20 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
Jesus reinterpreta a prática do
jejum
O
objeto da controvérsia é o jejum, seguido de dois ditados sapienciais sobre o
velho e o novo. Jesus é interpelado sobre o comportamento dos seus discípulos,
comparando-os com os discípulos de João e o dos fariseus. Em todo o Novo
Testamento não temos nenhuma informação acerca do jejum praticado pelos
discípulos de João; dos fariseus, é Lucas quem nos informa que eles jejuavam
duas vezes por semana (cf. Lc 18,12). A Lei de Moisés prescrevia o jejum uma
vez por ano, no dia do perdão dos pecados (Lv 16,19-30). Que jejum é objeto da
controvérsia? Certamente, não se trata do jejum prescrito pela Lei, mas de uma
prática ascética individual ou de grupos (cf. 2Sm 12,21; 1Rs 21,27) e que os
fariseus impunham se estendesse como prática para todas as pessoas. A controvérsia
é a ocasião de afirmar a centralidade de Cristo, o “noivo”. Agora, nessa nova
etapa da história da salvação, é a ele que a prática do jejum se refere.
Somente quando o noivo for tirado, alusão à morte de Jesus, é que será o tempo
de jejuar. Os dois ditados sapienciais revelam a incompatibilidade entre o
velho e o novo; mais precisamente, a rigidez farisaica na prática da Lei e a
surpresa de Deus inaugurada na história da humanidade pela presença de Jesus;
novidade essa que recoloca a Lei no centro da prática da misericórdia.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
Reflexão
Em todas as épocas, as pessoas sempre
valorizaram as práticas religiosas, e, entre essas práticas, o jejum. Na época
de Jesus, não era diferente. Por isso, os fariseus procuram Jesus e o
questionam sobre a prática do jejum por parte dele e dos seus discípulos. Jesus
nos mostra que as práticas religiosas só têm sentido enquanto são manifestações
do relacionamento que temos com Deus, e que o Novo Testamento apresenta essa
grande novidade em relação ao Antigo. Assim, percebemos que Jesus veio nos
trazer algo realmente novo, e não apenas colocar rótulos novos nas coisas
velhas que já existiam antes da sua vinda ao mundo.
FONTE: CNBB
21 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
O descanso sabático
Talvez o descanso sabático seja uma das controvérsias mais
recorrentes no confronto de Jesus com os seus opositores. Há, no Antigo
Testamento, duas tradições no que concerne ao sábado (Ex 20,8-12; Dt 5,12-16).
Essas duas tradições oferecem o espaço para a discussão entre Jesus, os
fariseus e os doutores da Lei. Curiosamente, Dt 23,26, mesmo sem mencionar o
sábado, permite ao viajante, entrando na plantação de um outro, arrancar as
espigas e comer dos seus grãos para saciar a fome. Para os fariseus, essa
atitude, no dia de sábado, era considerada trabalho, o que a Lei interditava.
No entanto, mesmo sendo sábado, é a preservação da vida que está em jogo. A
resposta de Jesus, evocando a atitude de Davi (1Sm 21,1-10), um exemplo de peso
para os judeus, revela que a atitude dos seus discípulos contava com o
consentimento do Mestre. O que justifica a atitude de Davi e a sua
“transgressão” da lei é a fome e a necessidade de preservar a vida em boas
condições. Ora, o sábado é dom de Deus (cf. Ex 16,29), oferecido para que o
povo pudesse fazer a memória de sua escravidão e de sua libertação do Egito
(cf. Dt 5,15), a fim de que não fosse, nunca mais, prisioneiro, inclusive da
mentalidade de escravo. Exatamente por isso, o sábado é para o Filho do Homem
ocasião privilegiada de manifestar a fé na vida e o dom da salvação.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
Reflexão
Novamente entra
em discussão a questão das práticas religiosas. O evangelho de hoje nos
apresenta a questão do legalismo religioso e da verdadeira finalidade da
religião. Muitas vezes, vemos que as religiões estão muito mais fundamentadas
em proibições do que em motivações e na criação de novos relacionamentos das
pessoas com Deus e das pessoas entre si. O resultado dessa mentalidade é que a
religião se torna cada vez mais uma coisa odiosa e insuportável, e Deus aparece
não como um Pai amoroso, mas como um carrasco autoritário. A verdadeira
religião é aquela que cria valores e leva as pessoas à maturidade em todos os
sentidos para que livremente possam optar por Deus.
