domingo, 23 de agosto de 2020

HOMÍLIA DIÁRIA, COMENTÁRIO E REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DIA 23/08/2020

ANO A



21º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano A - Verde

“E vós, quem dizeis que eu sou?” Mt 16,15

Recordação da Vocação do Catequista

Mt 16,13-20

Ambientação

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Sobre uma pessoa humana, instável como todas, é que Jesus funda sua Igreja. A presente liturgia evidencia a confiança que O Mestre deposita na humanidade como seus parceiros na história da salvação. Celebremos, pedindo ao Senhor que nos fortaleça fazendo surgir homens e mulheres engajados e decididos no serviço do Evangelho.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, bem vindos! Somos o Povo de Deus reunido como assembleia santa para louvar, bendizer e adorar o Senhor de nossa vida e de nossa história! É um prazer fazer louvação ao Pai em reconhecimento do seu amor infinito por nós. Por isso, aqui estamos para recordar, nesta Ceia Eucarística, a oferta que Jesus fez de sua vida. Tudo é dEle, por Ele e para Ele! Neste dia nacional do catequista, bendigamos ao Senhor por essa vocação específica na Igreja, chamada a promover a educação à fé e a iniciação cristã.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Nós, cristãos, que constituímos parte da Igreja de Cristo e nos reunimos todos os domingos para a eucaristia, devemos ser os primeiros a perguntar-nos: “quem é Jesus para mim?”. Para responder, não será preciso procurar na memória alguma fórmula de catecismo, pois só pode responder a esta pergunta quem se encontrou com ele, quem fez uma experiência pessoal com ele. O encontro pessoal com Cristo é a resposta às nossas perguntas, e ele se dá através do testemunho dos cristãos, que devem despertar o interesse pela busca do Senhor.

A VOCAÇÃO DO CATEQUISTA

Caríssimos e caríssimas catequistas. [...] Obrigado pelo entusiasmo com o qual viveis o vosso ser catequistas na Igreja e para a Igreja. Recordo com prazer o primeiro encontro que tive convosco no Ano da Fé, em 2013, e como vos pedi para “ser catequistas! Não trabalhar como catequistas: isso não adianta! Trabalho como catequista, porque gosto de ensinar. Se porém tu não és catequista, não adianta! Não serás fecundo, não serás fecunda! Catequista é uma vocação... Ser catequista, esta é a vocação, não trabalhar como catequista. Atenção que eu não disse fazer o catequista, mas sê-lo, porque compromete a vida: guia-se para o encontro com Cristo, através das palavras e da vida, através do testemunho”. [...]
Penso muitas vezes no catequista como naquele que se pôs ao serviço da Palavra de Deus, que frequenta diariamente esta Palavra para fazê-la tornar-se seu alimento e assim a poder comunicar aos demais com eficácia e credibilidade. O catequista sabe que esta Palavra é “viva” (Hb 4, 12) pois constitui a regra da fé da Igreja. Por conseguinte, o catequista não pode esquecer, sobretudo hoje num contexto de indiferença religiosa, que a sua palavra é sempre um primeiro anúncio. Pensai bem nisto: neste mundo, nesta área de tanta indiferença, a vossa palavra será sempre um primeiro anúncio, que chega a tocar o coraçã o e a mente de tantas pessoas que estão à espera de encontrar Cristo. Até sem o saberem, mas estão à espera. E quando digo primeiro anúncio não digo só no sentido temporal. Sem dúvida, isto é importante, mas nem sempre é assim.
Primeiro anúncio equivale a frisar que Jesus Cristo morto e ressuscitado por amor ao Pai, concede o seu perdão a todos sem distinção de pessoas, se elas abrirem o seu coração e se deixarem converter! Muitas vezes não sentimos a força da graça que, também através das nossas palavras, toca em profundidade os nossos interlocutores e os plasma a fim de permitir que eles descubram o amor de Deus. O catequista não é um mestre nem um professor que pensa que está a ministrar uma lição. A catequese não é uma liçã o; a catequese é a comunicação de uma experiência e o testemunho de uma fé que acende os corações, porque introduz o desejo de encontrar Cristo. Este anúncio, de várias maneiras e com diferentes linguagens, é sempre o “primeiro” que o catequista é chamado a realizar!
Por favor, na comunicação da fé não vos deixeis cair na tentação de alterar a ordem com a qual a Igreja desde sempre anunciou e apresentou o querigma, e que se reflete na estrutura do próprio Catecismo. Não se pode, por exemplo, antepor a lei, mesmo que seja a moral, ao anúncio tangível do amor e da misericórdia de Deus. Não podemos esquecer as palavras de Jesus: “Não vim para condenar, mas para perdoar...” (cf. Jo 3, 17; 12, 47). De igual modo, não se pode presumir de impor uma verdade da fé prescindindo da chamada à liberdade que ela requer.
Quem tem experiência do encontro com o Senhor está sempre na situação da samaritana que sente o desejo de beber uma água que não se esgota, mas ao mesmo tempo vai ter imediatamente com os habitantes da aldeia para os levar ao encontro de Jesus (cf. Jo 4, 1-30). Por conseguinte, é necessário que o catequista compreenda o grande desafio que tem diante de si sobre a maneira como educar na fé, em primeiro lugar, quantos têm uma identidade cristã débil e, por isso, precisam de proximidade, de acolhimento, de paciência, de amizade. Só assim a catequese se torna promoção da vida cristã, apoio na formação global dos crentes e incentivo a ser discípulos missionários.
Uma catequese que pretenda ser fecunda e estar em harmonia com o conjunto da vida cristã encontra na liturgia e nos sacramentos a sua linfa vital. A iniciação cristã requer que nas nossas comunidades se realize cada vez mais um percurso catequético que ajude a experimentar o encontro com o Senhor, o crescimento no seu conhecimento e o amor pelo seguimento. A mistagogia oferece oportunidades muito significativas para realizar este percurso com coragem e decisão, favorecendo a saída de uma fase estéril da catequese, que muitas vezes afasta sobretudo os nossos jovens, pois não encontram a novidade da proposta cristã nem a incidência na sua vida.
O mistério que a Igreja celebra encontra a sua expressão mais bela e coerente na liturgia. Não esqueçamos de fazer compreender com a nossa catequese a contemporaneidade de Cristo. Com efeito, na vida sacramental, que tem o seu ápice na Sagrada Eucaristia, Cristo faz-se contemporâneo com a sua Igreja: acompanha-a nas vicissitudes da sua história e nunca se afasta da sua Esposa. É Ele que se faz próximo de quantos o recebem no seu Corpo e no seu Sangue, e faz deles instrumentos de perdão, testemunhas da caridade com quantos sofrem, e participantes ativos ao criar solidariedade entre os homens e os povos.
Como seria útil para a Igreja se as nossas catequeses se caracterizassem por fazer compreender e viver a presença de Cristo que age e realiza a nossa salvação, permitindo que experimentemos desde agora a beleza da vida de comunhão com o mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo!
Papa Francisco
(Discurso no Simpósio Internacional de Catequese, 2017)

Comentário do Evangelho

O Messias prometido.

O relato da “profissão de fé de Pedro” encontra-se nos três evangelhos sinóticos. Certamente, o episódio retrata um momento de crise, pois, não obstante o ensinamento e tudo o que Jesus faz, os seus contemporâneos não chegam a ultrapassar o umbral do que aparece e, por isso, não são capazes de reconhecer a manifestação salvífica de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. O evangelho, considerado no seu todo, mostra que a dificuldade diz respeito não somente aos opositores de Jesus e à multidão, mas também aos seus próprios discípulos. É Jesus quem, em Cesareia de Felipe, lugar em que nasce o Rio Jordão, em cujas águas o povo passou para entrar na “terra prometida”, faz a dupla pergunta aos seus discípulos: quem dizem que eu sou? E vós quem dizeis que eu sou? Curiosamente, naquele lugar, prestava-se, no passado, culto ao deus Pan. É exatamente nesse lugar idólatra que os discípulos são desafiados por Jesus a professarem a fé num único Messias. A resposta à primeira pergunta remete simplesmente ao passado. As pessoas não vêm em Jesus a realização da promessa de Deus, nem o Messias prometido. A resposta de Pedro, expressão da fé de toda a Igreja, faz com que o leitor compreenda que o Messias deixou de ser objeto de uma promessa e esperança para adquirir um rosto concreto em Jesus de Nazaré. A rocha indestrutível sobre a qual a Igreja está construída é a fé de Pedro; é ela que sustenta a comunidade dos discípulos no seguimento de Jesus Cristo, o Senhor. Mas a profissão de fé de Simão Pedro não é fruto do esforço da razão. Ela é dom da revelação gratuita de Deus, prometida aos “pequeninos” (Mt 11,25). A primazia de Simão Pedro em relação aos demais discípulos vem do fato de ele professar com exatidão a fé cristã. O silêncio imposto por Jesus aos discípulos diz respeito à sua identidade como Messias. Esse silêncio tem um duplo significado: Jesus não pretende ser confundido com nenhuma das correntes messiânicas de sua época e, ao mesmo tempo, o silêncio oferece ao leitor do evangelho a oportunidade de ele mesmo responder a pergunta cristológica fundamental: Quem é Jesus? O trecho da carta aos Romanos ilustra o que dissemos acima. O texto é uma doxologia em que se exalta a sabedoria insondável de Deus. Por mais que o homem queira, a sua capacidade humana estará sempre aquém de poder compreender o mistério de Deus.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, faze de mim um bem-aventurado, como o apóstolo Pedro, revelando-me teu Filho Jesus, e dando-me força para testemunhar minha fé até o fim.
Fonte: Paulinas em 24/08/2014

