16 de Fevereiro
de 2014
ANO A

Mt 5,17-37
ou
Mt 20-22.27-28.33-34.37
Comentário do Evangelho
Uma fonte de bênção
Encontramos no texto
deste domingo do livro do Eclesiástico (Eclo 15,16-17) ressonâncias de Dt
30,15-20, situado no longo e último discurso de Moisés. Aí achamos as duas vias
apresentadas pelo Senhor para a decisão de cada membro do povo de Deus (cf. tb.
Eclo 15,16b.17b), e uma forte exortação a guardar os mandamentos do Senhor (Dt
30,16.19b-20). É no cumprimento dos mandamentos da Lei de Deus que está a vida
e a felicidade. A influente tradição deuteronomista insiste que o cumprimento
irrepreensível da Lei é uma fonte de bênção (cf. Dt 28,1-14); sua rejeição, uma
fonte de maldições (Dt 28,15ss).
O evangelho deste
domingo, situado no início do longo “sermão da montanha” (5–7), começa por
eliminar um equívoco (v. 7a) que, certamente, perdurou por longo período e foi
ocasião de disputas não somente entre Jesus e os seus contemporâneos, mas entre
judeus e cristãos. O modo como Jesus interpretava e punha em prática a Lei de
Moisés desconcertava a tal ponto que fazia com que seus contemporâneos e a
geração posterior pensassem que ele desprezava e revogava a Lei de Moisés. As
antíteses que se seguem (vv. 21-37) são o exemplo claro de que Jesus ultrapassa
a letra da Lei, superando um rigorismo sufocante, considerado um fardo pesado
que impedia de entrar na finalidade própria da Lei, dada por Deus ao seu povo
para preservar o dom da vida e da liberdade. Parece que é exatamente isso que
Jesus quer dizer ao afirmar que, para a comunidade que ele reúne, a justiça,
isto é, o modo de proceder em conformidade com a vontade de Deus expressa na
Lei, deve superar o rigorismo dos escribas e fariseus (cf. v. 20). É em Jesus
que a Lei e os profetas alcançam o seu pleno cumprimento e sentido, pois
apontam para ele. A expressão “Lei e os profetas” é um modo bíblico de designar
a Escritura na sua totalidade. Esses dois termos estão intrinsecamente
relacionados: a Lei é necessária para atestar e confirmar a veracidade da
profecia; a profecia é necessária para interpretar e pôr corretamente em
prática a Lei. Jesus não revoga a Lei de Moisés, mas, agora, na plenitude dos
tempos, ela precisa ser interpretada à luz da revelação de Jesus Cristo (cf. Mt
5,17; 7,12; 22,40). No centro dessa “nova justiça” estão o amor, o perdão e a
reconciliação, a misericórdia, a unidade e o acolhimento, que incluem e
integram a todos na comunhão com Deus.
Carlos
Alberto Contieri, sj
Oração
Pai,
guiado pelos ensinamentos de Jesus, revela-me teu querer divino, livrando-me de
dar-me por satisfeito com a observância superficial dos teus mandamentos.
Vivendo a Palavra
A Lei Nova trazida por Jesus – o Amor – é uma
seta que aponta a direção em que devemos caminhar com criatividade e liberdade,
até que chegue o nosso dia de receber o abraço definitivo do Senhor. A Lei
Antiga, de Moisés, era como uma cerca, prescrições a serem observadas e
cumpridas. Seguir o Mestre requer vontade e coragem.
Recadinho

De sua boca saem
palavras boas somente? - Você procura praticar a justiça, custe o que custar? -
Você vive bem com todos? - Você procura manter a palavra dada? - Dê seu
testemunho sobre o Matrimônio cristão.
Padre
Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Comentário do Evangelho
EU, PORÉM, VOS
DIGO ...
O elenco de antíteses, proclamadas por Jesus,
tem um caráter polêmico, a começar pela introdução: "Vocês ouviram o que
foi dito (por Deus) aos antigos". Ele se referia aos pais do povo hebreu
mormente os que haviam recebido a Lei no Sinai e fizeram a primeira tentativa
de explicá-la para o povo. Por conseguinte, Jesus não se referia aos rabinos de
seu tempo e sim a quem recebera de Deus o encargo de transmitir sua Lei ao povo.
