ANO C

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano C – Verde
“Uma só coisa é necessária” (Lc 10, 42)
Lc 10,38-42
Ambientação
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Na Santa Missa sentimos a presença de Deus que nos comunica
sua vida. Adentramos o mistério do Altíssimo, e Jesus entra em nossa casa
dizendo ser “Uma só coisa necessária”: permanecer em comunhão com Ele. À
exemplo de Maria, escutemos o que o Senhor tem a nos falar.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE
DEUS: Irmãos em irmãs, aqui estamos como comunidade cristã,
acolhidos pelo Pai, como hóspedes em sua casa. Por Cristo e em Cristo Ele nos
entrega o Espírito de Amor, o “único necessário” e ceia conosco. Oferece-nos
assim, a sua intimidade, a sua “a melhor parte” que é a vida plena e a
participação em seu Reino. Como fiéis discípulos, sentemo- -nos aos pés de
Jesus e, em nossas vidas, tornemo-nos atentos e sensíveis a todos os irmãos.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus não
se comporta como um hóspede comum, também quando é recebido por amigos de longa
data, como Marta e Maria, ele exige atenção especial à sua mensagem e à sua
pessoa. Acolher Cristo hóspede é principalmente "ouvi-lo", por-se em
atitude de receptividade, mais do que de dar. É ouvindo-o que se entra em
comunhão com ele e se é transformado. Quem se preocupa mais com as coisas a dar
do que com a pessoa com quem se comunica, fica distante.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL PULSANDINHO: Cada
Eucaristia que celebramos é uma nova oportunidade para sentirmos a presença de
Deus que nos comunica a vida. É ele que nos acolhe como filhos. Ao celebramos a
Eucaristia, entramos na casa de Deus, e Jesus entra em nossa casa. Nós nos
sentamos aos pés do Mestre para escutar. E ele nos diz: "Um só coisa é
necessária", ou seja, a única coisa que nos pede é que entremos em
comunhão com ele e, por conseguinte, com seu projeto. Assumamos, nesta
celebração, a mesma postura de Maria: silenciar para escutar o que o Senhor tem
a nos dizer.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL O POVO DE DEUS: Deixemo-nos
visitar por Jesus e acolhamos, com Maria, irmã de Marta, a Palavra da salvação.
Assim seremos autênticos discípulos do Bom Mestre e missionários do seu
Evangelho. Nesta semana vivamos por meio da oração e da participação no que nos
for solicitado o grande evento da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de
Janeiro. É um tempo de graça que Deus nos concede, pois a juventude é
prioridade pastoral desde a Conferência de Puebla e semente de esperança para o
futuro da Igreja e do mundo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus não se comporta como um hóspede comum,
também quando é recebido por amigos de longa data, como Marta e Maria, ele
exige atenção especial à sua mensagem e à sua pessoa. Acolher Cristo hóspede é
principalmente "ouvi-lo", por-se em atitude de receptividade, mais do
que de dar. É ouvindo-o que se entra em comunhão com ele e se é transformado.
Quem se preocupa mais com as coisas a dar do que com a pessoa com quem se
comunica, fica distante.
Fonte: NPD Brasil em 21/07/2013
“UMA SÓ COISA É NECESSÁRIA...”
Enquanto o grupo de discípulos segue o seu caminho, Jesus entra
sozinho numa aldeia e dirige-se a uma casa onde encontra duas irmãs a quem
aprecia muito. A presença de Jesus, seu amigo, provoca nas mulheres duas
reações muito diferentes.
Maria, seguramente a irmã mais jovem, deixa tudo e fica “sentada
aos pés do Senhor”. A sua única preocupação é escutá-lo. O evangelista
descreve-a com os traços que caracterizam o verdadeiro discípulo: aos pés do
Mestre, atenta à sua voz, acolhendo a sua Palavra e alimentando-se dos seus
ensinamentos.
A reação de Marta é diferente. Desde que chegou Jesus, não faz
mais do que esforçar-se em acolhê-lo e atendê-lo devidamente. Lucas descreve-a
preocupada por múltiplas ocupações. Sobrecarregada pela situação e magoada com
a sua irmã, expõe as suas queixas a Jesus: “Senhor, não te importa que a minha
irmã me tenha deixado sozinha com o serviço? Diz-lhe que me ajude”.
Jesus não perde a paz. Responde à Marta com um grande carinho,
repetindo pausadamente seu nome; logo, faz-lhe ver que também a Ele o preocupa
a sua aflição, mas que deve saber que escutá-lo é tão essencial e necessário
que nenhum discípulo pode ficar sem a sua Palavra. “Marta, Marta, andas
inquieta e nervosa com tantas coisas; só uma é necessária”. “Maria escolheu a parte
melhor e não lhe será tirada”.
Jesus não critica o serviço de Marta. Como o poderia fazer se
Ele mesmo está a ensinar a todos com o Seu exemplo de viver acolhendo, servindo
e ajudando os demais? O que critica é o seu modo de trabalhar de forma nervosa,
debaixo da pressão de demasiadas ocupações.
Jesus não contrapõe a vida ativa e a contemplativa, nem a escuta
fiel da sua Palavra e o compromisso de viver na prática o Seu estilo de entrega
aos demais. Alerta sim, para o perigo de viver absorvidos por um excesso de
atividade, em agitação interior permanente, apagando em nós o Espírito,
contagiando o nervosismo e a aflição mais do que a paz e o amor.