Vivendo a Palavra

Nossa fé mostra qual é a resposta que damos à pergunta de Jesus: «E você, quem diz que eu sou?» Resposta que não é uma frase bem elaborada, mas transparece no nosso jeito de conviver com os irmãos peregrinos deste planeta jardim que nos foi emprestado para desfrute e partilha.
Fonte: Arquidiocese BH em 24/08/2014

Reflexão

I. INTRODUÇÃO GERAL

O acento principal da liturgia de hoje está no “poder das chaves”, confiado ao líder dos primeiros discípulos de Jesus, Pedro apóstolo. A chegada do papa Francisco mostrou a importância do serviço que o bispo de Roma exerce para o bem da Igreja e do mundo. É um exemplo de poder-serviço, o oposto do poder pelo poder, fenômeno que tão facilmente se infiltra nas estruturas deste mundo. A comunidade de Jesus deve mostrar uma alternativa.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Is 22,19-23)

A primeira leitura narra a missão de Isaías junto a Sobna, prefeito do palácio (a cidade-templo de Jerusalém), para o depor do cargo e instalar no seu lugar Eliacim, filho de Helcias, “pondo sobre seus ombros as chaves da casa de Davi” (v. 22). Ao prefeito ou mordomo do palácio cabia a tarefa de admitir ou recusar as pessoas diante do rei, como também a responsabilidade de sua hospedagem; daí ele ser chamado de “pai para os habitantes de Jerusalém”: aquele que dirigia a casa. Os oráculos contra o prefeito do palácio, Sobna (cf. também Is 22,24-25), estão, na verdade, um tanto deslocados no livro de Isaías. Encontram-se inseridos no meio dos oráculos contra as nações pagãs. Não pertencem ao Isaías original, mas refletem o interesse de promover a figura de Helcias, homem de confiança do rei Josias, por volta de 620 a.C. Lembram que o “poder das chaves”, isto é, a administração da família real, tinha sido transferido de Sobna para Eliacim.

2. Evangelho (Mt 16,13-20)

O evangelho de hoje põe em cena a profissão de fé em Jesus como Messias. Jesus, primeiro, indaga a respeito do que o povo diz sobre ele e, depois, pergunta aos doze apóstolos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Simão toma a palavra e responde, certamente em nome dos outros: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Por isso, Jesus confirma Pedro na sua função de porta-voz da fé eclesial. Ele será, até o tempo da parusia, o rochedo, o fundamento firme da Igreja, que deverá resistir a muitas investidas.
Jesus felicita Pedro, porque ele falou o que Deus lhe revelou (“não carne e sangue, mas meu Pai que está no céu”, v. 17). Depois, dá a Simão um nome novo, que em aramaico soa Kefas e em grego, Pedro. Significa “rocha”. Na mesma frase, Jesus compara a Igreja a uma cidade contra a qual a outra cidade, chamada de “portas do inferno”, não tem poder algum. E confia a Pedro as chaves dessa cidade. À luz da primeira leitura, podemos dizer que Pedro é o “prefeito” dessa cidade. Ele tem o poder de ligar (= ordenar, obrigar) e de desligar (= deixar livre), portanto, o dom do governo, ratificado por Deus: o que o responsável faz aqui na terra, Deus o ratifica no céu.
Nesse relato, os v. 17-19, dedicados a Pedro, são típicos de Mateus. Não aparecem no texto paralelo de Marcos (Mc 8,27-30). Mateus traz ainda outros textos sobre Pedro que os outros evangelhos não trazem (por exemplo, Mt 14,28-31, no evangelho de domingo retrasado). Mateus insiste que Pedro é quem responde pela fé da Igreja. Este é o “carisma” de Pedro, não uma inspiração de “carne e sangue”, mas um dom de Deus mesmo (Mt 16,17). Pedro deve enunciar a palavra decisiva quando é preciso formular aquilo que a Igreja indefectivelmente assume na sua fé. Essa condição tem por objeto a fé que a Igreja quer conservar e expressar (mas não a fórmula considerada de modo meramente verbal). E Pedro, sendo aquele que respondeu à pergunta de Jesus, responde também pelo governo, embora não em seu próprio nome, mas como prefeito-mordomo da casa do Cristo.
O texto deixa claro que Simão se tornou chefe pela iniciativa de Cristo (imposição do novo nome). Liderar a Igreja não pode ser uma ambição pessoal. Na comunidade cristã não há lugar para tais ambições (cf. Mt 18,1-4; 20,24-28). Só porque o único Mestre e Senhor assim o quer, Pedro pode assumir essa responsabilidade; e, do mesmo modo, os seus sucessores. Por isso, desde o início da Igreja, sob invocação do Espírito Santo, o papa é escolhido – provavelmente a mais antiga tradição ininterrupta de governo por eleição que existe no mundo! O salmo responsorial sublinha, aliás, que Deus olha para os humildes ao distribuir os seus dons.

3. II leitura (Rm 11,33-36)

A segunda leitura de hoje é o hino pelo qual Paulo conclui a parte doutrinal da epístola aos Romanos, tendo versado durante onze capítulos sobre o mistério da salvação e da justificação gratuita pela graça de Deus e pela fé em Jesus Cristo. É o hino à insondável sabedoria de Deus, manifestada em Jesus Cristo. Nos capítulos 9-11 da carta aos Romanos, Paulo revela seu espanto diante do fato de que não Israel, mas as nações pagãs foram os primeiros a encontrar a salvação pela fé. Mas ele mostra também sua convicção de que Israel seguirá, afinal, o caminho das promessas das quais foi o destinatário primeiro. Considerando agora o plano de Deus num olhar global, o espanto de Paulo se transforma em admiração. Depois de ter meditado tanto, só lhe resta exclamar a imensurável profundidade deste mistério da graça. Deus não fica devendo a ninguém. “Quem primeiro deu-lhe o dom (a graça), para receber em troca?” (v. 35). Este hino cabe em qualquer circunstância de nossa vida.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO: o “poder das chaves”

