domingo, 22 de março de 2020

HOMÍLIA DIÁRIA, COMENTÁRIO E REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DIA 22/03/2020

ANO A


4º DOMINGO DA QUARESMA

Ano A - Roxo ou Róseo

“Eu sou a luz do mundo” Jo 9,5

Jo 9,1-41

Opcional

Jo 9,1.6-9.13-17.34-38

Ambientação

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Seguindo nossa caminhada quaresmal, somos convidados a acolher o Cristo, Luz do mundo, de modo a superarmos nossas segueiras espirituais que afastam-nos de Deus e do próximo. Peçamos a graça de, em meio a escuridão da vida, irradiar o clarão da luz divina, banindo da existencia as trevas do erro.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, neste quarto domingo de nossa caminhada quaresmal, viemos ao encontro do Senhor para que Ele nos ofereça sua luz e assim possamos ver com os olhos da fé. Pelo nosso Batismo, recebemos a luz de Cristo; por ela, queremos ser reconhecidos como filhos da luz. Que esta Eucaristia nos ajude a preparar bem a Páscoa que se aproxima e a manifestar a luz do Senhor a todos com quem nos encontrarmos.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Como a água, também a luz, com seu oposto, a escuridão - é um dos símbolos fundamentais da existência humana e da reflexão religiosa. No relato do Gênesis, Deus, pela criação da luz e sua separação das trevas, põe ordem e distinção no caos primitivo, e o torna um cosmos cognoscível e depois habitável. Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus veio habitar no meio de nós. Vida e luz de todo ser vivo, ela ilumina com nova luz aquele que crê na Palavra feita homem, na mensagem tornada pessoa viva, concreta e histórica, no Filho de Deus invisível que dá a conhecer o Pai. Esses são os grandes temas desenvolvidos por oão desde o prólogo do seu evangelho, e ilustrados através de uma série de "sinais", diante dos quais só há uma alternativa: responder sim ou não, sem atenuantes.

QUEM PECOU PARA QUE NASCESSE CEGO?

Toda a criação é obra de Deus e uma expressão do Seu amor gratuito e infinito. Na ordem da criação o ser humano ocupa o primeiro lugar, porque carrega, em si mesmo, a imagem e semelhança de Deus. O pecado estabelece uma separação, como uma ferida, que separa a criatura do seu Criador. O pecado é uma desconfiança do amor e uma vez que a pessoa humana não confia mais em Deus, ela está doente, precisando de médico e cura. Mas a cura não é simples e um médico que tenha grande conhecimento da natureza humana.
Jesus, o Filho de Deus, não é apenas um conhecedor externo da natureza humana, mas ele a assumiu plenamente. Ele é o caminho da cura para pecado. Por de sua pregação e de seus gestos, Jesus anunciou e confirmou essa verdade. Porém muitos, como os fariseus e mestres da lei, colocaram em dúvida sua palavra e atitudes, levantando questões difíceis de serem respondidas. Será que a culpa de uma pessoa pode ser transferida para outra pessoa? Será que um inocente deve pagar por um culpado? Será que os filhos são responsáveis pelo pecado dos pais?
A questão que está em jogo é a transmissão da culpa e quem tem a capacidade de encerrar esse ciclo. Ao encontrar-se com o cego Jesus age de maneira muito simples, sem perguntas ou considerações de condenação. Ele fez lama com sua saliva, passou nos olhos do cego e depois que ele se lavou, ficou curado. A cura de um cego de nascença é um fato extraordinário, que causa espanto e dúvida. Será que ele realmente era cego? Será que tudo não passou de uma encenação teatral? Será que seus pais e vizinhos estão participando disso?
O pecado tem consequências, que as vezes atinge outras pessoas. Mas isso não quer dizer que alguém deve pagar pelos pecados de outra pessoa, não é uma simples lei de ação e reação. Aquele homem nasceu cego, como tantas outras pessoas nascem assim. A cegueira mais aguda foi revelada pelos fariseus e mestres da Lei, por não serem capazes de reconhecer a ação de Deus. Jesus foi e é capaz de curar o mal físico, e ele também pode perdoar pecados, mas para isso é preciso deixar que ele abra os nossos olhos.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo auxiliar de São Paulo

Comentário do Evangelho

A fé batismal é iluminação

Este texto do evangelho de João pode ser caracterizado como uma catequese sobre a fé, num contexto batismal. Temática, aliás, muito apropriada para o tempo da Quaresma, pois, além de ser um itinerário penitencial, esse tempo de preparação para a Páscoa do Senhor é um convite a aprofundarmos a nossa vocação cristã a partir do Batismo. O texto, grosso modo, é a afirmação de que a fé que recebemos é iluminação. É pela fé que chegamos a contemplar e professar a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré.
É preciso, antes de tudo, ter presente essa afirmação que está no centro do trecho do livro de Samuel: o Senhor não vê a aparência, mas o que está no coração (cf. 1Sm 16,7). O Senhor não julga à maneira dos homens. Deus não se deixa levar pela aparência. No contexto da Quaresma, e para além dela, somos convidados a desejar ver para além das aparências, e considerar o coração, o que a pessoa efetivamente é. Aí não há engano. O que transforma o nosso olhar e faz com que seja semelhante ao olhar de Deus sobre cada pessoa é a fé, que é iluminação.
No centro do evangelho de hoje está a afirmação de Jesus: “Enquanto eu estou no mundo eu sou a Luz do mundo” (v. 5). O que interessa nesse relato do cego de nascença não é propriamente a sua cura, palavra, aliás, que não figura no texto, mas o seu itinerário de fé, itinerário ao fim do qual ele chega a professar que Jesus é o Senhor (v. 38). Quando foi expulso da sinagoga, imagem dos cristãos expulsos da sinagoga, era a fé em Jesus que o sustentava. O seu itinerário é um caminho de amadurecimento da fé, que o permitiu professar a fé ao modo de Tomé no final desse mesmo quarto evangelho (Jo 20,28). Tomé passa da dúvida e da tentação de querer chegar à fé por si mesmo a uma adesão incondicional à pessoa de Jesus Cristo. O Senhor professado pelo que antes era cego não é alguém distante, mas uma pessoa que fala com ele, que entra em diálogo com ele (cf. Jo 9,35-38), aquele que lhe abriu os olhos. A mesma luz que faz o cego ver, cega os que pensam ver. É Deus, e somente Ele, que faz com que a luz brilhe nas trevas. Que o Senhor nos conceda sempre a luz da fé e, por ela, mantenha acesa em nós a chama da esperança. Que Deus nos dê a todos a graça da coragem, da audácia, do testemunho que brota e é exigido da fé em Jesus Cristo.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, abre meus olhos para que eu reconheça Jesus como teu Messias Salvador. Livra-me da cegueira provocada por falsos raciocínios, mesmo com roupagem religiosa.
Fonte: Paulinas em 30/03/2014