Pressionados pela diminuição das forças, estamos a habituar-nos
a pedir aos cristãos mais generosos todo o tipo de compromissos dentro e fora
da Igreja. Se, ao mesmo tempo, não lhes oferecemos espaços e momentos para
conhecer Jesus, escutar sua Palavra e alimentar-se do seu Evangelho, corremos o
risco de fazer crescer na Igreja a agitação e o nervosismo, mas não o seu
Espírito e a Sua paz. Poderemos vir a encontrar-nos com comunidades animadas
por funcionários afligidos, mas não por testemunhas que irradiam o alento e a
vida do seu Mestre.
José Antônio Pagola
SERVIÇO E ATIVISMO
O dia a dia, a rotina, de cada um de nós está marcada pelas
atividades que realizamos, e não poucas vezes parece não haver tempo suficiente
para concluir tudo o que é preciso fazer. Algumas dessas atividades são
fundamentais, e não podem ser deixadas de lado, enquanto outras podem ser adiadas.
O problema é o acúmulo de coisas a serem feitas e a falta de tempo, e ainda
parece pior quando alguém que está próximo e poderia ajudar não o faz,
simplesmente permanece sentado ou fazendo alguma outra coisa sem importância.
Depois do início da sua vida pública, a passagem de Jesus por
algum povoado era sempre uma ocasião de grande movimentação. Seja por parte dos
curiosos que queriam vê-lo mais de perto, seja da parte de quem procurava por
uma cura, ou ainda, da parte de quem queria condená-lo. Num desses dias, em que
Jesus entrou num povoado, ele foi hospedar- -se na casa de Marta e Maria.
Podemos imaginar a movimentação para acolher uma pessoa tão conhecida,
juntamente como seus discípulos. Muito trabalho e pouco tempo para preparar
todo o necessário. Mas o que é realmente necessário?
Quando temos muitas coisas a serem feitas, é preciso ter
discernimento para ordenar aquelas que são mais urgentes e aquelas que podem
esperar um pouco. Na ordem das coisas que precisam de maior atenção, Maria
escolheu a primeira e a mais importante. A escolha de Maria não é uma rejeição
e nem um desprezo pelas muitas tarefas importes, mas é uma escolha na ordem da
precedência e da importância. Colocar- -se em atitude de atenção e escutar a
Deus que fala é a primeira escolha, e é também a escolha que marca a diferença
entre serviço e ativismo.
Marta estava preocupada e muito ocupada, e ela não tinha uma má
intenção, ela queria acolher e preparar tudo. Da mesma forma, algumas vezes, o
trabalho pastoral também acaba ocupando todo tempo. É importante cuidar e
atender, é importante distribuir aos necessitados e também é importante
preparar uma campanha nova. Tudo é importante, necessário e as vezes urgente: o
trabalho não pode parar. Mas é preciso parar e entrar no recolhimento silencioso
da intimidade com Deus, para não perder o verdadeiro sentido do serviço
cristão.
Nas palavras do Papa Francisco, “a Igreja não é uma ONG”. A
Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, Ressuscitado. Cabe à
Igreja o anúncio da Boa Nova do Evangelho e o serviço da caridade, como
consequência da fé. O trabalho sem a escuta é apenas ativismo, e por outro
ouvir sem colocar-se a serviço é falta de compromisso. É pela justa, e
necessária, relação entra a escuta e o serviço que acontece o testemunho da fé
cristã. Pela atitude de Maria, Jesus ensina o que vem primeiro.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo auxiliar de São Paulo
Comentário do Evangelho
Jesus aceita o convite das duas irmãs
O evangelho deste domingo está situado na parte
central de Lucas, a “subida de Jesus para Jerusalém”.
É preciso,
como ponto de partida, eliminar um equívoco, a saber, a oposição entre ação e
contemplação. Neste caso, Jesus daria prioridade à contemplação sobre a ação.
Aqui, a questão é bem outra: trata-se de receber
Jesus, de recebê-lo de verdade.
Foi Marta quem o recebeu: “… e uma mulher, de
nome Marta, o recebeu em sua casa” (v. 38). Daí que é não só precipitado, mas
uma má leitura do texto, desqualificá-la. Jesus aceita o convite de Marta.
Aliás, ele espera ser convidado: “... eis que estou à porta e bato: se alguém
ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele
comigo” (Ap 3,20). Nós temos sempre uma porta a abrir para acolher Jesus.
A fé em Jesus é hospitalidade – trata-se de
recebê-lo em si, em sua intimidade pessoal e familiar. E recebê-lo bem! Receber
bem é deixar o outro falar e se dispor a ouvi-lo. Escutar é um trabalho, exige
esforço.
Frequentemente, há muito barulho à nossa volta,
muito barulho em nós. Escutar alguém exige atenção. Escutar distraidamente,
continuando a fazer as tarefas, é um modo de dizer àquele que fala que o que
ele diz não tem nada de decisivo ou de importante. Escutar alguém exige, como
ponto de partida, admitir que ele possa ter razão no que diz. Nosso relato tem
um valor simbólico. Ele responde a uma questão fundamental para o cristão: o
que é ser, realmente, discípulo de Jesus? A lição deste episódio é que ele não
opõe duas opções. Ele afirma uma prioridade: escutar, receber uma palavra que
se instala em nós como um hóspede se instala em nossa casa.