Costumamos dizer que o papa detém o “poder das chaves”. Mas que significa isso? A liturgia de hoje nos ajuda a compreender melhor esse tema. Pela primeira leitura, aprendemos que “o poder das chaves” significa a administração da casa ou da cidade. O administrador do palácio do rei, Sobna, será substituído por Eliacim, que receberá “as chaves da casa de Davi”. No evangelho, Pedro, em nome dos doze apóstolos, proclama Jesus Messias e Filho de Deus. Jesus, em compensação, proclama Pedro fundamento da Igreja e confia-lhe “as chaves do Reino dos Céus”. Dá-lhe também o poder de “ligar e desligar”, o que significa obrigar e deixar livre, ou seja, o poder de decisão na comunidade (em Mt 18,18, esse poder é dado à Igreja como tal).
“As chaves do Reino dos Céus” significam o ministério ou serviço pastoral; portanto, uma realidade no nível da fé. Nessa expressão, “Reino dos Céus” não é o céu como vida do além, mas o Reino de Deus (os judeus chamavam a Deus de “os Céus”). Trata-se do Reino de Deus entendido como comunidade, contraposta às “portas do inferno”, a cidade de satanás, que não prevalecerá sobre a comunidade cujas chaves Pedro recebe. Trata-se, pois, de duas cidades que se enfrentam aqui na terra. Pedro é o prefeito da cidade de Deus aqui na terra. Respondendo pelos Doze, administra as responsabilidades da fé e da evangelização. Na medida em que a Igreja realiza algo do Reino de Deus neste mundo, Jesus pode dizer que Pedro tem “as chaves do Reino dos Céus”, isto é, do domínio de Deus. Ele administra a comunidade de Deus no mundo. Quem exerce esse serviço hoje é o papa, bispo de Roma e sucessor de Pedro.
Mas já os antigos romanos diziam: o prefeito não deve se meter nas mínimas coisas. Pedro e seus sucessores não exercem sua responsabilidade sozinhos. A responsabilidade ordinária está com os bispos, como pastores das “igrejas particulares” (= dioceses). É o que se chama de colegialidade dos bispos. O bispo de Roma, irmão eleito entre seus pares, deve cuidar especificamente dos problemas que dizem respeito a todas as igrejas particulares. O papa é o “Servo da Unidade”.
Há quem não goste de que se fale em “poder” na Igreja, muito menos no poder papal. Mas quem já teve de coordenar algum serviço sabe que precisa de autoridade, pois senão nada acontece. No desprezo da “administração pastoral” da Igreja pode haver um quê de antiautoritarismo juvenil. Aliás, os jovens de hoje, pelo menos de modo confuso, já estão cansados do antiautoritarismo e percebem a falta de autoridade. Sem cair no autoritarismo de épocas anteriores, convém ter uma compreensão adequada da autoridade como serviço na Igreja. O evangelho nos ensina que essa autoridade está intimamente ligada à fé. Pedro é responsável pelo governo porque “respondeu pela fé” dos Doze.
Por outro lado, se é verdade que Pedro e seus sucessores têm a última palavra na responsabilidade pastoral, eles devem também escutar as “penúltimas” palavras de muita gente. Devemos chegar a uma obediência adulta na Igreja: colaborar com os responsáveis num espírito de unidade, sabendo que se trata de uma causa comum, não nossa, mas de Deus. Nem mistificação da autoridade, nem anarquia.

Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e mestre em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Lovaina. Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Dedica-se principalmente aos seguintes assuntos: Bíblia – Antigo e Novo Testamento (tradução), Evangelhos (especialmente o de João) e hermenêutica bíblica. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A-B-C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje; Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da “Fonte Q”.
Fonte: Vida Pastoral em 24/08/2014

Reflexão

A RESPOSTA DE UMA VIDA

Continua a ressoar para nós a pergunta de Jesus aos discípulos: “Quem sou eu para vocês?” É pergunta que inquieta, se não quisermos responder apenas com uma fórmula aprendida no catecismo ou com as mesmas palavras de Pedro, sem necessariamente alcançar todo o significado da mais bela profissão de fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Jesus faz a pergunta a cada um de nós e espera também uma resposta pessoal. Resposta que venha da experiência pessoal com ele, superando meros conceitos e fórmulas prontas.
Sobre o “Jesus histórico” tantas hipóteses já se levantaram, e ainda hoje novos livros com antigas teorias fazem sucesso. Querem fazer dele um guerrilheiro ou então um líder religioso alienado dos problemas sociais de seu tempo. Mas o Mestre não se enquadrou naquilo que esperavam do Messias. O Deus que ele veio revelar passava longe da resignação e do poder, e mais longe ainda do poder movido a força e violência.
A resposta de Pedro mostra que a experiência que fazemos de Jesus, no fundo, é uma experiência de revelação divina. Seguir Jesus, mais que dizê-lo com palavras e discursos, é testemunhar sua ação na nossa vida e na vida dos irmãos. Experimentamos a bondade de Deus sendo bondosos com os outros; experimentamos sua misericórdia na misericórdia que praticamos; experimentamos seu amor no amor que vivemos dia a dia. É assim que Deus se revela, também em nossas fraquezas, porque ao final se trata sempre do dom de Deus, e não de mero esforço pessoal.
Pedro demonstrou sua fé em Jesus, ainda que sem compreender plenamente as implicações do que significava seguir aquele Messias diferente e sem igual. Para além das palavras, o que importou para Pedro e o que importa para nós é a atitude fundamental: confiar-se nas mãos de Deus, o único que pode dar a segurança de uma rocha, a pedra firme sobre a qual continuaremos a construir a comunidade dos filhos do Deus vivo.
Pe. Paulo Bazaglia, SSP
Fonte: Paulus em 24/08/2014

Reflexão

QUEM É JESUS PARA NÓS?

O trecho do evangelho de hoje apresenta-nos Jesus em companhia de seus discípulos. Enquanto caminhavam, ele lhes perguntou: “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?” Ao que eles responderam, dando várias opiniões sobre o que os outros pensavam de Jesus. Então ouviram dele nova pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Sem hesitar, Pedro tomou a palavra: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Esta é a profissão de fé feita por Pedro; ele reconhece em Jesus o Messias, aquele que veio realizar o plano salvífico de Deus e levar a humanidade a aderir ao projeto do reino.
A resposta de Pedro foi o resultado de sua familiaridade e convivência com Jesus, foi o resultado de sua experiência pessoal com o Mestre e com o seu projeto de vida. Isso porque só pode responder bem a essa pergunta aquele que deseja cumprir a vontade do Pai e fazer dela a norma do próprio viver.
Com o evangelho de hoje, o Senhor convida-nos – cada um pessoalmente – a responder à mesma pergunta: E você, quem diz que eu sou? Tanto no passado como no presente, são muitas as opiniões sobre Jesus. E nossa resposta é fundamental, na medida em que nenhum discípulo pode se comprometer com o seguimento de seu mestre sem saber nem compreender quem é ele na sua vida, qual é o seu projeto, quais são as exigências para segui-lo…
A vida cristã é o compromisso pessoal com Cristo, assumido sempre dentro de uma comunidade. Por isso não podemos basear a nossa caminhada somente no testemunho de outros a respeito da pessoa de Jesus, mas faz-se necessária a nossa própria experiência e empenho de participar ativamente do projeto do reino. Como? Testemunhando Cristo ressuscitado e presente no meio de nós por meio de nossas atitudes, de nosso jeito de viver com os outros na família e na comunidade, de nosso espírito orante e atento ao que o Senhor deseja falar à nossa vida…
O reconhecimento de Jesus é fruto da vivência do seu evangelho, do nosso esforço em buscar corresponder ao projeto de Deus. Assim a nossa resposta àquela pergunta crucial precisa brotar da profundidade do relacionamento que temos com Jesus, de nossa experiência íntima com ele. Que Deus nos ajude.
Pe. Gilbert Mika Alemick, ssp
Fonte: Paulus em 24/08/2014

Reflexão

Pistas para a reflexão:

I leitura: O exercício do poder tem em vista o bem comum.
II leitura: Deus age de modo sábio e misterioso na história da humanidade.
Evangelho: Conduzir a Igreja de Jesus requer os fundamentos do amor e da disponibilidade.
Fonte: Paulus em 24/08/2014

REFLEO


A MISSÃO DO DISCÍPULO QUE PROFESSA A FÉ EM CRISTO – O FILHO DE DEUS.

Primeira Leitura: Is 22,19-23;
Salmo Responsorial: Sl 137(138);
Segunda Leitura: Rm 11,33-36;
Evangelho: Mt 16,13-20.

Situando-nos brevemente

Domingo da profissão de fé em Simão Pedro. Animados pela presença do ressuscitado em nossa caminhada de discípulos, somos convidados a proclamar a fé e a recordar o sentido de nossa missão.
Jesus é o Messias inteiramente devotado ao serviço do projeto do Pai, que é o de salvar a todos. Os que assumem esse projeto tornam-se agentes promotores da vida e servidores do bem comum, libertando as pessoas das forças do mal. No exercício da missão, os discípulos de Jesus se vêem envoltos em situações delicadas que requerem muita fé. O anúncio da Boa-Nova do Reino exige dos discípulos e missionários convicção profunda, mas em certos momentos, eles fraquejam e sentem-se importantes.
Celebra-se o mistério da páscoa de Jesus Cristo que se manifestou em todas as pessoas e grupos que professam sua fé em Jesus e tornam-se testemunhas do Reino. Conscientes de nossa pobreza e fragilidade disponhamo-nos à graça de Deus que nos faz proclamar a mesma fé de Simão Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Recordamos com carinho neste dia os vocacionados para os ministérios e serviços na comunidade.
Recordemos, hoje, os catequistas em sua importante missão de educadores da fé.

