ROMA - Publicamos a seguir as palavras de Bento XVI
dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, na
última Audiência Geral do seu pontificado, ontem, dia 27.
Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio!
Ilustres Autoridades!
Queridos irmãos e irmãs!

Agradeço-vos por terem vindo em tão grande número para esta
minha última Audiência geral.
Obrigado de
coração! Estou realmente tocado! E vejo a Igreja viva! E penso que devemos
também dizer um obrigado ao Criador pelo tempo belo que nos doa agora ainda no
inverno.
Como o
apóstolo Paulo no texto bíblico que ouvimos, também eu sinto no meu coração o
dever de agradecer sobretudo a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que
semeia a sua Palavra e assim alimenta a fé no seu Povo. Neste momento a minha
alma se expande para abraçar toda a Igreja espalhada no mundo; e dou graças a
Deus pelas "notícias" que nestes anos do ministério petrino pude
receber sobre a fé no Senhor Jesus Cristo, e da caridade que circula realmente
no Corpo da Igreja e o faz viver no amor, e da esperança que nos abre e nos
orienta para a vida em plenitude, rumo à pátria do Céu.
Sinto levar
todos na oração, um presente que é aquele de Deus, onde acolho em cada
encontro, cada viagem, cada visita pastoral. Tudo e todos acolho na oração para
confiá-los ao Senhor: para que tenhamos plena consciência da sua vontade, com
toda sabedoria e inteligência espiritual, e para que possamos agir de maneira
digna a Ele, ao seu amor, levando frutos em cada boa obra (cfr Col 1,9-10).
Neste
momento, há em mim uma grande confiança, porque sei, todos nós sabemos, que a
Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. O Evangelho
purifica e renova, traz frutos, onde quer que a comunidade de crentes o escuta
e acolhe a graça de Deus na verdade e vive na caridade. Esta é a minha
confiança, esta é a minha alegria.
Quando, em
19 de abril, há quase oito anos, aceitei assumir o ministério petrino, tive a
firme certeza que sempre me acompanhou: esta certeza da vida da Igreja, da
Palavra de Deus. Naquele momento, como já expressei muitas vezes, as palavras
que ressoaram no meu coração foram: Senhor, porque me pedes isto, e o
que me pede? É um peso grande este que me coloca sobre as costas, mas se Tu lo
me pedes, sobre tua palavra lançarei as redes, seguro de que Tu me guiarás,
mesmo com todas as minhas fraquezas. E oito anos depois, posso dizer que o
Senhor me guiou, esteve próximo a mim, pude perceber cotidianamente a sua
presença. Foi uma parte do caminho da Igreja que teve momentos de alegria e de
luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos
na barca no mar da Galileia: o Senhor nos doou tantos dias de sol e de leve
brisa, dias no qual a pesca foi abundante; houve momentos também nos quais as
águas eram agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o
Senhor parecia dormir.Mas
sempre soube que naquela barca está o Senhor e sempre soube que a barca da
Igreja não é minha, não é nossa, mas é Sua. E o Senhor não a deixa afundar; é
Ele que a conduz, certamente também através dos homens que escolheu, porque
assim quis.Esta foi e é uma certeza, que nada pode
ofuscá-la. E é por isto que hoje o meu coração está cheio de
agradecimento a Deus porque não fez nunca faltar a toda a Igreja e também a mim
o seu consolo, a sua luz, o seu amor.
Estamos no
Ano da Fé, que desejei para reforçar propriamente a nossa fé em Deus em um
contexto que parece colocá-Lo sempre mais em segundo plano. Gostaria de
convidar todos a renovar a firme confiança no Senhor, a confiar-nos como
crianças nos braços de Deus, certo de que aqueles braços nos sustentam sempre e
são aquilo que nos permite caminhar a cada dia, mesmo no cansaço. Gostaria que
cada um se sentisse amado por aquele Deus que doou o seu Filho por nós e que
nos mostrou o seu amor sem limites. Gostaria que cada um sentisse a alegria de
ser cristão. Em uma bela oração para recitar-se cotidianamente de manhã se diz:"Adoro-te, meu Deus, e te amo
com todo o coração. Agradeço-te por ter me criado, feito cristão." Sim,
somos contentes pelo dom da fé; é o bem mais precioso, que ninguém pode nos
tirar! Agradeçamos ao Senhor por isto todos os dias, com a oração e com uma
vida cristã coerente. Deus nos ama, mas espera que nós também o amemos!
Mas não é
somente a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na
guia da barca de Pedro, mesmo que seja a sua primeira responsabilidade. Eu
nunca me senti sozinho no levar a alegria e o peso do ministério petrino; o
Senhor colocou tantas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja,
ajudaram-me e foram próximas a mim. Antes de tudo vós, queridos Cardeais: a
vossa sabedoria, os vossos conselhos, a vossa amizade foram preciosos para mim;
os meus Colaboradores, a começar pelo meu Secretário de Estado que me
acompanhou com fidelidade nestes anos; a Secretaria de Estado e toda a Cúria
Romana, como também todos aqueles que, nos vários setores, prestaram o seu
serviço à Santa Sé: são muitas faces que não aparecem, permanecem na sombra,
mas propriamente no silêncio, na dedicação cotidiana, com espírito de fé e
humildade foram para mim um apoio seguro e confiável. Um pensamento especial à
Igreja de Roma, a minha Diocese! Não posso esquecer os Irmãos no Episcopado e
no Sacerdócio, as pessoas consagradas e todo o Povo de Deus: nas visitas
pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens, sempre percebi grande
atenção e profundo afeto; mas também eu quis bem a todos e a cada um, sem
distinções, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada Pastor,
sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Em cada dia levei
cada um de vós na oração, com o coração de pai.
