Data de publicação: 25/06/2013
Fernando Altemeyer Junior*
O Vaticano II leva a Igreja a pensar nas fontes do cristianismo, o valor da comunhão, a revelação de Deus na História por amor e viver a missão evangélica pelo testemunho

Inédito, pois retomava a força da Palavra viva de Deus como critério de julgamento da história e da própria Igreja. Exemplar, pois assumia o ecumenismo como estilo de ação. Superava a visão fatalista da História, o medo face ao mundo e abria as janelas trancadas por 300 anos para mirar belos e novos horizontes. Enquanto os antigos concílios buscaram apaziguar desentendimentos doutrinários, fixando normas e dogmas, este evento assumia o desafio da unidade dos cristãos e da ação firme pela paz como o horizonte e a missão maior da Igreja. Às portas do Vaticano II, o historiador Hubert Jedin, escrevia em 1961: “A história da Igreja deseja apenas, com base no conhecimento do passado, aguçar a vista para o presente e para o futuro”.

A segunda chave foi apresentada pela Dei Verbum e mostra como nosso Deus se revela na História por amor à humanidade, e, na encarnação de seu Filho, se faz caminho, verdade e vida. A Palavra de Deus se faz alimento. A Bíblia voltava para as mãos das crianças, das mulheres e de todo o povo de Deus, deixando de ser propriedade de peritos e professores, de padres e pastores. Torna-se palavra viva, leitura orante e uma porta de diálogo para penetrar nos segredos de Deus. Tornar-se boa teologia que alimenta quem ouve, crê e vive a Palavra da Salvação. O Evangelho torna-se um alimento diário e familiar de todo o povo de Deus.

O Concílio Vaticano II foi assumido e recebido na vida e na oração. Aprendemos a ser missionários de Cristo em favor da vida dos pobres. Aprendemos a ser missionários da liberdade, em um otimismo realista. O Concílio nos fez sóbrios e humildes, sinceros e serenos. Tornamo-nos dóceis ao Espírito para viver a fé cristã na alegria. Não mais uma Igreja sedentária, mas caminheira e discípula de Jesus.


É preciso registrar a celebração realizada no dia 16 de novembro de 1965 nas catacumbas de Santa Domitila, por um grupo de 40 bispos que firma um pacto, conhecido como Pacto das Catacumbas, em favor da Igreja servidora e pobre. Esse pequenino e profético grupo se comprometerá a “viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue" (Mt 5,3; 6,33-34; 8,20). Gesto de coragem que se repercutirá em toda a Igreja Católica.
Concluímos com a síntese do inesquecível e santo bispo da Igreja no Brasil, cardeal Aloísio Lorscheider: “O Vaticano II faz-nos passar de uma Igreja-Instituição ou de uma Igreja-Sociedade-Perfeita para uma Igreja-Comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja-pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja-serva, servidora, ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja Santa e Pecadora, sempre necessitada de conversão e de reforma; de uma Igreja-Cristandade para uma Igreja-Missão, uma Igreja toda ela missionária" (Concílio Vaticano II – análise e prospectivas, São Paulo: Paulinas, 2004, p. 7).
*Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), assistente doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e pertence ao Departamento de Ciências da Religião e escreve em revistas e periódicos sobre Teologia e Religião.
Inserido por: Família Cristã
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