Vivendo a Palavra

O fato essencial é inquestionável e não pode ser negado: o cego de nascença ficou curado. A discussão se perde, então, no detalhe: era dia de sábado... João descreve longa e minuciosamente a cena para nos lembrar que ela não é estranha à nossa cultura. Somos mestres em discutir detalhes, esquecendo-nos do essencial da Vida.
Fonte: Arquidiocese BH em 30/03/2014

VIVENDO A PALAVRA

O fato essencial não pode ser negado: o cego de nascença ficou curado. A discussão se perde, então, no detalhe: era dia de sábado… João descreve longa e minuciosamente a cena para nos lembrar que ela não é estranha à nossa cultura. Somos mestres em nos perder em detalhes, esquecendo-nos do essencial da Vida.
Fonte: Arquidiocese BH em 26/03/2017

VIVENDO A PALAVRA

O fato essencial não pode ser negado: o cego de nascença ficou curado. A discussão se perde, então, no detalhe: era dia de sábado… João descreve longa e minuciosamente a cena para nos lembrar que ela não é estranha à nossa cultura. Somos mestres em nos perder em pormenores, esquecendo-nos do essencial: a Vida!

Reflexão

I. INTRODUÇÃO GERAL

Os textos bíblicos deste domingo refletem sobre a luz divina que se manifesta na história humana. Deus se revela ao mundo de modo original e surpreendente. É soberano em suas decisões e não se deixa levar pelas aparências. Nas pessoas pobres e frágeis, ele manifesta a grandeza de seu amor. Escolhe Davi, um humilde pastor, para governar o seu povo com justiça (I leitura). Deus envia seu Filho ao mundo como expressão máxima de sua bondade. Jesus solidariza-se com as pessoas necessitadas e oferece-lhes vida saudável e íntegra: cura a cegueira, liberta o ser humano de toda espécie de opressão e ilumina o caminho dos que se encontram desorientados (evangelho). O texto da carta aos Efésios incentiva a comunidade cristã a viver como filhos da luz, renunciando às obras próprias das trevas e praticando cotidianamente a bondade, a justiça e a verdade (II leitura). Deus é luz. Portanto, quem vive em Deus se torna uma pessoa iluminada: é autêntica e livre, pois nada tem a esconder ou do que se envergonhar.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (1Sm 16,1b.6-7.10-13a): Deus não leva em conta as aparências

Na tradição bíblica, Davi é um dos personagens mais lembrados pelo povo. Ao redor de seu nome criou-se verdadeiro movimento. É a figura do governante “segundo o coração de Deus”, rei que segue a justiça e não despreza os pobres. A primeira leitura deste quarto domingo da Quaresma narra a eleição de Davi.
Samuel foi um dos últimos juízes de Israel. Viveu a fase conflituosa de transição entre o tribalismo e a monarquia. É um homem de Deus. Sofre muito quando o povo pede a mudança de regime (cf. 1Sm 8). Conforme o mandato divino, busca reconhecer, entre vários irmãos, qual seria o escolhido para governar o povo. Após analisar os sete filhos de Jessé, Samuel declara que nenhum deles havia sido chamado por Deus. O menor deles, ausente por estar cuidando do rebanho, é o eleito. A unção é o meio pelo qual se confere uma missão sagrada. É significativa a transmissão do cargo realizada por Samuel. Tendo a função de juiz de Israel, transmite a Davi o que ele próprio considera ser a vontade divina. O governo deve ser realizado sob a autoridade de Deus.
A eleição de Davi é uma narrativa popular que transmite importante conteúdo teológico e sociológico. Deus não se deixa conduzir pelas aparências. Ele conhece o coração de cada pessoa e, por isso, chama os que se encontram em último lugar para realizar o seu plano na história. Como dirá Jesus: “Muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos, primeiros” (Mt 19,30). Sociologicamente, é um texto de denúncia ao poder monárquico e de valorização dos caminhos alternativos que emergem com a mobilização dos pequenos e marginalizados.

2. Evangelho (Jo 9,1-41): Jesus é a luz do mundo

O Evangelho de João aprofunda a identidade de Jesus narrando sete sinais. Um deles é a cura de um cego de nascença. Esse sinal reflete o debate existente nas comunidades joaninas entre os cristãos e o grupo de judeus apegados ao legalismo religioso. Conforme podemos perceber no texto, a cegueira era considerada um castigo divino, seja pelos pecados da pessoa, seja pelos de seus antepassados. Um dos agravantes muito sérios para o cego era o seu impedimento de ler a Sagrada Escritura e estudar a Lei, sendo, por isso, considerado um ignorante da vontade de Deus.
Segundo o mesmo Evangelho de João, Jesus veio “para que todos tenham vida, e vida em abundância” (10,10). Sua prática não está atrelada à ideologia da pureza dos líderes religiosos judaicos. Ele conhece suas intenções e seus interesses: “São cegos guiando outros cegos” (Mt 15,14). Diante da pergunta sobre “quem pecou”, Jesus procura “abrir os olhos” dos próprios discípulos, pois também eles estão contaminados com a ideologia dos doutores da Lei. Em vez de achar um culpado, Jesus põe a situação da cegueira em relação direta com o plano de Deus, que resgata a dignidade do ser humano. As “obras de Deus” são realizadas agora por Jesus, a Luz do mundo. Acontece em Jesus o que foi anunciado pelo profeta Isaías, quando este se referiu ao “Servo de Javé” como “luz das nações” (Is 49,6).
Jesus, em caminhada, vê o cego de nascença e toma a iniciativa de curá-lo. Ele o faz por meio da junção de dois elementos: a terra e a saliva. Formam o barro, que lembra a criação do ser humano, conforme descreve o livro do Gênesis: “Deus modelou o homem do barro” (2,7). A ação de Jesus visa recriar a pessoa, oferecendo-lhe nova vida. Conforme o pensamento da época, a saliva transmite a energia vital da pessoa. Portanto, a energia divina de Jesus possibilita a cura.
A graça divina, porém, não exclui o empenho humano. A cura e a libertação que Deus oferece não se dão de modo mágico. O cego deverá seguir a palavra de Jesus e lavar-se na piscina de Siloé, que significa “Enviado”. É convidado a aceitar livremente a luz que Jesus lhe oferece. Seguir o caminho apontado por Jesus significa entrar no processo de conquista de liberdade e autonomia. De fato, o cego recuperará a visão e também a capacidade de pronunciar livremente as próprias palavras, já não oprimido pelo legalismo dos fariseus e também já não dependente de seus pais, representativos da tradição que buscava “segurar” sob sua guarda os filhos de Israel. A conquista da visão verdadeira passa por processos de conflitos e crises, pois mexe com as concepções dominantes. Uma pessoa livre, conduzida por profundas convicções, torna-se ameaça para o poder constituído, pois este procura impor “obrigações”, mantendo a consciência do povo alienada.
O cego de nascença, junto com a recuperação da vista, recebe de Jesus o dom da fé e torna-se seu discípulo. No relato de sua cura aparece, várias vezes, o verbo “nascer”. Demonstra íntima ligação com o episódio do encontro de Nicodemos com Jesus, que lhe indica o caminho do “novo nascimento”. Podemos, então, discernir em que consiste a recuperação da verdadeira visão: é renascer, pela fé, acolhendo a Jesus e deixando-se conduzir pela sua palavra: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). A tradição cristã vai interpretar o ato de lavar-se na piscina de Siloé como o símbolo da regeneração cristã pelo batismo.

