
Redação Nesta
quarta-feira (17), a celebração que abriu os trabalhos da 51ª Assembleia Geral
da CNBB homenageou os mais de trinta bispos afrodescentes, todos os sacerdotes
e a atuação da Pastoral Afro-brasileira no país. As orações foram dirigidas
principalmente ao povo quilombola – grupos étnico-raciais de ancestralidade
negra, presentes em 24 estados e divididos em mais de 3.500 comunidades, de
acordo com a Fundação Cultural Palmares.
“Hoje eu gostaria de agradecer a Deus, e
colocar junto ao pão e o vinho, a vida de tantos irmãos e irmãs afrodescentes
que testemunharam em vida a fé que receberam da Igreja”, iniciou o celebrante,
dom Zanoni de Castro, bispo de São Mateus (ES).
Durante a acolhida, foi lembrado o
aniversário de 125 anos da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que aboliu
a escravidão no Brasil em 1888. Em seguida, dom Zanoni citou grandes nomes que
lutaram ao longo da história em prol da causa negra, como Zumbi dos Palmares,
mestre Nagô e dona Cornélia, que lutou pelos direitos das empregadas domésticas
na década de 1980.
O celebrante ressaltou ainda que a história
da população afrodescente “é marcada pela exclusão social, econômica, política
e, sobretudo, racial, onde a identidade étnica é fator de subordinação social.
Eles são excluídos na iniciação do trabalho e no conteúdo escolar”.
Enfocando a realidade dos jovens no Brasil, o bispo se disse assustado:
“No Brasil, cresceu 157% o número de jovens negros assassinados, enquanto que o
dos não negros tem diminuído”.
Maria Cristina dos Anjos, diretora executiva
nacional da Cáritas Brasileira, acompanha a 51ª Assembleia e também participou
da celebração. “Acho muito bonito a CNBB refletir sobre a realidade do
povo negro. Acho que o Brasil tem dado passos importantes. Os processos
democráticos necessitam de orientações concretas. Por exemplo, as cotas formam
um elemento importante para o acesso à educação. Esse tem sido um passo
importante do Governo”, refletiu.
No entanto, a diretora afirma que por um lado
há o que se comemorar, mas por outro, muito a se lamentar: “Muitos homens
negros têm sido assassinados, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo,
sempre confundidos com bandidos. Tem que se avaliar o que há por trás disso”.
Ao fim da homilia, o bispo de São Mateus
desabafou dizendo: “Eu sou bispo de uma cidade que foi inflada sob o sangue de
oito mil índios e o sofrimento de milhares e milhares de escravos. São Mateus é
lugar onde foram criadas fazendas para reprodução de gente para a escravidão”.
E terminou pedindo a todos os presentes “que o compromisso evangelizador
assumido na Quinta Conferência (sic Episcopal
Latino-americana) permaneça no horizonte evangelizador da Igreja”.
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