Este
era o ensinamento questionado por Jesus. Ensinamento de origem divina, cuja
autoridade era inquestionável. A ousadia do Mestre era patente!
A este
ensinamento venerável e tradicional, Jesus pretendia contrapor outro mais
radical, também em conformidade com o querer divino. E não algo puramente
humano, sem transcendência. O ensinamento saído de sua boca, diferentemente
daquele dos mestres antigos, estava em perfeita sintonia com Deus.
Jesus
não se colocou na contramão do Deus do Antigo Testamento. Tendo-lhe sido dado
todo poder, no Céu e na Terra, estava suficientemente autorizado para penetrar
no âmago dos mandamentos do Decálogo e extrair um sentido muito mais radical do
que até então se lhe atribuía. Seu ensinamento superava a materialidade da
letra dos mandamentos, revelando o espírito neles subjacente. Neste nível
profundo, Jesus revelava também o verdadeiro projeto de Deus para a humanidade.
Oração
Pai, guiado pelos
ensinamentos de Jesus, revela-me teu querer divino, livrando-me de dar-me por
satisfeito com a observância superficial dos teus mandamentos.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta,
Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste
Portal a cada mês)
Oração
Ó Deus, que prometestes
permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de
tal modo, que possais habitar em nós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
REFLEXÕES DE HOJE

16 de FEVEREIRO – DOMINGO
VEJA AQUI
MAIS HOMILIAS PARA O PRÓXIMO DOMINGO
16 de fevereiro – 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Por Aíla Luzia
Pinheiro Andrade
I. INTRODUÇÃO GERAL
A fidelidade à lei de
Deus – melhor dizendo, à Torá ou instrução do Senhor – é um dos temas centrais
do Antigo Testamento. O amor e a fidelidade à lei de Deus constituíam toda a
justiça e santidade do povo de Israel.
A lei de Deus é boa e
santa (Rm 7,12). Por isso, a lei não foi abolida por Jesus, mas sim plenificada
(Mt 5,17). Plenificar significa que não basta cumprir a materialidade do
mandamento, mas se perguntar pela intenção de Deus ao instituí-lo. Não é
suficiente uma fidelidade externa, mas faz-se necessária uma fidelidade mais
profunda, que empenhe mente e coração. Não basta somente uma conduta que todos
possam ver, mas se requer reta intenção, que brote do mais profundo do coração
e da mente, vista somente por Deus. Tal atitude é possível quando se é capaz de
deixar-se penetrar pela sabedoria do evangelho, “misteriosa e oculta” (1Cor
2,7), sabedoria da cruz de Cristo. Isso é andar na lei do Senhor. Os atos
meramente externos constituem um legalismo severamente criticado por Jesus.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 5,17-37): Eu não vim abolir, mas cumprir a lei
Jesus continua o
discurso do monte, afirmando que, se o modo de agir, ou seja, se a justiça dos
discípulos não for mais exigente que a dos escribas e dos fariseus, eles não
participarão da construção do Reino de Deus. É isto que mostra o evangelho na
liturgia de hoje: o cristianismo é muito mais exigente que o judaísmo.
Com o termo “ouvistes”
se quer contrapor o ensinamento de Jesus ao ensinamento dos escribas e
fariseus. Isso não significa, como muitos pensam, uma substituição do Antigo
pelo Novo Testamento. Não se trata do que foi “escrito”, mas do que foi
“ouvido” como homilia feita pelos doutores da lei, os mestres do judaísmo.
Trata-se da interpretação de Jesus contra a interpretação dos escribas e
fariseus a respeito da Sagrada Escritura.
A novidade da
interpretação que Jesus faz da Escritura está na explicitação da intenção de
Deus ao dar os mandamentos. Não basta, por exemplo, não matar. Devem-se evitar
as palavras de desamor, de desprezo, de ressentimento contra o próximo. Era
essa a intenção de Deus ao dar o mandamento “não matarás”.
“Deixa tua oferta diante
do altar” (v. 24). No dia da expiação (ou do perdão, cf. Lv 16), os judeus
confessam os pecados cometidos contra Deus e pedem perdão durante 24 horas. Mas
acreditam que os pecados contra o “próximo” devem ser perdoados por quem sofreu
a ofensa, e não por Deus; por isso, primeiramente pedem perdão ao próximo, para
depois se dirigirem a Deus. Jesus faz uma mudança em relação ao judaísmo,
afirmando que não somente num dia especial, mas todos os dias, os cristãos
devem pedir perdão ao seu próximo para depois dirigir-se a Deus.