3. II leitura (Ef 5,8-14): Viver como filhos da luz

São Paulo, em seus escritos, dedica-se de modo muito especial à tarefa de aprofundar a vida nova que provém da fé em Jesus Cristo. O texto da carta aos Efésios é reflexo dessa teologia paulina. Demonstra a preocupação de manter a comunidade cristã no caminho do amor, “do mesmo modo como Cristo amou e se entregou por nós a Deus” (5,1).
Existem dois caminhos: o das trevas e o da luz. O caminho das trevas era bem conhecido pelos cristãos de Éfeso. Pelo que se constata ao ler o texto, muitos deles, antes de sua adesão a Jesus Cristo, experimentaram um modo de viver alicerçado no egoísmo, na avareza, na fornicação e em outras coisas vergonhosas que expressam uma vida nas “trevas”.
O caminho da luz se manifesta por uma vida em Cristo. Ele não só andou como filho da luz, mas revelou-se a Luz verdadeira. Ele não somente assumiu atitudes de amor, mas é a essência do amor. A pessoa unida a ele também é filha da luz: sabe discernir “o que é agradável ao Senhor” e produz “frutos de bondade, justiça e verdade”. Quem se decide a seguir Jesus não só rompe com as “obras infrutuosas das trevas”, como também exerce a função profética de denúncia dessas obras. O que é mau e feito às ocultas deve ser trazido à luz, a fim de que se torne manifesto ao público e seja corrigido para o bem de todos. Quem segue Jesus jamais pode ser cúmplice da maldade, da corrupção, da mentira…
Jesus nos fez participantes da sua própria natureza divina. Portanto, tal como viveu Jesus – a Luz de Deus no mundo –, também nós temos a graça de viver de tal modo, que a luz divina brilhe no mundo por meio da inteireza do ser e da retidão do agir.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

– Viver como filhos da luz. Deus nos concede a liberdade de escolha: caminhar na luz ou nas trevas. São bem conhecidas as obras das trevas: corrupção, mentira, violência, hedonismo e tudo o que prejudica o ser humano e a natureza. É tempo de revisão de vida e de conversão: Deus nos oferece a oportunidade de sair das trevas para a luz. O discípulo missionário de Jesus escolhe o caminho da verdade, da justiça e da bondade; assume o risco de ser autêntico e se empenha na construção de outro mundo possível.

Celso Loraschi
Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos, professor de evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de Santa Catarina (Itesc).
E-mail: loraschi@itesc.org.br
Fonte: Vida Pastoral em 30/03/2014

Reflexão

CRISTO, LUZ DA HUMANIDADE

Como a água, a luz tem um significado forte na liturgia. Luz é sinal de vida, de alegria, ela dissipa as trevas da noite, é símbolo da própria presença de Cristo. O relato do evangelho de hoje tem também forte conotação batismal: o gesto de Jesus de fazer lama com a saliva e colocá-la nos olhos do cego lembra a criação do homem do barro e a unção com o óleo, e o lavar-se na piscina simboliza a água com a qual sebatiza. O relato não deve ser tomado como “milagre”, mas é um “sinal” – como o próprio evangelista o define – que faz um apelo à fé em Cristo e aponta para as exigências do reino de Deus.
Neste relato, temos dupla progressão: a do cego, que passa das trevas à luz, e a das autoridades, que se deixam envolver cada vez mais pelas trevas. A iluminação do cego é progressiva: para ele Jesus é um homem (v. 11), é um profeta (v. 17), procede de Deus (v. 33) e é Senhor (v. 38). Em contrapartida, a cegueira progressiva das autoridades, que resistem a compreender e não querem ver: estão divididas, mostram-se cheias de certezas, recorrem ao insulto e, por fim, à expulsão.
O texto descreve o caminho interior que toda pessoa pode trilhar até encontrar-se com Jesus, luz do mundo, e – após ser iluminada por ele – se comprometer com seu projeto. O caminho se iniciou com a cura física; depois, aos poucos, o “cego curado” vai aderindo a Jesus.
Diz o ditado que “o pior cego é aquele que não quer ver”: este, nem um milagre consegue transformar. Curar o cego foi relativamente fácil para Jesus; o mais difícil é curar as autoridades que dizem ver bem, mas continuam obstinadas na sua cegueira e hipocrisia. Difícil é mudar a visão daqueles que têm solução para todos os problemas, que privilegiam o “código” em detrimento da vida, que detêm o monopólio da verdade, que utilizam seu saber para manipular e seu poder para desprezar sempre mais os grupos discriminados.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 30/03/2014

Reflexão

CRISTO, LUZ DA HUMANIDADE

Como a água, a luz tem um significado forte na liturgia. Luz é sinal de vida, de alegria, ela dissipa as trevas da noite, é símbolo da própria presença de Cristo. O relato do evangelho de hoje tem também forte conotação batismal: o gesto de Jesus de fazer lama com a saliva e colocá-la nos olhos do cego lembra a criação do homem do barro e a unção com o óleo, e o lavar-se na piscina simboliza a água com a qual se batiza. O relato não deve ser tomado como “milagre”, mas é um “sinal” – como o próprio evangelista o define – que faz um apelo à fé em Cristo e aponta para as exigências do reino de Deus.
Neste relato, temos dupla progressão – em sentido oposto: a do cego, que passa das trevas à luz; e a das autoridades, que se deixam envolver cada vez mais pelas trevas. A iluminação do cego é progressiva: para ele, Jesus é um homem (v.11), é um profeta (v.17), procede de Deus (v.33) e é Senhor (v.38). Em contrapartida, a cegueira progressiva das autoridades, que resistem a compreender e não querem ver: estão divididas, mostram-se cheias de certezas, recorrem ao insulto e, por fim, à expulsão.
O texto descreve o caminho interior que toda pessoa pode trilhar até encontrar-se com Jesus, luz do mundo, e – após ser iluminada por ele – se comprometer com seu projeto. O caminho se iniciou com a cura física; depois, aos poucos, o “cego curado” vai aderindo a Jesus.
Diz o ditado que “o pior cego é aquele que não quer ver” – este, nem um milagre consegue transformar. Curar o cego foi relativamente fácil para Jesus; o mais difícil é curar as autoridades que dizem ver bem, mas continuam obstinadas na sua cegueira e hipocrisia. Difícil é mudar a visão daqueles que têm solução para todos os problemas, que privilegiam o “código” em detrimento da vida, que detêm o monopólio da verdade, que utilizam seu saber para manipular e seu poder para desprezar sempre mais os grupos discriminados.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 30/03/2014