Recordando a Palavra

Jesus e os discípulos chegam às imediações de Cesareia de Filipe a cerca de 50 quilômetros do lago de Genesaré. Cesareia chamava-se Paneas, em honra ao deus Pan, a quem eram oferecidos cultos numa gruta. Quando Herodes, o Grande, recebeu esta região do Imperador Augusto, construiu ali um templo consagrado ao culto do Imperador. Com a morte de Herodes, a região passou a ser governada pelo tetrarca Filipe.
Este, para cultuar César, passou a chamar a cidade de Cesareia de Filipe. A população, em sua quase totalidade, era pagã. Portanto, Jesus e os discípulos estão fora do centro político, econômico e religioso. Estão em uma verdadeira periferia, se olharmos a partir do sistema dominante de Israel.
Enquanto caminhavam próximos da cidade de Cesareia, Jesus interpela os discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”. Os discípulos, pegos de surpresa, apresentam as mais diferentes versões. Os testemunhos demonstram que o povo desconhece e não acredita que Jesus seja o Messias, pois esperava por outro messias, poderoso e triunfante. Circula entre a gente uma imagem distorcida do filho do Homem, por causa de sua humanidade. Jesus não se enquadrava nas expectativas, no imaginário do povo.
Seguindo em frente na caminhada, o Mestre deseja saber o que eles, os discípulos, pensam a seu respeito: “E vocês quem dizem que eu sou?” Todos se calam, menos Pedro que responde: “Tu és o Messias, o Filho do deus vivo”. A confissão do discípulo reconhece em Jesus a messianidade e a divindade – Messias e Filho de Deus. Observemos que Jesus será condenado mais tarde por estas realidades proclamadas por Simão Pedro (cf. Jo 5,18; 10,33).O Mestre felicita o discípulo por sua resposta: “Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque  não foi um ser humano que  lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. A profissão de fé do discípulo é fruto da revelação do Pai que foi se sedimentando pela escuta dos ensinamentos do Mestre. “Um ser humano”, sem o auxílio da graça de Deus, jamais chegaria ao conhecimento da divindade do filho de Deus.
Numa expressão solene, Jesus proclama: “Você é Pedro, e sobre  essa pedra construirei as minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la”. Jesus reconhece que o discípulo é uma “rocha” que dará solidez à Igreja, isto é, ao novo povo de Deus. Só Mateus usa a palavra “Igreja” para designar a reunião daqueles que constituíam o verdadeiro povo de Deus, que, pela fé, formam um reino messiânico. Jesus se apresenta como o “construtor” (construirei) do edifício que é o novo povo (a Igreja). Pedro, como alicerce, dará consistência e durabilidade ao novo edifício. A metáfora, mais do que uma realidade material, refere-se à nova sociedade constituída por todos aqueles que aderirem aos ensinamentos dos apóstolos. O reino do mal ou o poder da morte não terá domínio sobre a nova sociedade. O poder do inferno estará sempre lutando contra o Reino anunciado por Jesus, estará permanentemente pondo a Igreja à prova, mas não vencerá. O Mestre garante que sua igreja permanecerá viva e será portadora de vida. Mas, no curso da história, ela terá que resistir e superar muitas tensões e provações.
Eu lhe darei as chaves do reino do céu...” As chaves são símbolos do poder que se exerce tanto sobre o reino da morte como sobre a Vida. A quem se entregam as chaves de uma cidade, concede-se a faculdade de governá-la. Jesus reconhece em Pedro a autoridade de liderança da comunidade do novo povo. Ele, como administrador da Igreja, exercerá o poder de admitir ou de excluir, de absolver ou de condenar, de desligar ou de ligar alguém ao mal. Suas decisões serão ratificadas no Reino dos Céus (Evangelho).
O profeta Isaías critica severamente o administrador do palácio real encarregado de “abrir e fechar” as portas da casa do rei, pois ele usava o cargo de confiança em benefício próprio, enquanto o povo vivia na maior crise. Para perpetuar sua memória, o administrador manda construir um túmulo de luxo, ele é substituído. As chaves são entregues a Eliacim, filho de Helcias. A forma como o Profeta fala da investidura revela que é o Senhor quem incumbe uma pessoa nas funções de ser “um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá”. Eliacim recebe as chaves da administração da casa para o bem comum. Como um “ministro da casa civil”, a ele cabe administrar os bens do rei e decidir quem pode ser recebido ou não pelo soberano (1ª Leitura). Assim como Deus olha para os humildes, quem recebeu as chaves deve agir em favor do povo (Sl 137/138).
O apóstolo Paulo exalta o sábio agir de Deus. “Como é profunda a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus!”. Quantos fatos na vida das pessoas e dos povos são, à primeira vista, imprevisíveis e incompreensíveis. Situações que humanamente não têm explicação. Depois de certo tempo, deslumbra-se nelas a ação de deus. O Apóstolo dos Gentios admira-se e bendiz a ação de Deus diante do fato de “povos pagãos” acolherem a Boa-Nova e, pela fé, encontrarem, antes de Israel, a salvação. Por isso, “a ele pertence à glória para sempre. Amém! (2ª Leitura).

Atualizando a Palavra

A Palavra de Deus, deste domingo, é uma mima de grande valor. Podemos contemplá-la sob diferentes ângulos. Eliacim e Simão Pedro, por serem pessoas tementes a Deus, receberam uma missão, ou seja, as “chaves”. Na perspectiva da fé, qual seria a missão dos discípulos e missionários do Senhor em nossos dias?
Na caminhada da vida, constantemente Jesus nos interpela: “e vocês quem dizem que eu sou?”. O povo de Israel assimilara uma imagem distorcida do Messias e não tinha clareza sobre sua identidade. Hoje, como outrora, as pessoas são presas fáceis das novas propostas religiosas e pseudorreligiosas. Estes responderão vagamente à interpelação do Mestre (cf. Estudos da CNBB, 1014, n. 118-128).
Pedro confessou sua fé no Cristo, Filho de Deus vivo, graças à escuta de sua palavra e à cotidiana convivência. O Discípulo reconheceu o Messias porque a revelação do Pai encontrou nele abertura e acolhida. Quer dizer, descobre a verdade dos desígnios de Deus quem se deixa iluminar pela luz da fé. Com razão, reconhece o Documento de Aparecida: “A fé em Jesus como Filho do Pai é a porta de entrada para a Vida. Como discípulos de Jesus, confessamos a nossa fé com as palavras de Pedro: Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (DAp, n.101) . A fé é um dom de Deus, é uma adesão pessoal a ele. Crer só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Por isso, “a fé cristã nos faz reconhecer um propósito na existência: não somos frutos do acaso, fazemos parte de uma história que se  desenrola sob o olhar amoroso de Deus” (Diretório Nacional de catequese, n. 15).
Sem sombra de dúvida, o grande desafio da Igreja, dos discípulos e missionários é anunciar a verdade sobre Jesus Cristo; ter a coragem de proclamar ao povo, aos grupos humanos, às diferentes culturas e realidades quem é o Filho de Deus; despertar e alimentar a fé no Cristo, não apenas com palavras, mas pelo testemunho e pela prática solidária da caridade, sobretudo através de iniciativas que favoreçam a experiência de Jesus Cristo, saber sempre mais sobre sua pessoa e obra pela leitura e meditação dos Evangelhos e pelos encontros com ele por meio da ação litúrgica, em particular, dos sacramentos.
“A vida das pequenas comunidades, revitalizadas pela Palavra e alimentada pela Eucaristia, será expressão de uma novidade traduzida mais como um novo jeito de viver a fé cristã de forma comunitária, do que o resultado de novas iniciativas que passam organizar técnicas e processos que nem sempre qualificarão o ser cristão” (Estudos da CNBB 104, n. 170).
A grande missão do discípulo e missionário é “proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis que, em virtude do seu batismo, são chamados a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo. [...] Em período da história, caracterizado pela ordem  generalizada que se propaga por novas turbulências sociais e políticas, pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã e pela emergência de variadas ofertas religiosas que tratam de responder, à sua maneira, à sede de deus que nossos povos manifestam” (DAp, 10).
“Sobre esta pedra construirei a minha Igreja”, - na fé professada por Simão Pedro, Jesus edificará a Igreja. A fé é o sólido fundamento da comunidade eclesial. Professando a fé em Jesus Cristo, Filho  do Deus vivo, as pessoas tornam-se membros da Igreja – novo povo de Deus. A Igreja alicerça-se solidamente sobre Cristo e seu Evangelho.
O que torna a Igreja um “sólido edifício” contra o qual as forças do mal não prevalecerão é o testemunho e espírito de comunhão. Comunhão que se alimenta pelo incentivo às formas associativas e comunitárias que oferecem aos cristãos experiências de convivência, solidariedade, participação ativa e corresponsável, comunhão eclesial alimentada pela escuta da Palavra de Deus, pela oração e pelos sacramentos.
“Eu darei as chaves do reino do Céu, e o que você ligar na terra será ligado no céu, e o que você desligar na terra será desligado no Céu.” Jesus concede a Pedro, à Igreja, o poder de construir a coletividade, para serem “um pai para todos os habitantes”. Aos discípulos e missionários de Jesus, mais do que condenar e excluir, cabe acolher e perdoar, absolver e reconciliar em nome de Jesus Cristo. São chamados a ser construtores de paz entre os povos e nações. Na pessoa de Pedro, a Igreja é chamada de escola permanente de verdade e justiça, de perdão e reconciliação para construir uma paz autêntica.
Todos nós, como pessoas de fé, na Igreja, somamos com Pedro como pequenas pedras. Por simples ou modestas que sejam estas pedras, todas devem estar densas do dom da fé. Aderindo a Cristo, Filho do Deus vivo, somos parte do seu corpo. Contudo, precisamos fortalecer a fé, para encarar os novos desafios, uma vez que estão em jogo o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade católica dos povos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística

A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Celebrando a Eucaristia, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. Há íntima unidade entre crer, celebrar e viver o mistério de Jesus cristo. Em cada celebração eucarística, a comunidade celebra e assume o mistério pascal, participando n’Ele. Portanto, os fiéis devem viver sua fé na centralidade do mistério pascal de cristo, através da Eucaristia, de maneira que a sua vida seja cada vez mais vida eucarística. Isto evidencia que “a fonte da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a doação que Cristo faz de si próprio no mistério pascal. ( SCa, n.34).
Pela proclamação e pela escuta atenta da Palavra de Deus, a assembleia dos discípulos reunidos, alimenta e fortalece sua fé, cultiva uma relação de profunda amizade com Jesus cristo e assume com fidelidade a vontade do pai. “É tão grande o poder e a eficácia que se encerra na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da fé e alimento da alma, pura fonte da vida espiritual” (CIgC, n. 131). Todas as comunidades e grupos eclesiais darão fruto na medida em que a Eucaristia for o centro de sua vida e a Palavra de Deus for o farol de seu caminho e de sua atuação na única Igreja de Cristo.
A Igreja edifica-se como “Corpo de Cristo” pela Eucaristia: “A Eucaristia é Cristo que se dá a nós, edificando-nos continuamente como seu Corpo”. A pedra sobre a qual Cristo edifica sua Igreja é sim a fé, mas em relação íntima com a participação eucarística. “Participando no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos pelo Espírito Santo, num só corpo” (Oração Eucarística II).
Em sua Palavra e na Eucaristia, Jesus nos oferece o alimento para prosseguir na caminhada da fé como seus discípulos. Participando do banquete eucarístico, Cristo reforça a comunhão entre os irmãos, estimula na busca do perdão e da reconciliação, impulsiona ao diálogo e ao compromisso missionário em favor da justiça e da paz.

Preparando a celebração

Neste domingo da profissão de fé de Pedro e de todos os que seguem a Jesus, “o Messias, o Filho de Deus vivo”, a equipe de liturgia é convidada a dar particular atenção:

Ø À acolhida carinhosa e fraterna das pessoas que chegam para tomar parte da celebração;
Ø Ao clima orante, antes e durante toda a celebração, que favoreça o encontro da assembleia com o mistério da salvação revelado pelo Messias e Senhor;
Ø À procissão de entrada – uma pessoa da equipe de liturgia, junto com os ministros e demais servidores, entra carregando a vela acesa que será colocada sobre o altar – a luz da fé que ilumina os batizados nas trevas das tempestades da vida;
Ø À aspersão da água benta no Ato Penitencial – sublinhando, com este rito, a renovação de nosso batismo;
Ø À Liturgia da Palavra iniciada com a entonação de um refrão que disponha a assembleia à escuta atenta da Palavra proclamada;
Ø À proclamação do Evangelho – preparar sua proclamação de modo que possa ser dialogada, precedida pelo canto do Aleluia;
Ø À profissão de fé (Creio) – segundo a fórmula da Vigília Pascal – a assembleia pode dar uma resposta cantada (por exemplo:creio Senhor, mas aumentai a minha fé) estendendo a mão direita em direção ao Evangeliário ou ao Círio aceso elevado à vista de todos;
Ø À Oração Eucarística – solenizar a ação de graças pelo canto do Santo, das aclamações e do Amém do “Por cristo e com Cristo” (a doxologia);
Ø Á comunhão eucarística – possibilitar que toda a assembleia comungue sob duas sagradas espécies. Concluída a comunhão, reservar um momento de silêncio para o colóquio com o Senhor;
Ø Ao rito da bênção e envio final da celebração – recordar o gesto de Jesus que enviou os discípulos para a outra margem do lago. Apesar das dificuldades, todos somos discípulos e missionários da Boa-Nova do Reino. Abençoar, em especial, os catequistas.
Fonte: Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça!
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I - Junho/Agosto 2014
- Ano A – Edições CNBB
Fonte: Emanarp em 24/08/2014

REFLEXÃO

Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem? (…) E vós, quem dizeis que eu sou?

Hoje, a profissão de fé de Pedro em Cesareia de Filipe abre a ultima etapa do ministério público de Jesus preparando-nos para o acontecimento supremo da sua morte e ressurreição. Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus decide retirar-se por algum tempo com os seus apóstolos para intensificar a sua formação. Neles começa a tornar-se visível a Igreja, semente do Reino de Deus no mundo.
Há dois Domingos atrás, ao contemplar como Pedro andava sobre as águas e se afundava nelas, escutávamos a repreensão de Jesus: «Que pouca fé! Porque duvidaste?» (Mt 14,31). Hoje, a repreensão é trocada por um elogio: «Feliz és tu, Simão, filho de Jonas» (Mt 16,17). Pedro é ditoso porque abriu o seu coração à revelação divina e reconheceu em Jesus Cristo o Filho de Deus Salvador. Ao longo da história colocam-se-nos as mesmas perguntas: «Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem? (…) e vós, quem dizeis que eu sou?» (Mt 16,13.15). Também nós, num momento ou outro, tivemos que responder quem é Jesus para mim e o que é que reconheço Nele; de uma fé recebida e transmitida por testemunhos (pais, catequistas, sacerdotes, professores, amigos…) passamos a uma fé personalizada em Jesus Cristo, da qual também nos convertemos em testemunhas, já que nisso consiste o núcleo essencial da fé cristã.
Somente desde a fé e a comunhão com Jesus Cristo venceremos o poder do mal. O Reino da morte manifesta-se entre nós, causa-nos sofrimento e apresenta-nos muitas interrogações; no entanto, também o Reino de Deus se faz presente no meio de nós e revela a esperança; e a Igreja, sacramento do Reino de Deus no mundo, cimentada na rocha da fé confessada por Pedro, nos faz nascer à esperança e à alegria da vida eterna. Enquanto houver humanidade no mundo, será preciso dar esperança e enquanto for preciso dar esperança, será necessária a missão da Igreja; por isso, o poder do inferno não a derrotará, já que Cristo, presente no seu povo, assim nos garante.
Rev. D. Joaquim MESEGUER García
(Sant Quirze del Vallès, Barcelona, Espanha)
Fonte: Liturgia da Palavra em 24/08/2014

Reflexão

O texto constitui um marco importante no Evangelho de Mateus. Pode ser dividido em duas partes: a profissão de fé no messianismo de Jesus feita por Pedro; a confirmação deste apóstolo como porta-voz da comunidade. Jesus quer saber o que seus seguidores mais próximos pensam dele, de sua pessoa. Pedro, em nome do grupo, intervém e reconhece que Jesus, mais do que simples profeta, é a revelação verdadeira do Pai (“quem me vê, vê o Pai”). A resposta do apóstolo traz a essência da fé cristológica: Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Pela sua resposta, revelada pelo Pai, Pedro é proclamado feliz, pois testemunha a fé da comunidade, e recebe as chaves para abrir as portas do Reino de Deus a todos os que desejarem ter acesso a ele. A pergunta de Jesus continua soando em nossos dias: “E vocês, quem vocês dizem que eu sou?” O Mestre não quer saber nossa opinião, mas nossa atitude de vida, a opção que fazemos. Nesse sentido, a pergunta se inverte: Quem sou eu? Que opções faço na vida?
Oração
Ó Jesus, “Filho do Homem”, o povo não tem clareza sobre a tua identidade. Pedro, porém, por revelação divina, afirma que “és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Em contrapartida, tu lhe confias o governo da tua Igreja. Queremos te conhecer cada vez mais e fazer parte da tua comunidade. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))