A compreensão dos
escribas a respeito do adultério era diferente no caso da culpa da mulher e da
culpa do homem. Entendiam que a mulher cometia adultério até mesmo sozinha, no
coração, quando era casada e desejava outro homem. Cometia adultério quando
observava um homem para vê-lo passar ou quando se exibia para ser notada por
ele. Se fosse flagrada numa dessas atitudes, poderia ser apedrejada sozinha,
porque seu adultério não dependia do consentimento de um homem. Jesus põe homem
e mulher em pé de igualdade. Seja homem seja mulher, cada um comete adultério
no coração. A intenção de Jesus é preservar a família e o matrimônio, e não
lançar um fardo pesado demais sobre nossos ombros.
Quanto ao juramento,
muitas vezes os judeus juravam sem pensar e se obrigavam a agir mesmo se
descobrissem ser a vontade de Deus diferente do que foi prometido por
juramento. Mesmo assim, algumas pessoas preferiam fazer algo que desagradava a
Deus a descumprir um juramento, pois amaldiçoavam a si mesmas quando juravam
(cf. 1Rs 19,1-2). Por isso, Jesus exorta a não jurar.
2. I leitura (Eclo 15,16-21): Fidelidade é fazer a vontade de Deus
Esse texto da primeira
leitura destaca a liberdade de escolha, o livre-arbítrio do ser humano diante
da vontade de Deus. O autor bíblico acentua a responsabilidade da pessoa quando
ela decide se rebelar contra Deus.
Quem obedece à vontade
de Deus, expressa principalmente na Escritura, tem qualidade de vida. Se todas
as pessoas cumprissem os mandamentos de não roubar e não matar, entendidos em
sentido amplo, incluindo injustiças e ofensas, a sociedade de hoje seria menos
violenta.
Por isso, afirma o texto
bíblico que a vida e a morte estão diante do ser humano, para que ele escolha o
que deseja. A vontade de Deus gera vida em plenitude, o pecado gera morte.
Tanto a vida quanto a morte, entendidas nesse sentido, são consequências das
escolhas humanas.
O ser humano é livre e,
por conseguinte, responsável pelas próprias ações. O mal que faz ao próximo não
é culpa de Deus, pois “a ninguém Deus ordenou que fizesse o mal, a ninguém Deus
deu licença de pecar” (v. 21). Deus nos deu o livre-arbítrio e a capacidade de
fazer as escolhas certas.
3. II leitura (1Cor 2,6-10): Uma sabedoria que não é deste mundo
Paulo ensina os fiéis de
Corinto a cultivar a sabedoria “misteriosa e oculta” revelada por Deus, que
ultrapassa a sabedoria do mundo e dos poderosos.
A sabedoria de que Paulo
fala é a cruz, na qual Cristo revela o Deus despojado. Na fragilidade de sua
vida humana e totalmente ofertada ao Pai como dom de amor, Jesus desvenda
aquilo que Deus “preparou desde toda a eternidade” para os seres humanos: o
amor ao extremo. É, pois, na adesão à vida de Cristo que consiste a sabedoria
divina, não reconhecida pelos poderosos, porque foge da lógica deste mundo.
Somente aquele que se despoja da própria vida será capaz de reconhecer a
sabedoria de Deus, que é Jesus Cristo crucificado.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Durante muito tempo se
entendeu que fazer a vontade de Deus significava cumprir apenas seus
mandamentos de forma rigorosa. No entanto, essa concepção levou muitos a cair
num legalismo exacerbado, o que gerou uma moral escravizadora. Ainda hoje muita
gente sofre por causa de certos julgamentos pautados numa visão legalista da
Escritura. Mas a proposta de Jesus sempre foi outra. Isso não significa um
relaxamento na conduta do ser humano; ao contrário, a proposta de Jesus é
exigente, porque mira o interior da pessoa, no qual foi escrita a vontade de
Deus. Deus não quer seus filhos escravos, mas livres. E somente no exercício da
liberdade o ser humano poderá ser verdadeiramente fiel aos mandamentos divinos.
Aíla
Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em
Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em
Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade
Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas –
teologia apocalíptica (Paulinas).