Reflexão

“OUTRORA ÉREIS TREVAS, MAS AGORA SOIS LUZ NO SENHOR. VIVEI COMO FILHO DA LUZ”.

Primeira Leitura: 1Sm 1b.6-7.10-13a;
Salmo 22 (23)
Segunda Leitura: Ef 5,8-14;
Evangelho: Jo 9,1-41.

Situando-nos brevemente

A época atual é cheia de contradições. Por um lado, oferece oportunidades de desenvolvimento pessoal e social, que as anteriores não tiveram sorte de encontrar. Por outro, estamos sofrendo aridez espiritual, desequilíbrios sociais, violência nas cidades, corrupção, guerras e fome endêmicas em algumas regiões do mundo, que obrigam milhões de pessoas a abandonarem os próprios países na esperança da busca de melhor condição de vida para si e para seus filhos. Ao longo desta autêntica ‘’travessia do deserto’’, muitas vezes as pessoas se tornam vítimas de traficantes cruéis que exploram a miséria delas até a perda da vida (Campanha da Fraternidade 2014).
‘’O pobre e o desamparado’’ – esta gritando repetidas vezes Papa Francisco – ‘’é a carne de Cristo!’’. O grito do amor rasga a cortina do silêncio culpado e tira o véu da cegueira voluntária. Indica o caminho da conversão para a Páscoa.
Os poderes fortes, políticos, econômicos, ideológicos conhecem bem estas tragédias, mas fazem conta de não ver, de não saber. Não querem ver que isso é fruto amargo e envenenado de um sistema político e econômico, que põe, ao centro, dinheiro e o lucro, em vez da pessoa humana.
Certas praças e ruas das grandes cidades do Brasil apresentam um rosto de humanidade desfigurada, parecido com o rosto sangrento de Lampedusa. Os poderes o ignoram. É melhor conduzir os olhos do povo para os sonhos reluzentes da Copa do Mundo...
Silenciosos e generosos discípulos e discípulas de Jesus, de dia e de noite, se aproximam a estes feridos da vida, como o bom samaritano ao homem assaltado pelos ladrões (cf. Lc 10,29-37), versam sobre suas pragas o óleo do consolo e oferecem um abrigo de esperança. E nas casas e nas ruas da vida cotidiana que Jesus estende suas mãos, com o cego de nascença. Cura a cegueira do egoísmo, faz enxergar o que o egoísmo procura esconder. A luz que vem de Jesus produz frutos de dignidade, de esperança e de alegria.
‘’Laetare, Jerusalém! – Alegra-te, Jerusalém!’’. Com o nome derivado da primeira palavra latina da antífona de entrada, este 4º domingo da Quaresma é denominado ‘’Domingo Laetare’’, dia de alegria e de luz que antecipa a grande alegria da Páscoa. ‘’Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com abundância de suas consolações!’’ (antífona de entrada – Is 66,10-1).
‘’Eis que a luz de cristo! Demos graças a Deus!’’ Eis o grito de alegria, com o qual a Igreja abre a grande Vigília da noite da Páscoa.

Recordando a Palavra

Irmãos, “outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Procedei como filhos da luz” (2ª leitura – Ef 5,8). O apóstolo destaca que, com o Batismo, não só gozamos da luz do Senhor para conduzir uma vida certa, mas também, em força desta relação vital para com ele, “somos luz” no Senhor, participamos do seu ser, da sua vida. Desta participação nasce a possibilidade e o chamado a viver como “filhos da luz”, isto é, a atuar e agir com o mesmo estilo.
Viver como filhos da luz significa viver segundo o Espírito filial e os critérios de avaliação da vida que correspondem à energia vital e à sabedoria do Espírito Santo. A situação da vida é, por sua natureza, sempre ambígua. Precisamos da luz para discernir entre o que vale de verdade e o que tem somente a aparência. “Discerni o que agrada ao Senhor e não tomeis parte nas obras estéreis das trevas, mais, pelo contrário, denunciai-as” (Ef 5,10-11).
O espírito da Quaresma nos convida a passar das aparências para a verdade profunda, em relação a nós mesmos e na relação com o Senhor, bem como com os irmãos. Esta passagem interior para a autenticidade é a Páscoa a viver cada dia mais, como diz a própria palavra “páscoa”.
O salmo responsorial (Sl 22), conhecido como o salmo do Bom Pastor, destaca como o caminho para a Páscoa feita é um longo caminho. Encontra desafios e riscos, mas o próprio Senhor cuida de nós, nos orienta, nos alimenta, nos sustenta em seus braços, nos momentos de cansaço e de perigo. “O Senhor é o meu pastor, nada me falta (...). Se eu tiver de andar por vale escuro, não temerei mal nenhum (...). Vou morar na casa do Senhor por muitíssimos anos” (Sl 22).
Nas homilias mistagógicas dos Padres da Igreja, bem como nas imagens que ornavam as paredes das igrejas antigas, a cena de Jesus que cura o cego de nascença (evangelho) ocupava lugar central.
No pano de fundo da narração, é fácil vislumbrar o caminho que na Igreja faz o catecúmeno, para chegar a celebrar, no Batismo, aquele encontro pessoal com Jesus, que muda seu coração e lhe dá uma luz interior que ilumina, de maneira radicalmente nova, a vida. É conveniente que, durante a Quaresma, a comunidade acompanhe com muita atenção, seguindo as etapas indicadas pelo Rito da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA), os adultos que eventualmente se preparam para receber o Batismo na Vigília Pascal.
Esta atenção pastoral com os catecúmenos adultos pode ser facilmente valorizada para animar também as famílias das crianças que, na mesma noite, vão receber o Batismo.
No relato, encontramos dois processos interiores que vão em sentido contrário. O cego passa através de um caminho de iluminação interior que o conduz a penetrar sempre mais profundamente o mistério de Jesus e sua relação pessoal com ele. Ao contrário, as autoridades se envolvem numa progressiva cegueira. Não querem reconhecer a manifestação e Deus em Jesus. A aceitação ou a recusa de Jesus se torna critério autêntico para avaliar as obras de cada pessoa e sua real escolha entre a luz e as trevas.
O oposto dinamismo, que encontramos na relação do cego e das autoridades judaicas com Jesus, se tornam um critério permanente para avaliar a relação de cada um com Jesus. Na minha vida de cristão, Jesus ocupa verdadeiramente o centro e se torna critério para orientar minhas escolhas cotidianas? Ou me deixo determinado pelo costume e pela conveniência social, por critérios de aparência, orgulho, até mesmo de medo?