Gostaria
que a minha saudação e o meu agradecimento alcançasse todos: o coração de um
Papa se expande ao mundo inteiro. E gostaria de expressar a minha gratidão ao
Corpo diplomático junto à Santa Sé, que torna presente a grande família das
Nações. Aqui penso também em todos aqueles que trabalham para uma boa
comunicação, a quem agradeço pelo seu importante serviço.
Neste ponto
gostaria de agradecer verdadeiramente de coração todas as numerosas pessoas em
todo o mundo, que nas últimas semanas me enviaram sinais comoventes de atenção,
de amizade e de oração. Sim, o Papa não está nunca sozinho. Agora experimento
isso mais uma vez de um modo tão grande que toca o coração. O Papa pertence a
todos e tantas pessoas se sentem muito próximas a ele. É verdade que recebo
cartas dos grandes do mundo - dos Chefes de Estado, dos Líderes religiosos, de
representantes do mundo da cultura, etc. Mas recebo muitas cartas de pessoas
simples que me escrevem simplesmente do seu coração e me fazem sentir o seu
afeto, que nasce do estar junto com Cristo Jesus, na Igreja. Estas pessoas não
me escrevem como se escreve, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não
se conhece. Escrevem-me como irmãos e irmãs ou como filhos e filhas, com o
sentido de uma ligação familiar muito afetuosa. Aqui pode se tocar com a mão o
que é a Igreja - não uma organização, uma associação para fins religiosos ou
humanitários, mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de
Jesus Cristo, que une todos nós. Experimentar a Igreja deste modo e
poder quase tocar com as mãos a força da sua verdade e do seu amor é motivo de
alegria, em um tempo no qual tantos falam do seu declínio. Mas vejamos como a
Igreja é viva hoje!
Nestes
últimos meses, senti que as minhas forças estavam diminuindo e pedi a Deus com
insistência, na oração, para iluminar-me com a sua luz para fazer-me tomar a
decisão mais justa não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo
na plena consciência da sua gravidade e também inovação, mas com profunda
serenidade na alma. Amar a Igreja significa também ter coragem de fazer
escolhas difíceis, sofrer, tendo sempre em vista o bem da Igreja e não de si
próprio.
Aqui,
permitam-me voltar mais uma vez a 19 de abril de 2005. A gravidade da decisão
foi propriamente no fato de que daquele momento em diante eu estava empenhado
sempre e para sempre no Senhor. Sempre - quem assume o ministério petrino já
não tem mais privacidade alguma. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda a
Igreja. Sua vida vem, por assim dizer, totalmente privada da dimensão privada.
Pude experimentar, e o experimento precisamente agora, que se recebe a própria
vida quando a doa. Antes disse que muitas pessoas que amam o Senhor amam também
o Sucessor de São Pedro e estão afeiçoadas a ele; que o Papa tem verdadeiramente
irmãos e irmãs, filhos e filhas em todo o mundo, e que se sente seguro no
abraço da vossa comunhão; porque não pertence mais a si mesmo, pertence a todos
e todos pertencem a ele.
O
"sempre" é também um "para sempre" - não há mais um
retornar ao privado. A minha decisão de renunciar ao exercício ativo do
ministério não revoga isto. Não retorno à vida privada, a uma vida de viagens,
encontros, recepções, conferências, etc. Não abandono a cruz, mas estou de
modo novo junto ao Senhor Crucificado. Não carrego mais o poder do ofício para
o governo da Igreja, mas no serviço da oração estou, por assim dizer, no
recinto de São Pedro. São
Bento, cujo nome levo como Papa, será para mim de grande exemplo nisto. Ele nos
mostrou o caminho para uma vida que, ativa ou passiva, pertence totalmente à
obra de Deus.
Agradeço a
todos e a cada um também pelo respeito e pela compreensão com o qual me
acolheram nesta decisão tão importante. Continuarei a acompanhar o caminho da
Igreja com a oração e a reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa
que busquei viver até agora a cada dia e que quero viver sempre. Peço-vos para
lembrarem-se de mim diante de Deus e, sobretudo, para rezar pelo Cardeais,
chamados a uma tarefa tão importante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro: o
Senhor o acompanhe com a sua luz e a força do seu Espírito.
Invoquemos
a materna intercessão da Virgem Maria Mãe de Deus e da Igreja para que
acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a ela nos confiemos, com
profunda confiança.
Queridos
amigos! Deus guia a sua Igreja, a apoia mesmo e sobretudo nos momentos
difíceis. Não percamos nunca esta visão de fé, que é a única verdadeira visão
do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de
vós, haja sempre a alegre certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos
abandona, está próximo a nós e nos acolhe com o seu amor. Obrigado!
http://www.asj.org.br/educacao_artigos.asp?codigo=7224&cod_curso=134
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