O erro de Marta foi ter obstruído este tempo de
escuta, de ter considerado que receber Jesus é simplesmente preparar a mesa,
pôr pequenos pratos, como é o costume até hoje no Oriente. Marta queria
fazer-se apreciar.
Tal zelo acaba se transformando em tristeza,
amargura, inveja; ela estima que o seu trabalho não é reconhecido o bastante:
“Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço?
Manda, pois, que ela venha me ajudar!” (v. 40).
O texto é um apelo a dar prioridade a uma palavra
que precede tudo e que nos faz agir em consequência dela.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, que o meu agir não seja movido por um
ativismo insensível à palavra de Jesus. Antes, seja toda a minha ação
decorrência da escuta atenta desta palavra.
Fonte: Paulinas em 21/07/2013
Vivendo a Palavra
O Evangelho aborda o tema fundamental das nossas
opções de vida. Que tesouro nós estamos construindo e acumulando? Aquele que a
traça rói, a ferrugem consome e os ladrões podem roubar – ou o que permanecerá
para a eternidade? Somos Marta, ou Maria? Estamos preocupados com muitas
coisas ou nos entregamos confiantes ao Pai Misericordioso?
Fonte: Arquidiocese BH em 21/07/2013
VIVENDO A PALAVRa
O Evangelho aborda o tema fundamental das
nossas opções de vida. Que tesouro nós estamos adquirindo e acumulando? Aquele
que a traça rói, a ferrugem consome e os ladrões podem roubar – ou o que
permanecerá para a eternidade? Somos Marta, ou Maria? Estamos preocupados com
muitas coisas ou nos entregamos confiantes ao Pai Misericordioso?
Reflexão
QUAL É A MELHOR PARTE?
O evangelho deste domingo já forneceu matéria
para muita discussão. Muitos procuram ver nele certa divisão: Marta
representaria a parte laboriosa da missão e Maria, a parte espiritual. Em
outras palavras, Marta seria a mulher da ação e Maria, a da contemplação. Na
verdade, com esse relato, Jesus não quer contrapor “vida ativa” a “vida
contemplativa”. As duas fazem parte de nossa caminhada.
Marta é censurada não pelo “fazer” em si, mas por
causa do “fazer” que não parte de uma escuta atenta da palavra de Deus e que,
portanto, pode cair no vazio ou num agir estéril, cujas motivações são apenas a
autopromoção e o exibicionismo. Jesus não condena o serviço de Marta, pois ele
mesmo já havia pregado e demonstrado a necessidade de pôr-se a serviço do
próximo necessitado.
Marta limita-se a acolher Jesus em sua casa;
Maria o acolhe em si mesma, torna-se “tabernáculo”, oferece-lhe hospitalidade
no seu interior. Marta oferece algo a Jesus, Maria se oferece a si mesma.
Na correria do dia a dia, é difícil deixar-nos
iluminar pela palavra de Deus para ver qual o melhor a realizar. Não há tempo
para parar, para escutar o Senhor e perceber qual é sua vontade. Somos peças de
uma engrenagem que não nos permite quietude, e aí está o risco de não
percebermos qual é a “melhor parte”.
Agitadas por tantas tarefas e preocupações, a
Igreja e as comunidades necessitam parar, sentar aos pés de Jesus e ouvir a voz
do Espírito, que as conclama a sair de si e voltar-se aos desafios do mundo, em
vez de se preocuparem com a roupagem. É bem possível que a maioria de nós tenha
maior necessidade de ouvir a voz do Mestre do que a voz dos pregadores que
circulam por aí. Quem sabe, acostumando-se a essa prática, nossas comunidades
venham a se tornar mais confiáveis!
Também hoje as mulheres, quer na Igreja, quer na
família, não podem ser confinadas às “tarefas do lar”, mas têm o direito de
sentar aos pés do Mestre – que as acolhe em seu grupo como discípulas em
pé de igualdade com os homens.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 21/07/2013
Reflexão
Na
caminhada para Jerusalém, Jesus é recebido na casa de suas amigas Marta e Maria.
Marta acolhe o Senhor e está atarefada em servi-lo; Maria se coloca à escuta da
palavra do Mestre. Muitos viram, nesse episódio, dois estilos de vida: vida
ativa (Marta) e vida contemplativa (Maria). Outros ainda citam esse relato para
demonstrar a superioridade da vida contemplativa sobre a vida ativa.
Acreditamos que a comunidade de Lucas não tinha essas intenções ao colocar essa
cena no seu Evangelho. No tempo de Jesus, as mulheres não podiam sentar aos pés
de algum rabino para escutar sua palavra. Jesus quebra esse preconceito contra
as mulheres; por isso aceita Maria aos seus pés, a qual se torna modelo de
discipulado, acolhendo e vivendo a palavra. Com esse gesto, Jesus acolhe entre
os discípulos também as mulheres. Acolher a Palavra (contemplação), na Bíblia,
é justamente para pô-la em prática (ação), como faz Marta, que se colocou a
serviço. Logo à frente, Lucas dirá: “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a
põem em prática” (Lc 11,28). A escuta da Palavra de Deus não tira as pessoas da
ação; mas procura dar novo sentido ao fazer. Em cada um de nós existe um pouco
de Marta e um pouco de Maria. Não somos somente Marta nem somente Maria.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 -
Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)
Meditação
Como e em que circunstâncias você procura ouvir a
voz de Deus? - É fácil dosar as atividades puramente materiais com as
espirituais? - Como é sua vida de apostolado? - Como você acolhe os que batem à
sua porta? - Sua vida é um bom exemplo de ação e contemplação?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Fonte: a12 - Santuário em 21/07/2013
Meditando o evangelho
A MELHOR PARTE
A cena evangélica desafia-nos a fazer uma leitura integrativa, sem
contrapor Maria e Marta, como se uma fosse símbolo da ação e a outra, da
contemplação, como se uma tivesse feito uma ação louvável e a outra, uma ação
censurável. Portanto, quando Jesus fala que Maria escolheu a melhor parte,
pensa-se logo que a contemplação é mais importante que a ação ou, mais
radicalmente, a contemplação pode prescindir da ação.