Atualizando a Palavra

Nas catequeses dos Padres da Igreja, o Batismo era indicado como “iluminação”. Aqueles que tinham recebido o Batismo eram chamados de “iluminados”. Ainda hoje um significativo rito complementar da celebração do Batismo põe em evidência sua dimensão iluminadora, que abre o caminho para seguir Jesus e partilhar seus critérios de julgamento, que não olham as aparências enganadoras, mas a verdade profunda das coisas e das pessoas.  É o rito da vela batismal acesa no círio pascal e entregue ao batizado adulto ou aos pais e padrinhos da criança, com as palavras: “Recebe a luz de Cristo. Caminha sempre como filho da luz, para que, perseverando na fé, possas ir ao encontro do Senhor com todos os santos no reino celeste” (Rito da Iniciação dos Adultos (RICA). N. 265).
A luz/vida recebida no Batismo é uma potencialidade divina a desenvolver. É preciso deixar-se guiar pela luz interior do Espírito, procurando viver coerentemente segundo seus impulsos interiores. Ele conduz a um estilo de vida no qual se manifesta e resplandece a luz do próprio Cristo. Vivei como filhos da luz. O fruto da luz chama-se bondade, justiça, verdade. Discerni o que agrada ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas que não levam a nada; antes desmascarai-as (...) Desperta,tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá (cf. Ef 5,8-11;14).
Na linha da conformação progressiva a Cristo, realizada por sua luz transformadora, o caminho do discípulo, ao longo da vida, se torna um duro combate espiritual entre a luz de Cristo e as trevas do mundo que em nós habitam e nos circundam, e que tendem a nos ocupar novamente. É preciso fortalecer-se do poder de deus e revestir-se da armadura do Espírito e de todos os seus instrumentos (Ef 6,10-17).
Desde o início, a sorte do Verbo, que é a vida e a luz, é a de brilhar nas trevas, de encontrar oposição, mas as trevas não conseguem apreendê-lo, pois ele é a verdadeira luz que ilumina todo homem, ao vir ao mundo (cf. Jo 1,4-5;9).
Jesus falou ainda: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A luz, porém, encontra sempre oposição.
A saída de Judas da sala, na última ceia de Jesus com os discípulos, marca o cume da prepotência das trevas: “Depois do bocado, Satanás entrou em Judas (...). Depois de receber o bocado Judas saiu imediatamente. Era noite” (Jo 13,27; 30). No entanto a entrega de Jesus aos seus inimigos, em plena liberdade, se torna a raiz da liberdade dos discípulos frente à violência das trevas, ao longo da história.
Jesus afirma que também os discípulos, na medida em que se deixam envolver em sua experiência de total dedicação ao Pai, se tornarão eles mesmos luz irradiante da luz de Cristo para o mundo: iluminados e iluminadores. “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade construída sobre a montanha não fica escondida” (Mt 5,14).
Como Jesus, também os discípulos, exatamente por causa do contraste com o mundo, são destinados a enfrentar oposição e perseguição: “O servo não é maior que o seu Senhor. Se eles me perseguiram perseguirão a vós também. E se guardaram minha palavra, guardarão também a vossa” (Jo 15,20).
A crônica dos nossos dias, infelizmente, confirma esta palavra de Jesus. Quantos cristãos e cristãs estão pagando um preço muito alto pelo motivo de sua fidelidade a Cristo? Contudo as feridas deles se tornam luz que sustenta também nossa fé e nossa esperança.

Ligando a Palavra com a ação eucarística

O evento da páscoa de Jesus, com sua vitória sobre as trevas do pecado e da morte, constitui a origem e a meta do caminho do povo de Deus, que vai peregrinando na história, iluminado por Cristo. Sua celebração sacramental na noite da Páscoa constitui, por sua vez, a origem e a meta do caminho quaresmal que, a cada ano, se renova, para atingir, através do dinamismo do Espírito do ressuscitado, uma participação sempre mais profunda à vida de Cristo.
“Oh noite feliz, só tu soubeste a hora em que o Cristo da morte ressurgia; é por isso que de ti foi escrito: A noite será luz para o meu dia!” (Canto do Exultet – Proclamação da Páscoa).
A fé reconhece e proclama o evento da ressurreição de Jesus como o início de uma nova criação, que vive do reflexo da luz de cristo (cf. Gn 1,3).
A Eucaristia atualiza o evento pascal, em seu dinamismo transformador pelo Espírito derramado por Cristo e recebido na sua palavra e no seu corpo e sangue.
Iluminada por sua fé, a Igreja, depois da comunhão, experiência de encontro com Cristo luz, reza: “Ó Deus, luz de todo homem que vem a este mundo, iluminai nossos corações com o esplendor da vossa graça, para pensarmos sempre o que vos agrada e amar-vos de todo o coração.”
O encontro com Cristo, pela fé e pelo Batismo, na Eucaristia é aprofundado e atualizado, cada vez mais, e instaura um dinamismo de iluminação e transformação progressiva, que nos conduz a “pensarmos sempre o que vos agrada” (oração depois da comunhão), como acontece em toda autêntica relação entre as pessoas que se amam. O coração se torna sempre mais unificado no Senhor. O mandamento do Senhor – amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito (cf. Mt 22,37) – não é mais um dever ou uma fadiga, mas verdadeira alegria, livre de todo  medo e de toda conveniência religiosa, como convém a filhos e filhas.
O prefácio de hoje proclama o louvor ao Pai, estruturando as razões específicas de seu canto, a partir do evento do evangelho e de sua relação intrínseca com o Batismo. “Pelo mistério da encarnação, Jesus  conduziu a luz da fé à humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do Batismo”.
Este texto é um exemplo muito significativo de como nossa oração deveria deixar-se inspirar pela Palavra proclamada na liturgia ou meditada pessoalmente. A escuta da Palavra na fé produz a resposta confiante dos filhos e das filhas. A liturgia é grande mestre de vida espiritual e de oração.