FONTE: CNBB
22 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
Jesus revela a face de Deus
Trata-se da última disputa nessa seção denominada de “controvérsias
galileanas”. Uma vez mais, o objeto da controvérsia é o descanso sabático. Os
opositores de Jesus estão sempre à espreita com intuito de pegá-lo e eliminá-lo
(cf. 3,1.6). Efetivamente, a compreensão e a prática da Lei por parte de Jesus
são tão desconcertantes que, para uma mentalidade da estrita observância da
Lei, só há a certeza de que o outro está “fora da lei” e blasfema. Para um
homem de fé, instruído na Lei, a alternativa vida ou morte não é sequer
razoável (cf. Mc 3,4); ela contradiz a Lei cuja finalidade última é preservar o
dom da vida e da liberdade. O silêncio dos opositores de Jesus diante da
pergunta leva o narrador do evangelho a concluir que a resistência deles se
devia à esclerocardia (= “dureza de coração” – v. 5). Esse fechamento extremo
impede de reconhecer o tempo messiânico (cf. Is 35,3ss). O autor do evangelho
antecipa o motivo da condenação e morte de Jesus (cf. Mc 3,6). Essa antecipação
fez com que muitos comentaristas considerassem o evangelho de Marcos como um
grande relato da paixão e morte do Senhor.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
Reflexão
A vivência
legalista e proibitiva da religião é uma das maiores manifestações da dureza de
coração que pode acontecer na vida das pessoas. Quando isso acontece, as
pessoas não são capazes de descobrir os valores que devem marcar o nosso
relacionamento entre nós mesmos e entre nós e o próprio Deus, e a religião
acaba por se tornar um mero cumprimento de obrigações e de ritos, numa
verdadeira bruxaria. Esta forma de religião acaba por ter como um dos seus
principais fundamentos a relação de poder, o autoritarismo e a estratificação
social a partir da fé das pessoas. É por isso que as autoridades do tempo de
Jesus procuram descobrir a maneira como haveriam de matá-lo.
FONTE: CNBB
23 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
Perspectiva universal da missão
de Jesus
Trata-se de um sumário que, ao mesmo tempo, sintetiza e amplia a
atividade de Jesus. Jerusalém não é o centro das atenções, mas a Galileia e,
mais especificamente, a região do Lago de Genesaré. De todas as partes as
pessoas acorrem a Jesus: da Judeia e de Jerusalém, da Idumeia e de além do
Jordão, e até de Tiro e Sidônia (v. 8), além de uma grande multidão da Galileia
(v. 7). Há, aqui, uma perspectiva universal da missão de Jesus: não somente os
judeus, mas também os pagãos são atraídos pela fama de Jesus. Mas o que atraía
essa numerosa multidão? O nosso texto genericamente responde: "quanta
coisa ele fazia" (v. 8). Nessa expressão deve-se compreender o conjunto
dos gestos e do ensinamento de Jesus. O sumário é, ainda, a ocasião de
apresentar a agitação dos "espíritos imundos" que reconhecem o poder
divino de Jesus pelo qual são e serão vencidos: "ele os repreendeu"
(v. 12). Aparece ainda o tema marcano do segredo messiânico (v. 12: "proibindo
que manifestassem quem ele era"), que já comentamos antes.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
Reflexão
O evangelho de
hoje é uma continuação dos evangelhos anteriores e nos mostra que, se por um
lado, as autoridades religiosas da época de Jesus não concordavam com o seu
modo de agir e com os seus ensinamentos, por outro lado, a multidão cada vez
mais aderia aos seus ensinamentos e procurava em Jesus a solução para os seus
problemas, naturais ou espirituais. A visão institucionalizada da fé é
importante porque nos ajuda a viver comunitariamente o nosso relacionamento com
Deus, mas pode ser perigosa enquanto pode submeter o próprio Deus aos critérios
da razão humana ou legitimar, em nome de Deus, relacionamentos e costumes
meramente humanos que podem até ser opressores e excludentes.
FONTE: CNBB
24 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
Discipulos são enviados
É o terceiro relato de vocação no evangelho segundo Marcos
(1,16-20; 2,13-14). Todos eles têm em comum o fato de que o chamado dos Doze é
iniciativa de Jesus; são chamados, em primeiro lugar, para acompanharem
(seguirem) Jesus e, em seguida, serem enviados por ele. A montanha, sem
localização precisa, é, aqui, a “montanha de Deus” (cf. Ex 19,1ss), lugar da
revelação de Deus e de seus desígnios. “Doze” evoca as doze tribos de Israel.
Com isso Jesus, constituindo os Doze como apóstolos, visa todo o povo escolhido
por Deus; a missão dos apóstolos está relacionada com a vocação do povo eleito
de Deus. Ao mesmo tempo, a eleição dos Doze aponta para a perspectiva do novo
povo de Deus, constituído não pela descendência do sangue, mas pela adesão à
pessoa de Jesus. Os Doze partilham da vida do seu Mestre e, para a sua missão,
recebem dele o poder de expulsar demônios. Essa expressão “expulsar demônios”
equivale a “farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17). Efetivamente, é o mal
que desfigura no ser humano a imagem de Deus e impede de acolher o Reino de
Deus, já presente em Jesus, como dom; é o mal que impede o ser humano de ceder
à atração de Deus. É ainda o mal que, enigmaticamente, habita o coração do
homem feito à imagem e semelhança de Deus, escraviza o ser humano e o faz
prisioneiro de suas próprias afeições desordenadas.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
Reflexão
A escolha dos
doze apóstolos nos mostra a intenção que Jesus tem de formar o novo povo de
Deus que irá substituir o povo da Antiga Aliança. De fato, a escolha dos doze
não foi obra do ocaso, mas manifesta uma intenção. Assim como no Antigo
Testamento, Deus forma o povo de Israel a partir das doze tribos dos
descendentes de Abraão, a Igreja é o novo povo de Deus, o povo da Nova Aliança,
formado a partir dos doze apóstolos de Jesus, que ele escolheu e enviou com
poder para pregar e com autoridade para expulsar todo tipo de mal. Desse modo,
entendemos que a Igreja é o novo povo de Deus, o povo da Nova Aliança.