E-mail: aylanj@gmail.com.
16 de fevereiro: 6º
Domingo do Tempo Comum
ALGO MAIS
Um dos objetivos do
Evangelho de Mateus é mostrar como Jesus realiza a justiça do reino de Deus.
Com sua missão, Jesus não vem abolir a lei de Moisés, mas dar a ela seu sentido
pleno. O sentido da lei era a busca da liberdade e da vida para todos. A lei da
vida para todos, porém, havia se transformado num emaranhado de regras que, ao
final, acabavam aprisionando alguns considerados puros e excluindo outros
considerados malditos.
Jesus vem cumprir a
lei, mostrando com gestos concretos o que significa viver o perdão, a
solidariedade e a partilha. Vivendo esses valores, que já estavam presentes na
lei do êxodo, ele realiza a justiça do reinado de Deus.
Para entrar e
permanecer hoje na dinâmica da justiça do reino, aos seguidores de Jesus se
pede muito mais que simplesmente obedecer a leis. O Mestre mostrou que uma
coisa é a essência dos valores que levam à vida e outra coisa são as regras
específicas, que originalmente podiam ajudar a buscar a vida, mas com o tempo
se tornaram carga pesada, muitas vezes excluindo as pessoas e traindo o sentido
original da lei de Deus. Essas regras secundárias, aliás, o evangelho chama de
simples “tradição humana”.
Com a expressão
“eu, porém, vos digo”, Jesus nos pede algo mais. Suas bem-aventuranças são
exigentes, como é exigente a promoção da paz, como é exigente a lealdade nas
relações. A justiça do reino se identifica com a felicidade de promover a paz,
de vencer o ódio com o perdão e a mão amiga; a felicidade de ser puro de
coração, de ser capaz de corrigir em si aquilo que poderia levar à divisão ou
prejudicar alguém.
Além disso, um
cristão não se define pelas negativas, pelo fato de simplesmente não matar ou
não trair. Um autêntico seguidor de Jesus transforma as relações com o amor,
consciente de que é possível matar também com as palavras, e matar inclusive
uma religião sincera. Pois o que alguém poderia oferecer a Deus, com um coração
duro e incapaz de perdoar ao próximo? A justiça do reino nos pedirá sempre algo
mais.
Pe. Paulo Bazaglia,
ssp
6º Domingo do Tempo Comum - 16 de Fevereiro de 2014
“ENSINA-ME A VIVER VOSSOS PRECEITOS.
QUERO GUARDÁ-LOS FIELMENTE ATÉ O FIM!”
SITUANDO-NOS BREVEMENTE.
Neste domingo, o sexto do Tempo Comum, na trilha do evangelista Mateus, permanecemos na montanha com Jesus, acolhendo como discípulos, a proposta singular e desafiadora de seu Reino.
Ele nos propõe uma nova maneira de interpretar a lei, a levando à plenitude e chamando-nos à exigência de sua radicalidade, na prática da justiça e da misericórdia.
A Páscoa, que hoje celebramos, abraça todas as pessoas que, com o coração sincero e reto, se comprometem com a justiça, socorrem os mais fracos, partilham com generosidade o pão, promovem o relacionamento fraterno entre as pessoas e acreditam na força do perdão e da reconciliação.
Feliz quem anda na lei do Senhor, cantamos no salmo de hoje.
Esta é assembleia onde Deus habita, rezamos na oração inicial, a quem Deus revela a sabedoria de sua lei, pelo seu Espírito..
RECORDANDO A PALAVRA.
Hoje continuamos ouvindo o sermão da montanha, no qual Jesus ensina o que está na origem do Reino de Deus. Ele não veio abolir a lei e os profetas, mas veio dar-lhes pelo cumprimento . Para Jesus, as Sagradas Escrituras devem ser integralmente cumpridas. Quem compreender isto e assim ensinar será grande no Reino de Deus, mas quem fizer o contrário será menor.
O contexto em que o primeiro evangelho surgiu é aquele após a destruição de Jerusalém e do Templo pelo império romano. Os grupos existentes no judaísmo (saduceus, zelotas e essênios) haviam sido dizimados. Das ruínas materiais e da crise espiritual emerge um gruo fariseu que unifica o judaísmo normativo, excluindo qualquer pluralismo. A comunidade do evangelho de Mateus é construída por judeus que reconheceram Jesus como o Messias . A rejeição aos cristãos vai se intensificando, até tornar-se oficial na assembleia de Jamnia, entre os anos 85 e 90 d.C. Os Judeus-cristãos são expulsos formalmente das sinagogas.