Sugestões para a celebração

Ø Sobretudo no tempo da Quaresma – Páscoa, experimentamos a verdade profunda das afirmações do Papa Bento XVI sobre a importância do atual Lecionário das Missas: “A reforma desejada pelo Concílio Vaticano II mostrou os seus frutos, tornando mais ricos o acesso à Sagrada Escritura que é oferecida abundantemente, sobretudo nas leituras do domingo. A estrutura atual (...) favorece a compreensão da unidade do plano divino, através da correlação entre as leituras do Antigo e do Novo Testamento, centrada em cristo e no seu mistério pascal” (Exortação Apostólica Verbum Domini (2010), n.57). A partir dos textos de hoje, orientar os fiéis a esta leitura unitária da Sagrada  Escritura, iluminada pela centralidade de cristo e capaz de iluminar o caminho pessoal de cada um, no momento presente de sua vida.
Ø Seguindo o “espírito de alegria”, que caracteriza de maneira especial este quarto domingo e seu nome (“Laetare – Alegra-te”), se procure oferecer aos fiéis que chegam para participar da celebração uma acolhida simples e cordial, como convém quando se é acolhido na casa do Pai).
Ø O uso de acender velas em várias circunstâncias da vida religiosa e familiar, em sinal de honra e de festa, é muito difundido no povo. Tendo como referência o evangelho de hoje e sua conexão com a Vigília Pascal, se procure evidenciar, com apropriada catequese, a conexão entre o acender as velas e a Páscoa e o Batismo, destacando a relação com Cristo, luz da vida, e a vocação dos cristãos a tornarem-se luz na sociedade, pelo próprio testemunho de fé.
Ø Durante a Quaresma, se pode valorizar as etapas de aproximação ao Batismo, indicadas pelo Rito do Batismo dos Adultos (RICA), como etapas de todo caminho espiritual a ser renovado também pelos fiéis. De tal modo, a renovação das promessas do Batismo, feita na noite de Páscoa, exprimirá o alcance de uma verdadeira meta.
Ø Sugerir aos fiéis que rezem, com confiança e perseverança, o Salmo 22, como oração muito apropriada nos momentos de provação. Tempo muito propício para este diálogo íntimo com o Senhor pode ser a oração da noite, na conclusão do dia, remetendo tudo, alegrias e sofrimentos, às mãos do Senhor, como crianças por ele amadas.
Ø Os cantos para as celebrações quaresmais podem ser encontrados no CD da Campanha da Fraternidade  2014: Hino da CF 2014 e Cantos para a Quaresma Ano A.
Fonte: Roteiros Homiléticos da Quaresma, Março e Abril– CNBB 2014 - Ano A
Fonte: Emanarp em 30/03/2014

Reflexão

O capítulo 9 do Evangelho de João narra o sexto sinal de Jesus, a cura de um cego de nascença. Diante da dúvida dos discípulos (“Quem pecou para nascer cego: ele ou os pais?”), Jesus toma a iniciativa e cura o pobre homem, confirmando sua opção em favor dos necessitados. Esse gesto, realizado em dia de sábado, dá margem a longo diálogo entre o Mestre, o cego e as autoridades judaicas. O relato é rico em simbolismos, mas o objetivo último parece ser mostrar aos que passaram pela “piscina” (batismo) o compromisso de estarem com os olhos bem abertos para ver com clareza o caminho a seguir; além disso, mostrar que a verdadeira luz é Jesus. A luz é símbolo importante, no contexto humano e religioso. Cada cristão é um pouco luz e um pouco trevas; com o batismo, recebe o dom da fé, que necessita crescer e ser aprimorada ao longo da vida, até chegar à confissão do homem curado: “Eu creio, Senhor”. Fé testemunhada pelas obras.
Oração
Ó Jesus, luz do mundo, a cegueira espiritual nos torna insensíveis aos sinais de sofrimento dos irmãos e irmãs e nos impede de perceber a angústia dos oprimidos. Dá-nos, Senhor, a justa visão da realidade e a firme vontade de fazer prosperar o Reino de Deus. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))

Recadinho

Você procura notar a presença e manifestação de Deus em tudo? - Nosso dia de repouso é o domingo. Como você vive este dia? - Aproveite a oportunidade para renovar sua fé em Jesus Cristo. - Você pode dizer que faz sua parte para aliviar os sofrimentos do próximo? - Temos muitos sacramentais que a Igreja nos oferece. Cite um que lhe é muito caro.
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Fonte: a12 - Santuário Nacional em 30/03/2014