FONTE: CNBB
25 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
Paulo, apóstolo dos gentios
Saulo era um fariseu fervoroso (Fl 3,5-6; Gl 1,14) e, segundo
Lucas, filho de fariseus (cf. At 23,6). “Pego” pelo Senhor, Paulo se
transformou no apóstolo dos gentios (cf. At 9,15). Pelo seu ministério, o
evangelho de Jesus Cristo ultrapassou as fronteiras da terra de Israel para
ganhar “os confins da terra” (At 1,8). O evangelho que ele recebeu, segundo seu
próprio dizer, ele o recebeu por revelação (cf. Gl 1,12). De perseguidor do
Caminho (cf. At 9,2; 22,4) tornou-se apóstolo de Jesus Cristo (cf. Gl 1,23). Os
Atos dos Apóstolos, cujo autor é Lucas, apresenta dois textos da conversão de
Paulo: um narrado em terceira pessoa (At 9,1-22) e outro em primeira pessoa (At
22,3-16). Paulo não utiliza para o acontecido com ele no caminho de Damasco o
termo conversão, mas revelação (cf. Gl 1,16). A Luz que o envolveu de intensa
claridade e ofuscou, por um tempo, sua visão é a luz do Cristo ressuscitado,
perseguido por Paulo nos membros do Caminho (ver: Lc 10,16). Se a luz de Cristo
ofuscou sua visão foi para que ele pudesse ver todas as coisas em Cristo, e ver
a luz da nova criação. O que ele cria, o que ele esperava, ele, agora, o
encontra realizado em Cristo, o Senhor.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
Reflexão
É comum ouvirmos pessoas rezarem pela conversão dos pecadores, mas é
muito difícil vermos alguém rezar pela própria conversão. Isso acontece porque
a maioria das pessoas acha que não precisa de conversão porque não comete
aqueles pecados que possuem matéria mais grave e vive com certa constância uma
religiosidade. Porém o Evangelho de hoje nos mostra que ser verdadeiramente
cristão significa participar ativamente na obra evangelizadora da Igreja a partir do envio que foi feito pelo próprio Jesus. Portanto, só é
verdadeiramente convertido quem participa da missão evangelizadora da Igreja.
FONTE: CNBB
26 de Janeiro de 2014
Comentário do
Evangelho
A luz brilhou e iluminou todo o
povo oprimido
Encerrada a missão de João Batista, começa a missão de Jesus. É
como se a história da salvação fosse dividida em dois períodos (cf. Lc 16,16).
Ao texto de Marcos (Mc 1,14-15.16-20), Mateus acrescenta Is 8,3–9,1. A Galileia
é iluminada pela presença de Jesus. A citação do trecho do livro do profeta
Isaías, que inclusive temos como primeira leitura, no interior do texto de
Mateus serve para indicar que a profecia de Isaías é realizada. Em Jesus, a
promessa de Deus se realiza, não é preciso esperar mais (cf. Mt 4,17). O texto
de Isaías é uma profecia messiânica. O ponto culminante do texto encontra-se
num versículo mais adiante do trecho que nos é proposto, a saber, em 9,5, que
anuncia o nascimento de um menino que é um dom de Deus e garantia da
continuidade da dinastia davídica. Se a guerra cessou, se a luz brilhou e
iluminou todo o povo oprimido, se foi devolvida a esperança e a alegria, é
porque esse menino nasceu; a ele se atribui os títulos: “Conselheiro
Admirável”, “Deus Forte”, “Chefe Perpétuo”, “Príncipe da Paz” (Is 9,5). A
comunidade cristã que relê a Escritura à luz da Páscoa de Jesus Cristo
reconhece nesse texto a profecia que diz respeito ao próprio Jesus. Nele eles
identificam os atributos conferidos ao menino de Is 9,5.
O início do ministério público de Jesus está em
continuidade com a pregação e o Batismo de João: trata-se de um apelo à
conversão (cf. Mt 3,2; 4,17). A conversão é necessária para poder reconhecer e
acolher o Reino de Deus como dom e que já se faz presente na pessoa de Jesus.
No início de sua vida pública, Jesus associa a si um grupo que ele chama por
sua própria iniciativa. A tarefa é dupla: acompanhar Jesus onde quer que ele vá
e aceitar participar da missão de Jesus de arrancar as pessoas do mal (cf. Mt
4,19). A pronta resposta das duas duplas de irmãos revela, por um lado, o poder
de atração de Jesus e, por outro, a necessidade de uma resposta sem demora.
Para seguir o Senhor é preciso desapego, não permitir que os laços afetivos nem
o apego às coisas impeçam de segui-lo incondicionalmente.
Carlos
Alberto Contieri, sj
FONTE: PAULINAS
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