Tanto a atitude de Maria quanto a de Marta foram de carinhosa acolhida a
Jesus e a seus discípulos. A primeira deteve-se a escutar o amigo
recém-chegado, enquanto a outra pôs-se a preparar uma refeição para esses
hóspedes. Diante de amigos com fome, nada melhor do que oferecer-lhes algo para
restaurar as forças. O erro de Marta consistiu em não começar por acolher a
quem chegava, talvez depois de um longo período de ausência. Era preciso
acolher o Mestre, antes de pôr-se em ação. Afinal, Jesus estava mais
interessado em partilhar alguns momentos de convívio com uma família amiga do
que em degustar uma excelente refeição.
No caso de Maria, sua amabilidade inicial transformar-se-ia em
insensibilidade, se fosse incapaz de perceber a situação dos amigos e não se
apressasse em dar-lhes comida. Ela, porém, agiu corretamente. Sua ação foi
precedida da escuta da palavra do Mestre. Ou seja, a contemplação culminou e
expressou-se na ação caridosa para com os visitantes.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo
Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da
FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito de contemplação, ensina-me a inspirar o meu agir na escuta
atenta da Palavra, de forma que minhas ações sejam expressão de comunhão com o
Senhor.
COMENTÁRIO DO EVANGELHO
1.
SER ou FAZER, eis a questão!
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José
da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Pensei em conversar com Maria ou a própria Marta,
mas o Evangelista São Lucas seria o mais indicado, afinal como autor, ele é
imparcial na história dessas duas mulheres.
___São
Lucas, quem ganha essa parada, Marta ou Maria? Está muito claro que Maria
escolheu a melhor parte, será que a reflexão é só isso mesmo?
São Lucas____ Não podemos nos esquecer que o evangelho é uma reflexão das comunidades
onde nós evangelistas estávamos em contato permanente e é como uma colcha de
retalhos, pegavam uma palavra de Jesus aqui, um relato diferente acolá, alguma
coisa que alguém de outra comunidade falou sobre o fato, costura-se tudo e se
faz o evangelho, sempre inspiração do Espírito Santo, Palavra de Deus revelada.
___O
Senhor está querendo com isso, dizer o que? Que esse episódio não ocorreu?
___Quero
dizer que o mais importante é prestarmos muita atenção na reflexão em si,
que se tira desse ensinamento do mestre, a reflexão é a essência, é como uma
laranja onde a casca é importante, mas não mais do que aquilo que está dentro.
Ao chupar uma laranja, se você ficar prestando atenção excessivamente nos
detalhes da casca, irá perder o melhor, que são os gomos com o suco doce.
___Mas
São Lucas, Jesus ia sempre hospedar-se na casa dessas duas irmãs, que são
também irmãs de Lázaro, não?
____Claro
que sim, eles formavam a Comunidade Betânia, mas sendo um escrito pós pascal,
por trás de Marta e Maria há duas comunidades, isso é muito claro. Uma dessas
comunidades, muito hospitaleira por sinal, havia ao que parece muitas
atividades que hoje chamaríamos de pastorais. Era uma correria com reunião prá
cá, reunião para lá, decisões e encontros, planejamento. Um ativismo exacerbado.
___Opa!
Parece que o Senhor está falando de nossas comunidades? Ás vezes é assim também
aqui em nosso tempo!
____
E a outra comunidade fazia um pouco menos de todas essas tarefas, pois tinham
como prioridade as celebrações com a escuta da Santa Palavra, dos ensinamentos
de Jesus. Não chegava a ser uma comunidade contemplativa, mas eram capazes de
ficarem horas e horas meditando a Palavra e não se cansavam em ouvi-la.
_____
São Lucas, nem precisa dizer mais nada, agora ficou fácil a meditação. Pois o
Documento 94 das DGAE (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora) nos
ensina a fazer tudo, A PARTIR DE JESUS. Ele é o ponto inicial e o ponto
final, sem ele, não caminhamos e nem chegamos a lugar nenhum. Uma Igreja
Sacramentalista e Pastoralista parece Marta, que até acolhe, mas depois
prioriza o FAZER em detrimento do SER, e o ideal mesmo é ser como Maria,
primeiro o SER que vem com a Palavra de Jesus que transforma o nosso íntimo,
daí o nosso FAZER será requalificado.
___Pois
é, acho que o fechamento da reflexão foi perfeito. É isso mesmo, e em vez de
ficar se perguntando que estava com a razão, se Marta ou Maria, olhe para o
modo de como vocês fazem as coisas hoje nas comunidades, e se Jesus Cristo está
no centro de tudo...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
Fonte: NPD Brasil em 21/07/2013
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Hospedar ou acolher, eis a questão...!