Recadinho

Quem é realmente Jesus para você? - Em sua comunidade surgem às vezes pessoas que são verdadeiras pedras de tropeço para a caminhada? - Qual a atuação de Jesus nos evangelhos que lhe fala ao coração de modo especial? - Na sociedade em que você vive, há respeito para com a imagem de Jesus? - Que símbolo mais marcante da vida de Cristo você já viu? - Que tipo de presença de Jesus marcou mais sua vida?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Fonte: a12 - Santuário Nacional em 24/08/2014

Comentário do Evangelho

Esta narrativa da "confissão de Pedro" é encontrada nos três evangelhos sinóticos, de Marcos, de Mateus e de Lucas.
Cada um destes evangelistas imprime uma característica pessoal à sua narrativa. Marcos, que é o primeiro dos evangelhos canônicos a ser escrito, situa a passagem narrada no momento em que Jesus encerra seu ministério entre os gentios da Galiléia e das regiões vizinhas, iniciando o caminho para Jerusalém, em ambiente de exclusividade judaica, onde se dará o confronto final com os chefes de Israel.
Marcos se preocupa em mostrar que Jesus rejeita o título messiânico, indicativo de ambição e poder, afirmando-se como o simples e humilde humano, cheio do amor de Deus e comunicador deste amor que dura para sempre. Um sinal de seu despojamento é a sua vulnerabilidade à morte programada pelos chefes do Templo e das sinagogas.
Lucas, por sua vez, despreocupa-se com a situação temporal do episódio narrado, colocando-o em um momento de oração de Jesus. Uma das características de Lucas é justamente registrar com freqüência estes momentos de oração. Lucas conclui sua narrativa, como Marcos, registrando a rejeição sumária de Jesus ao título messiânico.
No texto de Mateus, acima, encontramos duas de suas características dominantes. Mateus acentua a dimensão messiânica de Jesus e já apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Mateus escreve na década de 80, quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas que até então freqüentavam.
Mateus pretende convencer estes discípulos de que em Jesus se realizavam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por Mateus. Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado em Roma.
Na menção às chaves do Reino dos Céus conferidas a Pedro, com o poder de ligar e desligar, podemos ver uma recorrência da atribuição das chaves do palácio de Davi a Eliacim, administrador real, que terá o poder de abrir e fechar (primeira leitura). A revelação de Deus, atribuída a Pedro no texto de Mateus, ultrapassa as limitadas formulações da inteligência humana (segunda leitura). Porém, no ato de amor, à semelhança de Jesus, mergulha-se na própria vida divina e eterna.
Oração
Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Dom Total em 24/08/2014

Meditando o evangelho

FELIZ ES TÚ, PEDRO!

O apóstolo Pedro foi uma figura de destaque na Igreja primitiva. O próprio Mestre constituiu-o chefe do grupo de discípulos, ao dar-lhe "as chaves do Reino dos Céus". Em muitas ocasiões, ele tomou a palavra para falar em nome dos companheiros. Foi testemunha de experiências do Mestre juntamente com um grupo seleto de discípulos. Mostrou ter estabelecido com Jesus um relacionamento muito íntimo, com seus altos e baixos, para culminar na prova suprema do martírio, como sinal de fidelidade absoluta ao Senhor.
Sua trajetória de fé pode ser tomada como paradigma da vivência da fé cristã. Pedro obteve um conhecimento interior do Senhor, não provindo "da carne ou do sangue", mas da revelação do Pai celeste.
O apóstolo percebeu a revelação divina na convivência com Jesus. Os acontecimentos do dia-a-dia deixavam transparecer quem era o Mestre. Pedro tornou-se capaz de, com a graça divina, ir além da percepção popular. Por isso, pode chegar a proclamá-lo como Cristo, o Filho de Deus vivo.
A bem-aventurança de Pedro ("Feliz es tu, Pedro!") estende-se a todos que se tornam discípulos, a exemplo dele. É feliz quem cumpre com generosidade a missão recebida de Jesus. É feliz quem persevera na fidelidade ao Filho de Deus, comungando com sua sorte e seu destino.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Pai, faze de mim um bem-aventurado, como o apóstolo Pedro, revelando-me teu Filho Jesus, e dando-me força para testemunhar minha fé até o fim.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. Quem é Jesus para você?
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Dia desses comentei em tom de brincadeira, com um agente pastoral da nossa paróquia, que precisamos fazer uma pesquisa junto à comunidade, para saber se ela está satisfeita com o nosso trabalho, afinal são nossos clientes e deveriam ser constantemente consultados, para saber se estamos atendendo suas necessidades espirituais e pastorais. A pessoa imediatamente retrucou, dizendo-me que este procedimento está relacionado com gestão e marketing, e que nós somos uma igreja e não uma empresa prestadora de serviço.
É verdade que somos uma igreja, que trabalha com a espiritualidade e transcendência, anunciando a salvação oferecida por Jesus, mas por outro lado, essa igreja está edificada no chão da história, trabalhando também com a realidade temporal, influenciando a história ou mesmo sendo influenciada por ela.
O nosso trabalho pastoral, seja ele prestado pelo leigo ou ministro ordenado, teria com certeza uma qualidade melhor, se procurássemos ouvir sempre as pessoas a quem servimos. Como está a minha celebração, o que achou da palestra, e o canto pastoral, os cantores e instrumentistas, o atendimento das pastorais e da secretaria, o pessoal da recepção, enfim, será que temos a humildade de ouvir aqueles a quem servimos para poder servir cada vez melhor? Ou somos avessas a qualquer crítica?
Na verdade, mais do que uma simples pesquisa, se tivermos um planejamento de trabalho, estabelecendo-se metas a serem alcançadas, e estarmos atentos aos resultados obtidos, a evangelização seria muito mais eficiente e com um alcance maior de pessoas. Comportamento de profissionais? Esta era uma palavra até evitada na comunidade, contudo, vivemos novos tempos em que a Igreja deve alinhar Espiritualidade e Profissionalismo em sua ação evangelizadora, caso contrário, estará se omitindo de sua missão primária, que é o anúncio querigmático.
Jesus de Nazaré, Nosso Senhor e Salvador, têm algo a oferecer aos homens, um produto de primeiríssima qualidade e de eficácia comprovada, o trabalho para o reino significa justamente dar acessibilidade à salvação, para toda humanidade, e a Igreja não deve trabalhar visando apenas uma fatia do mercado, ninguém deve ser privado deste anúncio e o envio missionário que Jesus faz aos discípulos é globalizante “Ide por todas as Nações...”.
No evangelho desse domingo, Jesus quer saber se a sua equipe de trabalho que ele próprio selecionou, está preparada para entrar em ação, e faz uma pesquisa sobre seu marketing pessoal, primeiramente ouvindo a opinião deles sobre o que as pessoas diziam a seu respeito. O resultado não desanima Jesus, as pessoas não veem nele nada de especial ou diferente, pois João Batista, Elias, Jeremias ou algum outro profeta de renome, eram pregadores do Messianismo, Jesus era apenas mais um entre eles, claro que esses nomes tinham fama entre o povo, mas Jesus apenas engrossava esta lista.
Qual a visão que as pessoas do bairro, têm da nossa comunidade onde somos a igreja? Temos algo novo a oferecer ou somos apenas mais um dentro do pluralismo religioso? O que as pessoas dizem do nosso modo de viver, de atuar e de celebrar a fé, fazemos a diferença ou o nosso testemunho passa despercebido?
Pedro falou pelo grupo e sua resposta deixou Jesus satisfeito, ainda havia muito a caminhar e aprender, mas para um começo aquilo estava de bom tamanho, os discípulos atenderam o chamado porque viam nele algo diferente “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo!”, para eles Jesus se distingue dos demais Messias que também pregavam. O grupo estava no caminho certo, Pedro abriu o coração e a mente para Deus, que se revela em Jesus de Nazaré: algo novo vai começar e Pedro demonstrou uma fé bem consistente a ponto de Jesus lhe confiar as “rédeas do seu negócio”, isto é, a Santa Igreja, e ainda lhe garante que a “Concorrência“ não terá contra ela a menor chance... Em uma palavra, o mal, presente na igreja, ou o mal fora dela, não conseguirá impedi-la de levar a bom termo à missão confiada pelo Senhor.
A orientação final, para que os discípulos não digam a ninguém que ele é o Messias, é válido também para nós, que vivemos em outro contexto, na pós-ressurreição, o anúncio do evangelho não passará de uma propaganda enganosa, se faltar-nos a coerência do discipulado, pois somente a vivência e o testemunho autêntico, como fermento na massa e sal do mundo, é que irá convencer as pessoas de que Jesus é o nosso único Deus e Senhor, Salvador e redentor do homem, o amor DIVINO encarnado entre nós e levado até as últimas consequências.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP

2. Confissão de Pedro - Mt 16,13-20
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)

Eis outro aspecto da nossa vocação cristã: fomos chamados a edificar a Igreja. Conhecemos a história de São Francisco de Assis, que vivia cheio de dúvidas, à procura de alguma coisa que não sabia bem o que era. Entrou um dia na igrejinha de São Damião e se prostrou em oração diante do crucifixo. Ouviu, então, Jesus Crucificado lhe dizer: “Francisco, vai e repara minha casa que está em ruínas”. Francisco entendeu que se tratava da igrejinha de São Damião, que precisava de reparos. E foi o que fez, com muita dedicação, mas certamente Jesus falava da Igreja, da comunidade dos fiéis com seus pastores. Cada um de nós, e a Igreja toda, sempre precisamos de reparos.
A comunidade dos fiéis, seres humanos frágeis e limitados em busca da perfeição de Deus, está sempre enfrentando dificuldades.
O ser humano envelhece, corrompe-se, as coisas enferrujam-se. Daí a necessidade de uma constante revisão e até de uma reforma, sem perder a esperança, sem abandonar a fé, sem deixar de praticar a caridade. A comunidade chamada Igreja é santa e pecadora. Enquanto se difundem notícias de falhas e erros de membros da Igreja, ao mesmo tempo outros tantos membros da mesma Igreja estão praticando obras de misericórdia. Muitas Igrejas hoje separadas surgiram com a vontade de reformar a única Igreja de Jesus, sem querer fazer outra, mas há casos na história em que o projeto não foi uma reforma, e sim a criação de uma igreja com outros fins, alguns até lucrativos. Uma verdadeira reforma se faz de dentro para fora, mantendo a unidade sem romper a caridade. Cisma, que é separação, e heresia, que é mudança de doutrina, são incapazes de proporcionar uma verdadeira reforma.
No Livro de Isaías, Eliacim é o novo primeiro-ministro da corte de Jerusalém. Faz-se, portanto, a entrega das chaves do palácio real. As chaves são dadas à autoridade suprema da corte do rei. Ao entregar as chaves do Reino de Deus a Pedro, Jesus o constitui seu vigário para o governo do povo de Deus em Igreja peregrina nesta terra. Pedro recebeu o primado e a missão de confirmar a fé dos cristãos, mas não foi dispensado da conversão. Em São Lucas encontramos esta bela passagem na qual Jesus une o primado de Pedro com sua conversão. Jesus revela a Pedro que o demônio, como fez com Jó, pediu a Deus licença para peneirar os apóstolos como trigo, mas “eu orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos”. Satanás quer que os discípulos de Jesus sejam fortemente provados, assim como se peneira o trigo para separá-lo da palha. Todos podemos ser provados em nossa fidelidade a Cristo e ao Evangelho, mas todos, fazendo o mesmo esforço contínuo de reforma e conversão, chegaremos à Casa do Pai. Cristo está sempre intercedendo por nós para que nossa fé não desfaleça. “Sei em quem acreditei”, disse São Paulo.
Quando Pedro partiu para a Casa do Pai, deixou órfãos os seguidores de Jesus? O ministério de Pedro acabou? Quem hoje confirma a fé daqueles que não viram Jesus e não conheceram Pedro? Seria possível que o poder das chaves se esgotasse na pessoa de São Pedro, deixando os fiéis de todos os tempos à deriva no mar de interpretações e opiniões dadas pelo ser humano, e não pelo Pai do Céu? Por isso, afirmamos que os sucessores de Pedro recebem a mesma missão de confirmar os irmãos na fé e dizer com segurança quem é Jesus.

Homilia do 21º Domingo do Tempo Comum, por Pe. Paulo Ricardo


O preço da fé em Cristo

À pergunta de Cristo sobre quem dizem os homens ser o Filho do Homem, São Pedro responde, com coragem: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. A expressão “Filho do Deus vivo”, segundo alguns exegetas, seria fora de mão. É esse o mesmo Pedro que é chamado de “pedra de tropeço” mais adiante [1]? O mesmo apóstolo que quer fazer três tendas, durante a Transfiguração de Cristo, no monte Tabor [2]? O mesmo que nega Jesus três vezes em Sua Paixão [3]? Sim, é o mesmo Pedro, mas, ao contrário dessas ocasiões em que mostra sua pouca fé e suas imperfeições, agora, “não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. Realmente, o apóstolo não era capaz de fazer a profissão de fé que acabara de fazer. Por isso, Cristo diz que foi Deus a inspirá-lo.
Se é verdade que a fé de Pedro é a pedra em que a Igreja foi edificada, também é verdade que a transmissão do poder de Cristo ao apóstolo ainda é expressa no futuro: “...sobre esta pedra construirei a minha Igreja”; “Eu te darei as chaves do Reino...”. Esses fatos só acontecerão mesmo após a Ressurreição, quando Cristo pede que ele apascente as Suas ovelhas [4].
O trecho do Evangelho deste Domingo com certeza aconteceu, e antes da Ressurreição. Em primeiro lugar, não se pode desconsiderar a historicidade dos Evangelhos. Depois, São Mateus é muito honesto em seu livro, não pretendendo divinizar a figura de São Pedro, mas mostrando também narrativas que o desabonam. Além disso, esse trecho do Evangelho apresenta traços da língua falada por Nosso Senhor, o aramaico, fato que conta não só para confirmar a solidez da tradição desse acontecimento, como para respaldar a interpretação católica de que a pedra aludida por Cristo é realmente Pedro – afinal, como se sabe, a única palavra aramaica para “pedra” é cefas.
Mas a pedra sobre a qual Cristo edifica a Sua Igreja é Pedro não enquanto pessoa privada, senão enquanto primeiro crente, em referência à sua fé na divindade de Cristo, fé que é confirmada ao longo dos séculos por seus sucessores no trono de Roma. Por isso é sempre possível aos católicos amarem o Papa, ainda que nem todos tenham sido santos ou virtuosos: a fé no Romano Pontífice, mais que a reverência a uma pessoa, é a confiança numa instituição divina, o papado.
Pedro, por exemplo, embora tivesse sido iluminado em sua resposta, ainda era muito fraco na fé, não estando disposto a pagar o preço por crer na divindade de Cristo. E que preço é este? A Cruz. A mesma confissão de São Pedro aparece, em forma de pergunta, na passagem de Nosso Senhor diante do sinédrio: “O sumo sacerdote disse-lhe: ‘Eu te conjuro, pelo Deus vivo, dize-nos se tu és o Cristo, o Filho de Deus’” [5]. Ao responder afirmativamente, Jesus se expõe a cusparadas, bofetões e zombarias. Mesmo assim, dá testemunho da verdade e não nega a Sua divindade.
Em nossa sociedade, muitos aceitam Jesus como um “iluminado” ou um “grande líder espiritual”, mas poucos se mostram dispostos a crer que Ele é Deus feito homem e menos ainda estão prontos para pagar o preço por essa fé. Mais tarde, São Pedro, imitando Jesus, enfrentou as consequências daquilo em que cria, sendo também crucificado. E nós? Como lidamos com essa realidade?
Hoje, no Oriente Médio, os cristãos estão sendo duramente perseguidos pelo califado islâmico que se tem imposto nas regiões do Iraque e da Síria. Os muçulmanos, que, assim como muitos de nossos contemporâneos, veem em Jesus apenas um profeta, têm tentado impor sua religião a todos os habitantes dos territórios que conquistam. Para permanecerem fiéis a Cristo, exigem dos cristãos o pagamento de um imposto, o êxodo ou a morte pelo fio da espada. Tragicamente, enquanto chega a milhares o número de cristãos desabrigados no Médio Oriente, o mundo inteiro permanece de braços cruzados, como se nada acontecesse.
Não nos devemos surpreender com as perseguições. Se Cristo promete que “portae inferi non praevalebunt – as portas do inferno não prevalecerão” contra a Igreja, é porque certamente as potências infernais se desencadeariam contra ela. As palavras de Nosso Senhor, no entanto, são claras: non praevalebunt – não prevalecerão!
Rezemos para que tenhamos coragem e força de professar a nossa fé. Oremos particularmente por nossos irmãos perseguidos no Oriente Médio, para que não cedam às facilidades de trair Jesus e abandonar a própria fé.