O trecho do evangelho que ouvimos hoje expressa bem a tensão existente entre os cristãos e os fariseus. Para quem segue Jesus ressuscitado, a prática da justiça é fundamental. Jesus fala com uma autoridade que está acima dos mestres do judaísmo. Jesus cumpre a lei e os profetas em seu sentido profundo. O reinado de Deus é a meta . Quem pertence a esse reinado do Senhor tem que superar a prática da justiça dos letrados e dos fariseus. Jesus expõe sua posição diante da lei tradicional, indo além, exigindo atitudes interiores, conversão profunda, na forma reiterada: “eu vos digo” A lei de Jesus supera a lei de Moisés que é, ao mesmo tempo, lei religiosa e civil.
Nos versículos 21-26, sobre o homicídio (Ex 20,13; Dt 5,17; Lv 24,17) radicaliza-se a atitude interior (cf. Lv 19,17-18) de onde brota a violência de matar e se estendem as ofensas menores- xingamentos, insultos, desprezo, rancor, inveja – que podem levar ao homicídio. Há uma hierarquia para o castigo: tribunal local, conselho nacional, o próprio Deus, com o castigo escatológico do fogo. Do receito negativo de “não matar” estende-se a exigência positiva da reconciliação, antes da participação no culto. Os versículos 27-30 são sobre o adultério: sua proibição (Ex 20, 10,14; Dt 5,18), sob pena de morte (Lv 20,10). A nova lei atinge a atitude interior de desejo consentido que entra pelos olhos e pelos outros sentidos e membros. Novamente é lembrado o fogo escatológico como castigo. Os versículos 31-32 falam do divórcio concedido ao homem. Jesus se opõe à lei e à sua legalidade.
Os versículos 33-37 falam sobre o julgamento (Lv 19,12; Nm 30,2). Entre os irmãos cristãos, a sinceridade deve ser tal que inutilize todo juramento: “Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem com outro juramento qualquer. O vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento.” (Tg 5,12) O juramento era procedimento legal e prática religiosa admitidos e respeitados. No juramento, se oculta a desconfiança na palavra humana; o juramento busca o repaldo de uma instância superior. Não se deve clocar Deus em meio a nossas humanas questões.
O livro do Eclesiástico afirma a liberdade humana diante da proposta de Deus: “se quiser” observar os mandamentos, eles guardarão você; “se quiser” confiar em Deus, você vai viver. Deus deu-lhe a capacidade de escolher entre o fogo e a água, entre a vida e a morte, o bem e o mal. Você receberá o que preferir. A sabedoria de Deus é imensa, Ele é forte e bondoso e tudo vê. Deus tem cuidado de quem o teme e conhece nossas obras. Ele não nos mandou agir erradamente e não nos dá licença de pecar.
O Salmo 119(118) é uma longa meditação sobre a lei de Deus, sua Palavra, mencionada em cada verso por diversos sinônimos. É um salmo de instrução, proclamando que é feliz quem observa e vive os preceitos do Senhor.
A carta aos Coríntios fala da misteriosa sabedoria de Deus, que nos fi revelada através do Espírito.
Atualizando a Palavra
Hoje a Palavra de Deus nos ilumina sobre a relação entre Jesus e a lei. Sua missão não é abolir nem facilitar, mas libertar do formalismo e do fundamentalismo. Para Jesus, não basta a observância externa apenas para “ir para o céu” após a morte. Jesus exige radicalidade. A Palavra de Deus deve atingir até o mais profundo do ser humano. É uma procura amorosa da vontade de original de Deus que ultrapassa a simples letra da lei. É necessário ver e ouvir por “trás das palavras”, encontrando-se pessoalmente com o Espírito da Lei.
Para o cristão ser justo, conforme a exigência de Jesus, não basta observar preceitos, cumprir mandamentos, é necessário viver e realizar o bem proposto por Deus em sua Palavra. A letra da lei mata, mas o Espírito vivifica. Conforme o Salmo 119(118), a lei é uma luz, um caminho, razão de viver e se sentir interiormente como povo escolhido de Deus. A lei foi dada para podermos viver e testemunhar o bem que Deus propõe.