(O comentário do Evangelho abaixo é feito
pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata –
Votorantim – SP)
Há uma grande diferença entre hospedar e acolher . Quando Jesus
chegou na casa de Marta, ela mal teve tempo de saudá-lo e já se entregou às
tarefas domésticas, limpar e organizar toda casa, preparar o quarto para o
hóspede ilustre e ainda fazer a refeição. Jesus era um hóspede e foi assim que
Marta o tratou, de maneira formal tendo como lema, primeiro o serviço e depois
a amizade. É mais ou menos assim, quando chegamos de surpresa na casa de
alguém, e que não tendo quem nos faça sala, a pessoa diz “Olha, estou ocupada,
mas pode falar que estou ouvindo”. Acho que se Maria não estivesse em casa, era
isso que Marta iria acabar fazendo: “Olha Senhor sinta-se a vontade, daqui a
pouco minha irmã chega para lhe fazer sala, não repare se estou trabalhando,
pois hoje é dia de faxina e ainda tenho de preparar a refeição”. Maria ao
contrário, sentou-se aos pés de Jesus para ouvi-lo, sem pressa ou nenhuma outra
preocupação.
E que diferença, quando a pessoa nos acolhe de maneira fraterna,
carinhosa, dando-nos toda atenção, e faz o clássico convite “olha, você já é de
casa, vamos lá prá cozinha bater um bom papo que vou passar um café
fresquinho”. E a conversa vai longe, e o cheirinho bom do café sendo coado,
quem sabe um biscoitinho, um docinho caseiro, isso é mais que uma simples
hospedagem, é acolhimento e faz uma diferença enorme porque é um tratamento
personalizado.
Parece-me que esse evangelho está querendo nos perguntar, se em
relação a Jesus Cristo e o seu Santo Evangelho, sua palavra cheia de sabedoria
e seu ensinamento, a nossa atitude é de quem recebe um hóspede, por algumas
horas ou dias, ou o acolhemos realmente, como alguém que faz parte da nossa
vida? É muito importante respondermos a essa pergunta, mesmo porque, a casa
onde acolhemos ou simplesmente hospedamos Jesus, é exatamente a nossa vida.
Será que ele é nosso íntimo e pode adentrar em nossa “cozinha”, isso é, dentro
do nosso coração, ou o recebemos com pressa, no portão da casa, e nem o
convidamos para entrar...
Maria o acolheu, não apenas como alguém importante e ilustre,
mas como seu Senhor e Mestre, um amigo querido, que com suas palavras sábias
lhe conquistava o coração, ouvi-lo não era tarefa cansativa, mas algo
edificante, extremamente gratificante e prazeroso, com ele Maria aprendia e
sentia, pois as palavras lhe tocavam o coração. Notem que Maria nada diz e nem
se revolta ou reclama da atitude grosseira da irmã, não faz ares de santinha,
que está com a razão, ao contrário, Lucas não narra essa parte, mas
provavelmente Maria, com palavras suaves se desculpou com Jesus, pela má
educação da outra.
Maria não é vaquinha de presépio que só diz “amém”, mas sabe
relacionar-se com as pessoas, com respeito, ternura, delicadeza, com toda
certeza, pensamento meu, ela chamou Marta de lado e pediu-lhe calma, que depois
ela a ajudaria em todas as tarefas. Já Marta andava bastante estressada, provavelmente
não tinha planejado as tarefas, e Jesus chegara meio sem aviso, e agora tinha
de dar conta do recado, “assoviar e chupar cana”, limpar a casa, preparar o
quarto de hóspedes e ainda por cima, preparar a refeição. Gostava de Jesus, mas
não tinha tempo para ficar ouvindo-o, ou porque já sabia tudo de cor, ou porque
achava que aquilo nada tinha a ver com sua vida, como muitos cristãos fazem
quando vão a missa ou celebração do domingo, muitos saem até sem receber a
bênção final, vivem com pressa e falta-lhes paciência para ouvir.
Vivemos em uma sociedade onde as pessoas estão sempre
apressadas, em um ativismo doentio, fazendo um monte de coisa ao mesmo tempo,
às vezes sem planejamento e organização (não é assim em nossas comunidades?)
tem que se produzir para consumir, ninguém tem tempo para mais nada, fala-se
muito e ouve-se pouco, ou quase nada, escuta-se o outro, já pensando no que
vamos responder, o que o outro fala não é tão importante como aquilo que temos
a dizer (ah... Nossas reuniões pastorais...).
Nas celebrações onde o Senhor nos fala, nas orações, nos cantos,
nas leituras e na Eucaristia, até o ouvimos, mas não nos colocamos como
discípulos que querem apreender cada vez mais, para poder segui-lo. Nem nos
sentamos para ouvir, ficamos em pé, com uma pressa danada de que ele termine
logo, pois outras tarefas mais importantes nos aguardam. Como Marta, colocamos
a Palavra de Deus em um segundo plano.
As conseqüências disso estão na relação com as pessoas,
começamos a achar que estamos fazendo sozinhos, que ninguém colabora, ninguém
ajuda, e despejamos o nosso amargor, destilamos o nosso veneno “Senhor, não te
importas que minha irmã me deixe sozinha, com todas essas tarefas? “ Maria
escolheu a melhor parte, porque bebeu das palavras de Jesus, abriu-lhe o
coração e a mente, deixou que Ele entrasse em sua vida e certamente aprendeu
com o Mestre, como servir as pessoas, com alegria e humildade, de maneira
gratuita e incondicional.