Meditando o evangelho

CEGUEIRA E VISÃO

As duas posturas diante dos sinais realizados por Jesus podem ser definidas como cegueira e visão. São a dos fariseus e a do cego de nascença. O incidente em torno da cura do cego revelou a cegueira dos fariseus e o alto grau de visão daquele que tinha sido curado. Tudo se define em torno da capacidade de confessar Jesus como o Messias, diante do testemunho de suas obras.
Os fariseus, aferrados aos seus esquemas mentais, recusavam-se a admitir que realmente foi Jesus quem restituíra a visão ao cego de nascença. Eles raciocinavam assim: as Escrituras afirmam que o Messias, quando vier, haverá de curar os cegos. Como o milagre tinha sido operado em dia de sábado e o Messias, no pensar deles, seria fidelíssimo às leis religiosas do povo; e já suspeitando de Jesus, concluíram que ele não se encaixava na categoria de Messias. Embora não encontrassem explicação plausível para a cura do cego, não mudavam suas idéias a respeito de Jesus. Eles pensavam que Jesus não podia ser de Deus, pois era um pecador.
O cego de nascença, porém, adquiriu tanto a visão física quanto a visão da fé. Tendo sido procurado por Jesus, e dando-se conta de tratar-se do Messias, prostrou-se diante dele, fazendo sua confissão de fé: "Eu creio, Senhor!"
Só quem, de fato, "vê", pode fazer a experiência de fé; não quem se deixa enganar por falsos esquemas teológicos.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Pai, abre meus olhos para que eu reconheça Jesus como teu Messias Salvador. Livra-me da cegueira provocada por falsos raciocínios, mesmo com roupagem religiosa.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. A LUZ QUE É CRISTO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Eis um evangelho longo e denso, riquíssimo em significado, no mesmo estilo da Mulher Samaritana, que não se tratou apenas de um acontecimento rotineiro á beira de um poço, o desse domingo vai nessa linha, inserido no rito de admissão dos catecúmenos, antigamente, os catecúmenos que iam ser admitidos como novos cristãos, passavam ao longo da quaresma por toda uma catequese e uma prova do seu testemunho de vida dentro e fora da comunidade, poderíamos dizer que o catecismo não ficava só na teoria, mas era exigida uma prática, uma postura de quem era realmente cristão e essa experiência de um encontro com Jesus era radicalmente transformadora: a Mulher Samaritana tornou-se outra, o cego curado por Jesus também se torna outra pessoa e a mudança de vida foi tão séria, que na comunidade não o reconheceram.
A narrativa apresenta a linguagem preferida do evangelista João: o antagonismo entre Luz e Trevas. Trevas, que  lembra sempre o caos, conforme relato do Gênesis, “No princípio as trevas cobriam a face do abismo...”, mas o Deus Criador transforma o Caos em Cosmos estabelecendo uma ordem harmoniosa na natureza, por isso as trevas tem essa conotação com as forças do mal a ponto do  Diabo ser chamado de “Príncipe das Trevas”em um dos sinóticos. Em Jesus Cristo Deus oferece aos homens a Luz Verdadeira, que sempre brilhou desde o princípio e que jamais será tragada pelas trevas, Deus nunca ofereceu as trevas, mas esta é uma possibilidade na vida do homem, que tem o livre arbítrio. Deus coloca somente a Luz, os que a rejeitarem é porque fizeram á sua opção pelas trevas.
Note-se que a iniciativa da cura é de Jesus, ele viu um homem cego de nascença, os descendentes de Adão nasceram em pecado, mas agora, o Verbo Encarnado, a Luz do Mundo, vai remodelar o homem, configurando-o á imagem e semelhança do Pai, o mesmo barro de argila, do qual foi feito o primeiro homem, será agora utilizado para recriar toda humanidade, o rosto de Jesus, é a primeira imagem que esse cego irá contemplar, em Jesus ele se encontra e encontra o próprio Deus, em Jesus a Luz do mundo, o homem não precisará mais esconder-se dos olhos de Deus. É a Humanidade recriada, vivendo uma nova aurora radiante, é o caos da existência humana, que em Jesus se torna Cosmos.
O cego que recupera a vista é também a experiência cristã de Judeus convertidos ao cristianismo, e que têm, a partir do conhecimento de Jesus, uma nova postura diante da vida e das pessoas, muda-se o parâmetro, agora não é mais o cumprimento da lei que traz a salvação, mas Crer em Jesus de Nazaré, tornar-se seu seguidor. Mas não há espaço para esse totalmente Novo, no meio das Velhas Tradições, as trevas insistem em ser maior que a luz e tentam dominá-la, não há lugar na comunidade judaica, para quem pensar diferente do que diz a Lei e os Profetas, já não há mais lugar, os estreitos horizontes de uma religião fechada em si mesmo, tornam-se estreitos demais para quem conheceu Jesus, vinho novo da graça de Deus requer barril novo, inverte-se o quadro, quem pensava enxergar torna-se cego, e quem era cego começa a Ver. Pertencemos todos a uma sociedade onde somos levados a enxergar com os olhos da ciência, da pura razão, A Fé é antes de tudo um conhecimento de outras realidades que estão inseridas na vida do homem precisamente a partir do mistério da encarnação, Deus se revela e se manifesta na História Humana, em acontecimentos reais de todos os dias da nossa vida, a Vida de Fé está intimamente ligada ao existir de cada homem.
Mas o homem arrogante e prepotente olha com desconfiança para a Fé, que constrói algo de novo ainda nesta vida, a partir de uma esperança escatológica.
A Palavra Fé soa como algo embolorado e ultrapassado, quase incompatível com a Vida da Pós Modernidade. Sem essa experiência, o homem caminhara a esmo, e jamais encontrará um rumo e um sentido para sua vida, andará sempre às apalpadelas, tateando aqui e ali, tentando encontrar algo que faça sentido e o que o leve a realizar-se como pessoa humana. É a cegueira espiritual, mil vezes pior e mais terrível que a deficiência visual, Jesus é a Luz, Nele sabemos quem somos e para onde estamos caminhando.
Em nossos tempos, marcados por tantos pontos escuros, e luzes tênues, que não conseguem iluminar o caminho de ninguém, as nossas comunidades precisam resgatar cada Batizado como um Iluminado, como eram chamados os neo batizados nos primeiros séculos do cristianismo. É preciso que o nosso testemunho seja idêntico ao do cego curado, a cada celebração Eucarística, em comunhão com os irmãos e irmãs da comunidade, possamos reafirmar a nossa Fé, prostrando-se diante daquele que é a Luz, e dizendo, com  todas as fibras do nosso coração :”Eu Creio Senhor”. (4º Domingo da Quaresma)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP

2. É uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus... - Jo 9,1-41
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)

Lavados nas águas do Batismo, saímos iluminados pela luz de Cristo. No rito batismal costuma-se acender uma vela no círio pascal. Acendemos nossa pequena vela no grande círio, significando nossa participação na luz de Deus. O círio representa Jesus, que é a luz do mundo. Na sua luz vemos a luz. A escuridão bloqueia a nossa visão. As coisas tomam forma quando a luz aparece. Jesus cura um cego de nascença e ele começa a enxergar. Uma discussão se arma em torno desse acontecimento. Quem é de fato cego e quem é pecador? O cego de nascença não era pecador. Pecadores eram muitos dos que o enxergavam. Pequenas luzes plantadas no mundo pela multidão dos batizados ilumina o universo todo. Mantenha acesa a sua luz. Ilumine o caminho de quem pensa ver e de fato não enxerga.

Homilia do 4º Domingo da Quaresma,
por Pe. Paulo Ricardo (Domingo Laetare)



Quem me segue não anda em trevas

Refletindo sobre o evangelho da cura do cego de nascença, nos damos conta de que a humanidade é dividida em dois grupos de pessoas: as que se abriram à luz de Cristo e começam a enxergar o mundo como ele realmente é; e as que permanecem fechadas a esta luz e veem o mundo distorcido pela cegueira do pecado.
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Meditação do Evangelho do cego de nascença, diretamente do local onde aconteceu: nas mediações da piscina de Siloé, em Jerusalém.
Fonte: Reflexões Franciscanas em 30/03/2014