Jesus nos alerta que podemos observar a lei em outro espírito, que não seja o Espírito de Deus. O espírito que motivava os fariseus da época se afastava d projeto do Pai, porque não beneficiava os pobres e pequeninos. Não era espírito de Deus, mas um negócio com Deus, troca, barganha. Os fariseus tornaram-se donos da lei e ela passou a ser instrumento de dominação econômica, política e religiosa sobre os demais: “Amarram pesados fardos e impõem-nos aos ombros dos irmãos, ao passo que eles mesmos se negam a movê-los com o dedo.” (cf. Mt 23,4). Jesus, então, deseja tirar a lei das mãos de quem oprime em nome de sua observância e devolvê-la a Deus. O que Deus deseja é a justiça, seu plano amoroso. Procurar a justiça verdadeira é olhar a vida com amor radical. Então os mandamentos de Deus significarão muito mais do que a letra diz, e nos levarão à perfeição de filhas e filhos de Deus.
Cumprir toda justiça é a justiça que inclui lei e profetas. O essencial da lei é a prática da justiça e da misericórdia que ultrapassam a observância legalista. Jesus toma alguns exemplos para deixar claro até onde devem ir a justiça e a misericórdia. Vai até a raiz e mostra que o objetivo da lei é a defesa da vida. Não basta “não matar”, é necessário construir uma sociedade humana, fraterna e solidária, na qual a vida plena seja para todos. A lei é “não cometer adultério”, mas não basta; é preciso eliminar o desejo de posse sobre a mulher, extinguir todo machismo e todos os privilégios do homem, raiz de toda opressão presente nas relações humanas. O bem-querer é a proposta de Deus. Nossa resposta é um amor verdadeiro, com raiz na totalidade da pessoa, o qual se insere na fonte do amor que é o próprio Deus. Não basta “não jurar falso”; temos que promover a convivência fundamentada na verdade, na integridade, na honestidade, na ética. O que a Palavra de Deus exige hoje de nós é cortar o mal pela raiz. Jesus não nos prescreve apenas normas, mas uma proposta evangélica nova que batize, lave até o nosso inconsciente, nossa consciência mais profunda, e faça da vida um contínuo ato de discernimento de busca de sentido de nosso ser, de nosso viver, do nosso viver, do nosso agir. A primeira leitura nos convida, a cada momento, a tomar uma posição diante da LEI, o projeto de Deus.
LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Acolhemos, na mesa da Palavra, a novidade da lei do amor que não conhece limites. A Eucaristia é, para nós cristãos, a mais verdadeira e perfeita expressão simbólico-ritual desta nova lei.
Ao prepararmos a mesa da ceia, neste domingo, somos impelidos a nos despojarmos do egoísmo, do individualismo, da auto-suficiência e de qualquer sinal de rancor e mágoa que nosso coração esteja nutrindo contra alguém. Assim podemos confiantes, rezar com as palavras da oração sobre as oferendas: “Ó Deus, que este sacrifício nos purifique e renove, e seja fonte de eterna recompensa para os que fazem a vossa vontade”.
Humilde e reconciliados elevamos nossa ação de graças ao Pai, entregamos nossa vida como oferenda agradável e levada a efeito na comunhão, como dádiva, do amor de Deus para conosco e de nós para com Ele, em Cristo Jesus: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16), rezamos na antífona de comunhão.
SUGESTÃO PARA A CELEBRAÇÃO
1- O Domingo como “festa primordial”, se caracteriza pelo encontro alegre e festivo da comunidade cristã com o Ressuscitado, que presente na reunião fraterna, convocada e enviada em missão; na Palavra proclamada; na ceia eucarística. Daí a importância da preparação do espaço, do exercício dos vários ministérios, dos cantos e de todos os momentos rituais, para que este encontro seja verdadeiramente pascal, transformador.
2- Um refrão mediativo no início, seguido de oração pessoal ajuda a assembleia a criar uma atitude de abertura ao Espírito. É ele que move os corações, une amorosamente as diferenças, faz entender e acolher a Palavra da Salvação.
3- inspirado na antífona de entrada, o canto de abertura indicado pelo Hinário 3, encontra-se na p. 121: Sê a rocha que me abriga...