Quanto a parte que Marta escolheu, além de dor nas costas,
irritação e palavras amargas ditas a Jesus e a irmã, em tom de cobrança, nada
restou, nada se aproveitou. Se o mesmo acontece em nossos trabalhos pastorais,
está na hora de sentarmo-nos aos pés de Jesus, sem pressa nem correria, para
saborearmos cada momento da celebração, e depois sentirmos no coração esta
incontida alegria que nos leva a amar e a servir, com qualidade, eficiência,
alegria e ternura... Essa é sem dúvida a melhor parte, o resto não passa de
“choramingos e resmungos”, que geram desconfiança e inimizades no seio da
comunidade. Que parte nós escolhemos?
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim
– SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
2. Maria, escutava a sua palavra...
(O comentário do Evangelho abaixo é feito
por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e
disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Na primeira etapa da viagem de Jesus para Jerusalém, São Lucas
nos colocou no meio da atividade missionária dos discípulos de Jesus. Na
segunda etapa entramos num clima de oração. Missionários que agem, colhem e
rezam. O clima de oração, num ambiente de hospitalidade, nos é dado pela
atitude de Maria, que se senta aos pés de Jesus e escuta a sua palavra. Ela
escolheu a melhor parte, enquanto Marta, sua irmã, está ocupada com muitos
afazeres. As duas irmãs acolhem Jesus, e o acolhem bem. Uma lhe fez companhia,
enquanto a outra prepara a refeição. O Evangelho é um convite à hospitalidade, apesar
da reação de Marta contra sua irmã que não a ajuda nos afazeres da casa. A
refeição pode ficar em segundo lugar. O necessário, que não pode deixar de
acontecer, é a escuta da palavra de Jesus. O discípulo, seguidor de Jesus,
escuta, porque tem que aprender do Mestre. No entanto, tirando a cena de ciúmes
de Marta ou da reação comum quando há trabalho a ser feito, a hospitalidade é
perfeita: alguém faz sala e alguém prepara a refeição.
Abraão e Sara acolhem três viajantes com muita atenção e
generosidade. A recompensa da acolhida foi a gravidez de Sara que até então não
tinha filhos. O nascimento de Isaac, o filho da promessa, é confirmado. Abraão
não conhecia os viajantes e os acolheu muito bem. Sem saber, acolheu o próprio
Deus. Abraão vê três homens e fala com eles no singular como se fosse um só.
Volta depois a falar no plural com os três que perguntam onde está Sara. Abraão
responde e volta o singular: uma pessoa promete o nascimento de um filho. Os
homens partem e Deus permanece com Abraão. O texto parece falar de três anjos
com aparência humana ou de um só Deus em três Pessoas, ou Deus acompanhado por
dois Anjos. Jesus também se hospeda em nós. Ele está presente em nós.
Paulo tem essa missão: anunciar ao mundo que Deus está no meio
de nós, que Deus habita em nossa cidade, em nossa casa, que Jesus está em cada
um de nós. Os batizados em conjunto formam o corpo de Cristo, que é a Igreja,
comunidade de irmãos e irmãs vindos do judaísmo e do paganismo. Dos dois povos
ele faz um só. Paulo se dedica ao bem desse corpo formado por nós e por Cristo.
Ele se une aos sofrimentos de Cristo e procura completar o que ainda lhe falta
para estar mais próximo das tribulações sofridas por Cristo. A obra de Cristo
está completa, tudo foi consumado, nada lhe falta, nem mesmo as tribulações.
Conosco, porém, não é assim. A hospitalidade é a flor da caridade e deixamos a
flor murchar. Temos que completar o que falta em nós das tribulações de Cristo.
Em Cristo não falta nada. Falta em nós.
COMENTÁRIO
O ÚNICO NECESSÁRIO
I. INTRODUÇÃO GERAL
Neste domingo, a liturgia nos propõe dois
exemplos de hospitalidade, o de Abraão e o de Marta. A história de Abraão
dirige nosso olhar para o mistério escondido na hospitalidade. A história de
Marta e Maria nos ensina que, antes de se desdobrar em gestos de hospitalidade,
importa saber acolher. A verdadeira hospitalidade não consiste em preparar
muitas coisas, mas em acolher o dom que é a pessoa. Receber as pessoas com
atenção, dar-lhes audiência, pode ser uma ocasião para receber a única coisa
verdadeiramente necessária, a palavra de Deus: sua promessa (no caso de
Abraão), seu ensinamento (no caso de Maria).
O lema que se repete durante a celebração pode
ser: “Em primeiro lugar, escute o Senhor”.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
1. I leitura (Gn 18,1-10a)
A primeira leitura nos mostra como a
hospitalidade de Abraão é recompensada pela promessa de Deus. Sob a aparência
de três viajantes, Deus apresenta-se, incógnito, a Abraão, que demonstra toda
aquela hospitalidade tão apreciada no Oriente. Aos poucos, o foco da narrativa
se desloca da hospitalidade de Abraão para a promessa de Deus. Abraão não
perguntou pela identidade de seus hóspedes. Agiu por bondade gratuita. Com a
mesma gratuidade, Deus lhe concede o que era estimado impossível: um filho de
sua mulher Sara, já idosa.