HOMILIA

CREIO SENHOR

Apesar de Jesus ter dado a vista ao cego de nascença, ainda continuou a ser para ele um desconhecido. Não o vira quando Ele lhe untou os olhos com o lodo; só o ouvia dizer: «vai, lava-te na piscina de Siloé». Depois quando do seu encontro com Jesus, realizado só após algum tempo, travou-se esta conversa: «Tu crês no Filho do Homem?...»; «Quem é Ele, Senhor, para que n'Ele creia?»...; «Tu já O viste; é Ele que fala contigo». Respondeu: «Creio Senhor».
Esta passagem do Evangelho tem a sua particular motivação histórica na 4ª semana da Quaresma. Nos primeiros séculos o período de 40 dias foi, na Igreja, o tempo de preparação especial intensiva para o Batismo. Foi o tempo dedicado de modo especial ao catecumenato. Realizava-se deste modo, durante ele, o processo de conversão que é necessário considerar como o primeiro e mais fundamental: a conversão a Deus que nos dá a nova vida em Cristo. Devemos, de fato, ser mergulhados na sua Morte para nos tornarmos depois, no sacramento do Batismo, a nova criatura — participando, à custa desta Morte, na Sua Ressurreição. Para nos tornarmos o sujeito vivo do Mistério em que Deus renova, em cada um de nós, o homem velho criando-o de novo por meio da graça, à imagem do Seu Filho Unigênito.
Olhemos com atenção para o comportamento deste homem. Logo depois de receber a vista, torna-se objeto de interrogações e investigações. Primeiro, são-lhe feitas perguntas pelos conhecidos e vizinhos. Estes, em seguida, levam-no aos escribas e fariseus. Aqui muda o caráter das perguntas. Estes não se limitam ao pasmo diante do facto de um cego de nascença ter adquirido a vista. Nem ainda se limitam a aceitar — como os vizinhos e os conhecidos tudo o que ele declara, quer dizer, ter recebido a vista graças ao homem que se chama Jesus. Mais, procuram enfraquecer nele a certeza e levá-lo a negar precisamente esta verdade. Mas não podendo negar o fato, que é evidente — era incontestável que o cego de nascença agora via — procuram negar as circunstâncias e o significado do acontecimento. As circunstâncias: «Este homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado»... «Sabemos que esse homem é pecador». E o significado do fato, o que, precisamente para eles, é o mais importante: «Tu que dizes daquele que te abriu os olhos?». E ele respondeu: «Que é profeta».
A resposta perturba-os. Poderia ser perigoso caso se difundisse entre o povo (é preciso que Jesus de Nazaré seja considerado como pecador que transgride a lei do sábado). Os fariseus procuram influir nele por meio dos pais. Em vão. Todos os esforços destinados a desacreditar o Taumaturgo aos olhos do curado, acabam por gorar-se. Apertado por tais perguntas, ele mantém grande prontidão de espírito. Faz um raciocínio lógico e incontestável, e termina com as palavras: «Se Ele não fosse de Deus, nada poderia fazer». Os fariseus só podem mostrar desprezo e raiva: «Tu nasceste inteiramente em pecado e ensinas-nos a nós?». «E expulsaram-no».
Mas ele reconhecendo e acolhendo o dom de Deus se sente seduzido e encharcado por ele se aposta e arrisca toda a sua vida seguindo atrás de Jesus porque sabe que não se engana nem na vida nem na morte. Jesus é o caminho certo para o Reino do Céu.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
Fonte: Liturgia da Palavra em 30/03/2014

REFLEXÕES DE HOJE

22 DE MARÇO-DOMINGO


HOMILIA DIÁRIA

Cristo é a luz que ilumina a nossa vida!

Se hoje eu e você reconhecemos quão cegos andamos nesta vida, nos aproximemos de Jesus, aquele que é a Luz do mundo, e peçamos que Ele abra os nossos olhos e nos permita ver aquilo que a vida inteira não enxergamos.

E cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego” (João 9,6).

Este quarto domingo da Quaresma nos dá a graça de refletirmos sobre a luz e a cegueira. Primeira coisa, quem nasce cego ou torna-se cego, a grande dificuldade é não enxergar a luz; ele pode tocar, pode apalpar e perceber as coisas, mas lhe falta a luz da visão; a luz para enxergar o que acontece no dia a dia e assim por diante.
Certamente este não é o maior dos males e não é nenhum grande problema para a humanidade, porque há muitos cegos que têm uma visão interior muito mais profunda euma percepção das coisas, da vida e do mundo muito mais ampla do que nós que, muitas vezes, com dois olhos enxergamos só o que queremos e o que não devemos e não enxergamos o interior das coisas, da alma e a profundidade da vida.
Hoje, quando Jesus cura esse cego, Ele veio mostrar a situação interior em que se encontra a humanidade, na qual predomina uma verdadeira cegueira, na qual não somos capazes de enxergar a Luz de Deus, a bondade de Deus e a verdade onde a verdade se encontra. Não existe mal espiritual mais sério para um filho ou para uma filha de Deus ser cego ou tornar-se cego espiritualmente falando. Porque, quando a cegueira envolve o nosso ser, nós só conseguimos enxergar as coisas de forma limitada ou, muitas vezes, só aquilo que queremos enxergar. E assim nós não somos capazes de ver a mão de Deus, a ação de Deus agindo, também não somos capazes de enxergar a profundidade das coisas; vemos as coisas de forma superficial.
Quando estamos envolvidos por essa cegueira, não somos capazes de enxergar uns aos outros, a importância do outro em nossa vida, aquilo que o outro significa para nós; enxergamos a vida a partir de nós e somos o centro do mundo.
Esse tipo de cegueira é uma coisa terrível, porque quando nos tornamos cegos vamos nos atropelando uns aos outros, passamos em cima das pessoas e não enxergamos quem está do nosso lado, nem quem está à nossa frente. A cegueira nos leva a nos machucarmos uns aos outros e não nos dá a possibilidade e a sensibilidade de perceber o alcance daquilo que falamos ou fazemos para as outras pessoas.
Do outro lado, nós contemplamos Jesus, que veio para iluminar a humanidade, veio para abrir os olhos daqueles que estão cegos. Se hoje eu e você reconhecemos quão cegos andamos nesta vida, nos aproximemos de Jesus, aquele que é a Luz do mundo, e peçamos que Ele abra os nossos olhos e nos permita ver aquilo que a vida inteira não enxergamos; nos permita ser mais sensíveis a tantas realidades ao nosso lado e, acima de tudo, a enxergarmos onde está a Sua vontade e a Sua mão que conduz este mundo.
Que Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 30/03/2014

ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, envia o teu Espírito para discernirmos o que é essencial, importante, acessório, dispensável, inútil, ou mesmo prejudicial para nossa caminhada nesta vida. Ajuda-nos, Pai amado, a escolher a essência para seguir o Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão, e contigo reina na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 26/03/2017

ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, envia o teu Espírito para ajudar-nos a discernir o que é essencial, importante, acessório, dispensável, inútil ou até mesmo prejudicial para nossa caminhada nesta vida. Ajuda-nos, amado Pai, a escolher a essência para seguir o Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.

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