4- Ligando a celebração com a vida, após a saudação inicial, é muito salutar fazer a recordação de fatos e acontecimentos significativos que marcaram a semana. O sentido do mistério pascal alarga-se com a páscoa vivida na fé pela comunidade.
5- O canto de comunhão, o quanto possível, retomando o pão da palavra, vem indicado no Hinário 3, p. 248-9: Aquele que faz, aquele que ensina...
Fonte: Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento – Natal – Tempo Comum – Dezembro 2013 / Janeiro 2014 – CNBB 2013/14 Ano A
DOMINGO, 16 DE FEVEREIRO DE 2014
Homilia do 6º Domingo do Tempo Comum, por Pe.
Paulo Ricardo
A voz do Pastor
6º Domingo Comum
Domingo 16/02/2014
Canal do Youtube: arqrio
Litugia de 16.02.2014
6º Domingo do Tempo Comum
Canal do Youtube: Dermeval Neves
HOMILIA
DIÁRIA
Coloque em prática os mandamentos da Lei de
Deus
O mundo em que vivemos precisa conhecer a vontade de Deus, e o
modo do mundo conhecer a vontade de Deus ocorre quando, aqueles que conhecem a
Deus e são próximos do Senhor, colocam em prática os mandamentos do Senhor.
”Se
quiseres observar os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu
também viverás” (Eclo 15, 16).
A Palavra de Deus, que meditamos no dia de hoje, nos chama a
atenção para observarmos os mandamentos da Lei de Deus, porque só tem vida em
Deus aquele que guarda e observa os mandamentos e os preceitos do Senhor. O
mundo em que vivemos precisa conhecer a vontade de Deus, e o modo do mundo
conhecer a vontade de Deus ocorre quando aqueles que conhecem a Deus e são
próximos do Senhor colocam em prática os mandamentos do Senhor.
Por
vezes, algumas pessoas têm dificuldade de ver isso e dizem: “Mas eu vou
confessar o quê? Eu não tenho pecado! Eu não roubo, eu não mato, eu não cometo
adultério”. A nossa noção de observar os mandamentos ou de deixar de
observá-los ocorre só quando cometemos coisas grandes demais. E hoje o
Evangelho nos chama atenção para isso, que não é bem assim, pois não matamos
alguém só quando pegamos em uma arma não! Porque todo aquele que se encoleriza,
tem raiva do seu irmão, fica irado contra ele, revoltado, odeia o seu irmão,
será réu em juízo. Por isso é necessário não só não matar, mas é necessário ter
paciência com o nosso irmão. Todas as vezes em que nós perdemos a paciência uns
com os outros a ira toma conta de nós e pecamos contra este mandamento: ”Não
matar”.
Dizemos:
“Eu nunca cometi adultério!” Ou “Eu não traí a minha esposa” Ou “Eu nunca fiz
isso ou aquilo”, mas o Senhor nos diz que todo aquele que olhar para a mulher
do próximo com o desejo de possuí-la já cometeu adultério no seu coração [cf.
Mt 5, 27-28ss]. Adultério não começa com o ato; o adultério e os pecados da
carne começam com os desejos, por isso, não basta não cometer isso ou aquilo, é
preciso ter a pureza no coração. O homem não pode olhar para a mulher como um
objeto, a desejando, deixando os pensamentos e os devaneios tomar conta da sua
mente. Da mesma forma a mulher não pode olhar para outro homem e, simplesmente,
desejá-lo, cobiçá-lo e deixar seus pensamentos irem longe.
O
mal precisa ser combatido pela raiz, prestemos atenção àquilo que vemos na internet,
aos lugares aonde vamos, para que não cresça dentro de nós o desejo e a cobiça.
Não, eu não preciso jurar, mas Jesus hoje nos diz: Que o vosso sim, seja ”sim”
e o vosso não seja ”não”. Ou seja, não mentir quer dizer ser autêntico, não ter
duas palavras, duplicidade naquilo que nós falamos.
Algumas
vezes, nos acostumamos com pequenas mentirinhas e achamos que essas pequenas
mentirinhas não dizem nada; no entanto, elas vão tirando nossa autenticidade.
Nós deixamos de acreditar em pessoas que numa hora dizem uma coisa, noutra hora
outra dizem outra coisa. E pior ainda: a pessoa que fala uma coisa para alguém
e, para outra, ela diz algo diferente. Ao agirmos assim nós vamos perdendo a
nossa autenticidade.