Referências:
Mt 16, 23.
Cf. Mt 17, 4.
Cf. Mt 26, 69-75.
Cf. Jo 21, 15-19.
Mt 26, 63.
Fonte: Reflexões Franciscanas em 24/08/2014

HOMILIA

TU ÉS O FILHO DO DEUS VIVO

Estamos diante de uma visão pós-pascal, e esta estaria ligada a uma aparição pessoal de Jesus ressuscitado a Pedro; uma aparição igual à que Paulo teve no caminho de Damasco. E o múnus conferido pelo Senhor a Pedro está radicado no relacionamento pessoal que o Jesus teve com o pescador Simão, a partir do primeiro encontro com ele, quando lhe disse: Tu és Simão... chamar-te-ás Cefas.
Sempre nos Evangelho, a confissão de Pedro é seguida pelo anúncio, da parte de Jesus, da sua iminente paixão. Um anúncio diante do qual Pedro reage, porque ainda não consegue compreender. Contudo, trata-se de um elemento fundamental, motivo pelo qual Jesus insiste sobre ele vigorosamente. Com efeito, os títulos atribuídos a Ele por Pedro Tu és Cristo, Cristo de Deus, o Filho de Deus vivo compreendem-se de maneira autêntica, unicamente à luz do mistério da sua morte e ressurreição. E também o contrário é verdade: o acontecimento da Cruz somente revela o seu sentido integral, porque este homem, que padeceu e morreu na cruz, era verdadeiramente o Filho de Deus, para utilizar as palavras pronunciadas pelo centurião diante do Crucificado (cf. Mc 15, 39). Estes textos dizem claramente que a integridade da fé cristã é dada pela confissão de Pedro, iluminada pelo ensinamento de Jesus sobre o seu caminho rumo à glória, ou seja, sobre o seu modo absolutamente singular de ser o Messias e o Filho de Deus. Um caminho estreito, um modo escandaloso para os discípulos de todos os tempos, que inevitavelmente são impelidos a pensar em conformidade com os homens, e não segundo Deus (cf. Mt 16, 23). Também hoje, como na época de Jesus, não é suficiente possuir a justa confissão de fé: é necessário aprender sempre de novo do Senhor, o seu próprio modo de ser o Salvador e o caminho ao longo do qual segui-lo. Com efeito, temos que reconhecer que, também para o fiel, a Cruz é sempre dura de aceitar. O instinto impele a evitá-la, e o tentador induz-nos a pensar que é mais sábio preocupar-nos em salvar-nos a nós mesmos, do que perdermos a própria vida por fidelidade ao amor, por fidelidade ao Filho do Deus que se fez homem.
O que era difícil aceitar, para as pessoas às quais Jesus falava? O que continua a sê-lo também para muitas pessoas de hoje? Difícil de aceitar é o fato de que Ele pretende ser não somente um dos profetas, mas o Filho de Deus, e reivindica para si a mesma autoridade de Deus. Ouvindo-o pregar, vendo-o curar os doentes, evangelizar os pequeninos e os pobres e reconciliar os pecadores, gradualmente os discípulos conseguiram compreender que Ele era o Messias, no sentido mais elevado deste termo, ou seja, não apenas um homem enviado por Deus, mas o próprio Deus que se fez homem. Claramente, tudo isto era maior do que eles ultrapassavam a sua capacidade de compreender. Podiam expressar a sua fé com os títulos da tradição judaica: Cristo, Filho de Deus, Senhor. Mas para aderir verdadeiramente à realidade, aqueles títulos deviam de alguma forma ser redescobertos na sua verdade mais profunda: o próprio Jesus, com a sua vida, revelou o seu significado integral, sempre surpreendente, até mesmo paradoxal em relação às concepções correntes. E a fé dos discípulos teve que se adaptar progressivamente. Ela se nos apresenta como uma peregrinação que tem o seu momento primário na experiência do Jesus histórico encontra o seu fundamento no mistério pascal, mas depois deve progredir ainda mais, graças à ação do Espírito Santo. Esta foi, é e será a fé da Igreja ao longo da história; é a nossa fé, meu irmão e minha irmã. Solidamente alicerçada na rocha de Pedro, é uma peregrinação rumo à plenitude daquela verdade que o Pescador da Galileia professou com uma convição apaixonada: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
Fonte: Liturgia da Palavra em 24/08/2014

Quem é Jesus para você?

Como nós precisamos responder com a vida, com as nossas atitudes e com o nosso coração quem é Jesus para nós!

Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16, 16).

Já se passaram dois mil anos da vinda e da vida do Senhor entre nós, e quem dizem os homens ser Jesus? Aliás, é a pergunta que Deus faz a mim e a você: Quem é Jesus para nós? Pode ser que para alguns Ele seja um grande profeta – assim O consideram nossos irmãos muçulmanos. Pode ser que para outros Ele seja um grande rabino, um sábio e grande conhecedor – assim O consideram nossos irmãos judeus. Para outros, Jesus foi apenas mais um homem que passou entre nós, dizem talvez aqueles que não têm fé ou cuja fé não seja voltada para a pessoa de Jesus Cristo.
Mas, e para nós que vamos à igreja e que participamos das coisas de Deus, será que no fundo da nossa alma e do nosso coração nós realmente já o descobrimos ou tivemos um encontro pessoal com esse Mestre Jesus a ponto de responder e dizer quem, na verdade, é Ele para nós!?
Ah, meus irmãos, como nós precisamos responder com a vida, responder com as nossas atitudes e com o nosso coração quem é Jesus para nós, quem Ele é em nossas vidas! Essa não é uma resposta teórica, não é uma resposta vinda de estudos, de conhecimentos científicos; nem é uma resposta teológica, teologal! É uma resposta que vem do fundo da alma que fez uma experiência pessoal com Jesus.
Quem O encontra e quem experimenta a vida de Jesus pode responder quem, na verdade, Ele é. Pedro, com seu jeito mais entusiástico e entusiasmado de ser, respondeu com uma precisão sem igual, ele foi no fundo da experiência que estava fazendo dia a dia com o Mestre Jesus e disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Foi por causa dessa profissão de fé, porque Pedro realmente professou com o coração, com a vida e reconheceu em Jesus o Messias e o Senhor, que Jesus confiou a ele a autoridade e a responsabilidade por Sua Igreja (Mt 16, 18 ss).
A nossa fé é fundamentada na profissão de fé do apóstolo Pedro, no reconhecimento da messianidade de Jesus, no reconhecimento de que Jesus não é simplesmente o Jesus de Nazaré, um pregador, um rabino; não! Para nós, Jesus é o Cristo, o Messias, o Senhor, o enviado, o ungido de Deus. E se Cristo é tudo isso, Ele é a resposta maior, última, definitiva, por excelência, do amor de Deus para cada um de nós.
Descubramos Jesus, tenhamos um encontro pessoal com Ele, permitamos realmente que Ele seja o Senhor de nossa vida. Não é hora de aprofundarmos os nossos conhecimentos e teorias a respeito do Mestre; mas sim de crescermos na intimidade, na vida mística, na oração, na contemplação e na meditação dos valores que Ele mesmo nos ensinou a viver.
Nós precisamos mostrar ao mundo quem é Jesus; e mostrar para o mundo quem é Ele não é simplesmente gritar: “Olha, Ele é o Senhor, Ele é Deus!” Mostrar quem é Jesus, para o mundo, é mostrar com a nossa vida e por intermédio daquilo que nós vivemos que Jesus é a razão e o sentido do nosso viver!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 24/08/2014

Oração Final
Pai Santo, que quiseste estar tão perto de nós que enviaste teu Filho Unigênito para se encarnar na humanidade de Jesus de Nazaré, faze-nos conhecê-lo cada dia melhor para chegarmos mais próximos de Ti e, assim, darmos graças pelo teu inefável Amor. Pelo mesmo Cristo Jesus, na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 24/08/2014

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