A leitura mostra que, quando se está oferecendo
hospitalidade, na realidade se está recebendo a generosidade de Deus. A
hospitalidade que Abraão, generosa e gratuitamente, oferece a três homens,
perto do carvalho de Mambré, transforma-se em receber. Ele recebe a coisa que
mais deseja: um filho de sua mulher legítima, Sara. Talvez por isso se diz que
a hospitalidade é “receber” uma pessoa: o hóspede é um dom para nós…
Deus passa por nossa vida, junto de nossa casa, e
importa fazê-lo entrar (Gn 18,3), para que a nossa vida não fique vazia. Deus
pode chegar como um viajante, um necessitado, e nossa gratuita bondade deve
estar pronta para o “receber” no momento imprevisto.
2. Evangelho (Lc 10,38-42)
O evangelho, com o episódio de Jesus na casa
de Marta e Maria, focaliza “o único necessário”.
Quem acolhe um hóspede parece estar oferecendo
algo – a hospitalidade –, mas pode ser que, na realidade, esteja recebendo mais
do que oferece, como foi o caso de Abraão na primeira leitura. Lida nessa
ótica, a história de Marta e Maria se torna reveladora. Hospedar e cuidar é
bom; mais fundamental, porém, é “receber” o dom que é o hóspede, com tudo o que
tem de mais importante. E o mais importante, no caso, é a palavra de Jesus. Ele
não veio para se fazer servir como um freguês num hotel; veio para servir (Mt
20,28), e serve por meio de sua palavra, de sua vida inteira. Ele é
inteiramente palavra, palavra de Deus, no seu dizer, no seu fazer, no seu
sofrer. Acolher essa palavra é o único necessário.
Quem se esgota em “fazer coisas” para o outro,
sem realmente o “receber”, pode ser chamado de ativista. O ativismo é um mal de
nosso tempo, mas não data deste século. É doença que espreita a humanidade
desde sempre. Jesus aproveita as intensas ocupações da “dona Marta”, sua
anfitriã, para falar desse assunto. Marta dá muita importância aos próprios
afazeres e pouca àquilo que recebe de Jesus. Ela deseja que Maria, imersa na
escuta das palavras do mestre, interrompa sua escuta e a ajude a preparar a
comida. Mas por que preparar comida se não se sabe para quê? Se alguém não se
abre para receber a mensagem, para que acolher o mensageiro? Um bom anfitrião
procura servir o melhor possível, mas, se não escuta o que o visitante tem para
dizer, fará uma montão de coisas, mas a finalidade real da visita não se
realizará. “Marta, Marta, tu te ocupas com muitas coisas; uma só, porém, é
realmente necessária…” Jesus não diz o que é essa coisa necessária, mas a história
nos faz entender que é o que Maria estava fazendo: escutar Jesus. Maria
escolheu a parte certa. Mais fundamental do que a casa bem arrumada e a mesa
bem provida com que Marta se preocupa é acolher Jesus, com suas palavras, no
coração. Então a mesa bem preparada servirá para sua verdadeira finalidade.
O ativismo, mesmo a serviço dos outros, corre o
perigo de ser um serviço a si mesmo: autoafirmação à custa de quem é o “objeto”
de nossa caridade. A superação do ativismo consiste em ver o mistério de Deus nas
pessoas, assim como Maria o enxergou em Jesus, o porta-voz de Deus, o portador
das “palavras de vida eterna” (cf. Jo 6,68).
O hóspede vem a nós com uma recomendação de Deus,
e por isso lhe dedicamos atenção. Nossa preocupação não deve ser o nosso próprio
afazer, mas a interpelação que o rosto do outro nos dirige. Então não lhe
imporemos uma hospitalidade que nós inventamos em proveito de nossa
autoafirmação, mas abriremos o coração àquilo que ele diz e é. É isso que Jesus
lembra a Marta.
A verdadeira contemplação não é uma fuga a
pensamentos aéreos, mas aquele realismo superior que nos leva a ver Deus no
homem e o homem em Deus. Essa contemplação é também o fundamento da verdadeira
práxis da fé, que consiste, precisamente, em tratar o homem como filho e representante
de Deus. Para isso, o centro de nossa preocupação não deve ser nossa atividade,
mas a pessoa humana que nos é dada e que nós “recebemos” como um dom da parte
de Deus.
3. II leitura (Cl 1,24-28)
A segunda leitura nos fala da manifestação do
mistério de Cristo na missão do apóstolo. Servir a Cristo é participar de seu
sofrimento. No sofrimento próprio, Paulo vê confirmada sua comunhão com Cristo,
e isso é para ele uma alegria. Ele quer revelar o “mistério de Deus” – que é
Cristo – por sua vida. Cristo é a “esperança da glória”. “Cristo no meio de
nós” (1,27) não é um belo pensamento, mas força que nos impele ao encontro dos
irmãos. Cristo é, em nós, a esperança, a impaciência do Dia que há de
manifestar, plenamente, o que ele é e o que nós seremos nele.
Deus vem ao ser humano. Paulo sabe dessa união de
Deus e Cristo com o ser humano, que lhes pertence. O apóstolo considera o seu
sofrimento como a complementação, no próprio corpo, do sofrimento de Cristo.
Não que faltasse algo ao sofrimento de Cristo por parte deste – faltava algo
por parte de Paulo; o sofrimento de Cristo precisava ser completado pela
participação de Paulo. Isso, aliás, vale para todos nós. Só nos apropriamos,
por assim dizer, da paixão de Cristo por nossa “com-paixão”.