Que
Deus, hoje, nos dê a graça de nos revermos por dentro para colocarmos em
prática os Seus mandamentos.
Deus
abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.Facebook Twitter
LEITURA ORANTE

ORAÇÃO INICIAL
Preparo-me para a leitura Orante, rezando com todos os que navegam pela web:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Espírito Santo
que procede do Pai e do Filho,
tu estás em mim, falas em mim,
rezas em mim, ages em mim.
Ensina-me a fazer espaço à tua palavra,
à tua oração,
à tua ação em mim
para que eu possa conhecer
o mistério da vontade do Pai.
Amém.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Espírito Santo
que procede do Pai e do Filho,
tu estás em mim, falas em mim,
rezas em mim, ages em mim.
Ensina-me a fazer espaço à tua palavra,
à tua oração,
à tua ação em mim
para que eu possa conhecer
o mistério da vontade do Pai.
Amém.
1- LEITURA (VERDADE)
O que diz o texto do dia?
Leio atentamente, na Bíblia, o texto: Mt 5,17-19 - A Lei de Moisés
2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
Como vivo a Lei de Deus? Você se recorda dos 10 Mandamentos? Vale recordá-los:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
2. Não tomar seu santo nome em vão.
3. Guardar domingos e festas.
4. Honrar pai e mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar contra a castidade (fidelidade).
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo.
10. Não cobiçar as coisas alheias.
2- MEDITAÇÃO (CAMINHO)
O que me diz o texto?
Fala-me dos mandamentos, sintetizados no amor a Deus e ao próximo.
Recorda ainda, os Bispos que, na Conferência de Aparecida, que disseram sobre o discípulo:
"Para ficar parecido verdadeiramente com o Mestre é necessário assumir a centralidade do Mandamento do amor, que Ele quis chamar seu e novo: "Amem-se uns aos outros, como eu os amei" (Jo 15,12). Este amor, com a medida de Jesus, com total dom de si, além de ser o diferencial de cada cristão, não pode deixar de ser a característica de sua Igreja, comunidade discípula de Cristo, cujo testemunho de caridade fraterna será o primeiro e principal anúncio, "todos reconhecerão que sois meus discípulos" (Jo 13,35)." (DAp 138)
Como vivo o mandamento do amor?
3- ORAÇÃO (VIDA)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, com todos os cristãos, o Hino do amor
HINO AO AMOR
Pe. Zezinho, scj
Se eu desvendasse os mistérios do universo,
mas não tivesse amor;
se o dom das línguas eu tivesse em prosa e verso,
mas não tivesse amor,
seria um sino barulhento e falador!
Se eu conhecesse umas quinhentas profecias,
mas não tivesse amor;
se eu conhecesse todas as teologias,
mas não tivesse amor;
teria tudo, menos Deus a meu favor!
Amor é graça, amor é força amor é luz,
não é vaidoso, não derruba não seduz,
não sente inveja, nem orgulho nem rancor,
sabe perder mas não se sente perdedor.
Amor aplaude mas educa o vencedor
Amor perdoa mas educa o pecador,
não atrapalha não bloqueia: faz andar,
espera e crê, porque o amor sabe esperar.
Vem do passado, mas não é ultrapassado.
Tem seus limites o saber e a religião,
mas o amor aí não acaba nunca não (2x).
Agora vemos por imagens ou sinais,
mas o amor, aí, o amor é muito mais (2x).
mas o amor, aí, o amor é bom demais!
Há mil verdades do outro lado da janela,
mas o amor é a maior de todas elas!...
(CD Canções que a fé escreveu, COMEP)
4- CONTEMPLAÇÃO (VIDA E MISSÃO)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Sou uma pessoa convocada pela Palavra do Evangelho a viver integralmente a Lei que Jesus Cristo resumiu no amor. Assim posso viver o dia de hoje e todos os outros.
BÊNÇÃO
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Ir. Patrícia Silva, fsp
Oração Final
Pai Santo, ajuda-nos a
compreender que o caminho da santidade que nos propões não se satisfaz com a
obediência a prescrições, mas exige a nossa entrega total aos companheiros de
jornada que colocaste ao nosso lado no caminho do teu Reino. Por Jesus Cristo,
teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.

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