Porém existe o mistério de por que Deus permite o mal e de como combater o mesmo. Sendo Todo Poderoso e Bondade Infinita, como Ele permite que o mal triunfe de modo a parecer que a parte maligna aparece ser tão forte como a parte que Jesus chama dos filhos do Reino? Por isso existem ideologias em que ao Deus do bem se opõe o deus do mal. Ou será que Satanás é tão forte como Javé? No livro de Jó ela dá uma resposta parcial quando da instigação de satanás, Javé permite a experimentação do justo com a única exceção da vida.
Seria melhor chamar de mistério da Bondade ao que se acostuma expor como mistério da iniquidade. Perguntar a Deus por que não destrói o mal é o mesmo que perguntar ao Pai por que não mata o filho rebelde. Deus espera que se torne pródigo e volte um dia arrependido para a casa que sempre será seu lar. Na realidade, aqueles que agem na anomalia estão dissipando os seus bens. Não sabem o que fazem, dirá Jesus. O joio não se distingue do trigo assim como uma árvore estéril não se distingue de uma boa a não ser na época dos frutos.
Deus é o pai que faz com que o Sol nasça também para os maus e a chuva fertilize os campos dos incrédulos. No fim e unicamente no fim a sua justiça acompanhará em parte a sua misericórdia. Para os que receberão uma eternidade de dor, é justo que recebam uma vida temporal cheia de triunfos e alegrias. Como Jesus disse na parábola do pobre Lázaro, os papéis serão invertidos. Lembra-te que tu recebeste os bens e Lázaro pelo contrário só os males.
A influência do Diabo é a de semear o joio: propagar que a única maneira de alcançar a felicidade é saber viver na abundância e no prazer, pois não existe o além a quem tenhamos que dar contas de nossas condutas. É difícil diante desse programa de vida pregar uma existência de sacrifício e renúncia, como Jesus pede a seus discípulos. Por isso o mal se converte em bem aparente e o verdadeiro bem está oculto aos olhos da multidão.
Livra-me Senhor desta semente e abra-me as portas da boa semente que é o Filho do Homem!
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
Fonte: Liturgia da Palavra em 20/07/2014

REFLEXÕES DE HOJE

19 DE JULHO-DOMINGO


HOMILIA

Precisamos transformar o joio que há no mundo em trigo bom

Nós precisamos transformar cada vez mais o joio que há no mundo no trigo bom, na boa semente do Reino de Deus!

“Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino de Deus. O joio são os que pertencem ao maligno” (Mateus 13, 37-38).

A parábola do joio e do trigo nos ajuda a compreender melhor o mundo em que nós vivemos, porque, de fato, olhamos para o mundo em que nós vivemos e vemos que há o bom trigo de Deus. Graças a Deus por isso! Quantas pessoas boas, quanta gente com o coração generoso, quanta gente convertida a Deus, servindo a Deus de coração sincero; quantas famílias renovadas, curadas e libertas!
O Reino de Deus está acontecendo, os santos não estão somente no passado; os santos de Deus vivem no meio de nós, hoje, graças a Deus! Quando escuto essa palavra e olho a boa semente do trigo, eu olho para tantas mães virtuosas, mulheres maravilhosas, muitas vezes, podadas pelos sofrimentos da vida, que exemplo e que santidade! Da mesma forma, eu olho para tantos homens bons de coração, incapazes de fazer o mal.
Nós precisamos exaltar e reconhecer tantas virtudes que existem no meio de nós; quantos jovens lutando para viver a santidade e colocar em prática a Palavra de Deus. Quanta gente levando a bondade para o coração dos homens; é o trigo de Deus no meio de nós.
Mas nós não podemos ser ingênuos e não percebermos que também existe o joio no meio de nós, existe muita maldade, existem muitas pessoas que semeiam a discórdia; existem muitas pessoas que semeiam o mal e corrompem os outros para fazer o mal. Existem muitas pessoas que se tornam, infelizmente, um sinal do mal no meio de nós e nem é preciso enumerar as tantas obras e inúmeras maldades que cometem. E não pense que isso é lá fora, no mundo, até dentro da própria Igreja e onde estamos isso acontece.
E alguém pode perguntar: “Por que Deus não faz nada? Por que Deus não pega todo o joio, queima-o, separa-o e o joga fora?. Porque no Reino de Deus o joio pode se transformar em trigo, o joio pode se converter e pode mudar de vida. E a função de quem é trigo, de quem tem o trigo de Deus no seu coração, é querer contagiar os joios deste mundo.
Infelizmente, muitas vezes, acontece o contrário: os que são do bem se deixam levar pelo mal; vacilam, são fracos. Mas hoje a Palavra de Deus, semeada em nosso coração, quer fortalecer o bem que há em nós e nos dar a esperança e, ao mesmo tempo, a convicção de que nós precisamos transformar cada vez mais o joio, que há no mundo, no trigo bom, na boa semente do Reino de Deus!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 20/07/2014

Oração Final
Pai Santo, que colocaste em nosso coração a semente do teu Reino de Amor como um grão de mostarda, coloca em nós também, o teu Espírito para que saibamos acolhê-la com carinho e levá-la até a maturação de seus frutos de Amor. Pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 20/07/2014

ORAÇÃO FINAL
Pai misericordioso, que o encantamento pelo teu Reino e o Amor vivido por Jesus de Nazaré sejam a inspiração e a força para a nossa caminhada entre as maravilhas desse mundo que nos emprestas para cuidar, usufruir e partilhar. Faze que sejamos para os nossos irmãos, sinais vivos de tua Presença Paternal. Pelo mesmo Jesus, o Cristo teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.

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