Paulo anuncia a palavra de Deus em sua plenitude:
o mistério escondido desde a eternidade, a realidade só conhecida por quem dela
participa, a esperança da glória, “Cristo em vós”. Na comunidade dos fiéis, da
qual Paulo se tornou apóstolo, está presente aquele que assume todo o sentido
de nossa vida e da criação toda (Cl 1,15-20, cf. domingo passado). Para que
fossem levados à perfeição os que receberam sua pregação, Paulo oferece sua
vida.
(Querendo usar um texto mais afinado com o tema
do evangelho e da primeira leitura, veja-se 1Pd 4,9-11: “Sede hospitaleiros”.)
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O importante e o necessário: Grande mal em nossa sociedade, e também na
Igreja, é o ativismo, a falta de disposição para aprofundar o essencial, sob o
pretexto de tarefas urgentes.
Na primeira leitura vimos a virtude da
hospitalidade, na figura de Abraão. Deus, que nos anjos se tornou seu hóspede,
recompensa-o com a promessa de um filho. Será que o evangelho não contradiz
essa lição? Jesus dá a impressão de valorizar mais a presença passiva de Maria,
que fica a escutá-lo, do que a preocupação de Marta em bem recebê-lo. Ou
será que o jeito certo de recebê-lo é o de Maria: escutar sua palavra?
Jesus observa a Marta que ela anda ocupada e
preocupada com muitas coisas, enquanto uma só é necessária. Essa observação não
é uma crítica à hospitalidade, mas indica uma escala de valores: a melhor parte
é a que Maria escolheu! O que esta faz é fundamental e indispensável: escutar.
O resto (as correrias pastorais, as reuniões) é importante, mas deve ter
fundamento no escutar. Jesus censura Marta não porque ela cuida da cozinha, mas
porque quer tirar Maria do escutar para fazê-la entrar no ritmo das suas
próprias ocupações. Marta não conhecia a escala de valores de Jesus.
Paulo, na segunda leitura, pode ser um exemplo.
Ele passou pela “passividade” do sofrimento, assumindo no próprio corpo a sua
participação no sofrimento de Cristo. Dessa identificação profunda com
Cristo ele tirou a força para seu surpreendente apostolado.
Gente ocupada é o que menos falta. Mas sabemos
muito bem que toda essa ocupação não gira, necessariamente, em torno do
fundamental. Dá até pena ver certas pessoas complicar a vida com mil coisas das
quais dizem que vão simplificá-la. Por outro lado, encontramos também,
especialmente entre os pobres “de coração” (não aqueles com mania de rico),
pessoas que levam uma vida simples, porém com muito mais conteúdo e, sobretudo,
com um coração sensível e solidário.
Importa acolher (a Deus, a Jesus, os outros) em
primeiro lugar no coração. Só então as demais atuações terão sentido. Isso vale
na vida pessoal e também na vida comunitária. Comunidades que giram
exclusivamente em torno de preocupações e reivindicações materiais acabam
esvaziando-se, caem em brigas geradas pelo personalismo e pela ambição. Mas
comunidades que primeiro acolhem com carinho a palavra de Jesus num coração
disposto saberão desenvolver os projetos certos para pôr essa palavra em
prática.
“Buscai primeiro o reino de Deus…”
Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no
Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia
e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina).
Atualmente é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre
outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se
fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A
- B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas
suas origens e hoje.
E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br
Fonte: Vida Pastoral em 21/07/2013
REFLEXÕES
DE HOJE
21 DE JULHO-DOMINGO
VEJA
AQUI MAIS HOMILIAS DESTE DOMINGO
HOMILIA DIÁRIA
Ter o Senhor como nossa prioridade
O Senhor deve ser o centro de
nossas vidas, temos que colocá-Lo como prioridade no nosso dia a dia
“Marta recebeu Jesus em sua casa e sua irmã
chamada Maria sentou aos pés do Senhor e escutava sua Palavra” (Lc
10, 38-39)
Nós temos a graça de celebrar, neste domingo, o
modelo de duas seguidoras de Jesus. Marta e Maria, irmãs de Lázaro, têm a graça
de receber Jesus em sua casa e, no mesmo momento, manifestarem seu jeito de
servir ao Senhor.
Marta é ocupada com os afazeres. Claro que ela
compreendia a importância de Jesus, mas tinha suas obrigações, e o Senhor já é
tido como “um de casa”. Por isso, ela se preocupa em deixar a casa arrumada
para Ele.
Já Maria faz questão de mostrar que, primeiro,
ela quer estar aos pés do Mestre, ouvindo Sua palavra. Não é que Maria não
tinha seus afazeres, mas, naquele momento, ela escolheu a melhor parte.
Nós estamos atarefados demais, até mesmo com
muitos serviços na Igreja, e não temos tempo de escutar o Senhor. É perceptível
aos olhos a dificuldade que muitas pessoas vivem por não terem tempo de
cultivar uma intimidade por meio da adoração, colocando-se aos pés do Mestre
para escutá-lo.
Hoje, somos chamados pelo Senhor a priorizá-Lo.
Fazer isso não significa ter muitas tarefas, mas ter um tempo reservado para
conhecer a Palavra, colocar-se na sua presença do Senhor e aprender a
ouvir o que brota do Seu coração.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista
e colaborador doPortal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 21/07/2013
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, inunda-nos com o teu Espírito para
que façamos o discernimento correto e optemos por viver os sinais do teu Reino
de Amor já nesta terra encantada, conscientes de que sua plenitude virá um dia,
quando recebermos o teu abraço paterno/maternal, prometido pelo Cristo Jesus,
teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.

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