O homem já foi estudado sobre vários aspectos. Disso resultou um material abundante o seu estar-no-mundo. Várias ciências contribuíram para isso, notadamente a Filosofia, a Metafísica, assim como a Antropologia Filosófica. "Hoje, há uma tendência a substituir o termo 'Psicologia' por 'Antropologia', que se considera como mais adequado para estudar todo o homem e não só sua alma" (B. Mondim).
Os
estudiosos concordam que o ser humano possui inúmeros sentidos externos e
internos que o ajudam na ação do conhecimento. É lá que se acumulam os
conhecimentos, as experiências que o ser humano adquire ao longo da vida.

Mesmo não possuindo
todas as informações sobre o homem, você não sente que o seu interior é um
espaço, uma parte do seu "eu", que lhe interessa diretamente? Por ser
uma coisa "viva" e atuante você o reconhece e o aceita como
complemento do seu "ser". Você convive com sua interioridade. É assim
mesmo? Estou certo? Você se identifica com seu interior?Corpo e Alma (a parte
que anima o corpo), juntos, são elementos necessários e fazem parte de nossa
vida.
Admitimos
também que nossas experiências (aquilo que aprendemos) ficam alojadas como
conhecimento, arquivados em nossos neurônios e, como aprendizado, passam a
fazer parte de nossa vida. Por essas informações alojadas no cérebro e com o
auxílio das emoções é que guiamos e pautamos a nossa vida. De certa forma nós
somos aquilo que pensamos; ou seja, somos uma máquina que não para de pensar.
E, de resto, reagimos como aprendemos.
Parece
não ser necessário muitos dados e nem muita informação sobre a natureza humana,
para que possamos perceber essa ocorrência em nós. Nossa interioridade é uma
realidade que experimentamos. É um dado que nos é dado, como disse alguém.
Paralelamente
à ciência do homem existe outra, a ciência da Sabedoria. Essa é mais completa porque
sua origem é divina. Ela ensina e trata sobre nossa realidade espiritual, como
consignada no Salmo 18,20, que diz: "O senhor conduziu-me para um lugar
seguro" (foi bondoso para comigo porque me ama). Esse "lugar
seguro" (mesma coisa que lugar privilegiado) se dá quando o Criador
convoca e estimula o ser humano a seguir e aceitar Suas graças, obtendo com
isso a certeza do caminho correto. Reconhecidamente, essa é a ação divina que
permite e possibilita ao homem administrar seu ser em pareceria com o divino.
Algumas
pessoas podem não concordar, dispensando essa realidade. Julgam-se maduras e
independentes, crendo-se capazes de gerir, por si mesmas, as experiências que
enfrentam. Como o Criador deu-lhes liberdade para decidirem nesse particular,
elas assumem esse risco de maneira inconsequente.
Temos
uma natureza inclinada para as coisas do sensível/imediato. Essas sim têm
merecido nossa atenção, puxando-nos para elas e suas reações emocionais. Quase
sempre sucumbimos! Já as situações que nos levam a pensar (função da sabedoria)
não nos interessam de imediato, só sendo possível quando a alma da pessoa
esteja inclinada para essas ocorrências.
De
tudo isso que foi dito até agora, cabe perguntar: será que exploramos e fazemos
valer a riqueza escondida em nosso interior? Será que notamos que isso existe
em nós e pede nosso empenho?
Cada
um de nós deve experimentar, provando a si mesmo, que isso é possível, que
existe de fato um "ferramental" dentro de nós, dentro da nossa
natureza ontológica de "ser", onde essas realidades necessitam
assumir suas dimensões. Além dos sentidos externos (tato, paladar, olfato,
audição e visão), responsáveis pelo nosso aprendizado, existem outros sentidos
dentro de nós, como sentido comum, a exemplo da memória, da fantasia e do
instinto, que ao se juntarem nos ajudam a atingirmos um crescimento emocional e
espiritual que desejamos para nossa vida.
É
importante enfatizar, deixando claro que essas "potências"
(possibilidades) estão lá dentro da nossa alma, do
nosso ser, e, como coisa viva, desejando, necessitando serem acolhidas,
identificadas. E, ao serem descobertas vão redundar, vão permitir que a pessoa,
ao utilizar essas potências (possibilidades), experimente um crescimento
emocional e espiritual mais objetivo, mais de acordo com a natureza para a qual
foi criada.

Pode
parecer um caminho difícil, escorregadio, mas ao conhecimento mais direto
dessas realidades só se chega aos poucos e com a iluminação divina (Carlos
Josaphat - Paradigma de Tomás de Aquino, Paulus - 2012, Loyolla). A esse
propósito Tomás de Aquino afirmou que "a natureza não é nunca carente
daquilo que é necessário".
Essas
realidades parecem estar escondidas dentro de nós, em forma embrionária e, só
aos poucos, nos vão chegando à compreensão, cujos efeitos deixam perceber e
sentir a semelhança da sua Causa. Então, a partir daí, a alma e o ser estão
preparados para ir entendendo essa realidade de forma mais ampla e profunda,
sempre crescendo.
"Ficam,
pois, assim, as coisas: admitindo o fato de um conhecimento humano, portador de
um caráter intelectivo, isto é, não redutível aos sentidos e à imaginação, e
excluída a possibilidade de explicar a origem, devemos concluir que a fonte de
tal conhecimento se encontra dentro do próprio homem" (B. Mondim - "O
homem, quem é ele?" pág 77- Paulus). Descobrir essas verdades é como sair
da nossa fase dialética e enfrentar a realidade bem mais ampla, que é a própria
vida.
Além
do conhecer sensitivo (feito através dos sentidos) e do imaginativo, o homem é
dotado de um conhecer de outro tipo, que não tem por objeto o particular, o
sensível, o material, mas sim o universal e o abstrato. A existência dessa
forma de conhecer se faz, antes de tudo, pela posse das ideias universais.
Podemos incluir aqui também nosso potencial à religiosidade.
Esse
conhecimento (essa experiência) é um tipo de aproximação e se faz como foi
dito, de maneira lenta, porém firme, deixando claro sua validade. É uma
extensão que nos atinge como consequência complementar, fazendo parte do nosso
lado ontológico.
Isso
nos faz admitir que só uma recriação radical, isto é, que chegue às nossas
raízes e atinja o cerne de nosso ser, só assim as coisas, as situações
enfrentadas por nós conseguem andar e estarem em conformidade com Deus e Sua
vontade. Não há nenhuma verdade espiritual ou qualquer descoberta que já não
esteja antes dentro de você.
A
palavra "iluminação" transmite a ideia de uma conquista sobre-humana
e isso poderia agradar nosso ego. O que você pode descobrir é o
"sentir-se" em unidade com o seu Ser, um estado de conexão com o que
já está dentro de você e você não tem dado conta dessas realidades. A
iluminação consiste em encontrar sua verdadeira natureza por detrás do nome e
da forma.
Quando
isso estiver acontecendo você irá perceber que cessou seu processo dialético e,
agora, a partir dessa descoberta, as realidades percebidas dentro de você se
abrem e ficam mais claras, e você mais liberto para vivê-las intensamente. Isso
ocorre, muitas vezes, a partir do momento em que nos debruçamos sobre esses dados
e o seu correspondente, que é o "ser".
O SER

Não desejando
complicar, posso dizer que "ser" é tudo que ocupa espaço; tudo que
tem vida, à sua maneira, como as coisas à nossa volta.
Convencionou-se
agrupar o ser, respeitando sua perfeição e natureza: reino mineral (pedras);
reino vegetal (plantas); reino animal (animais), compreendido ai o homem e seus
atributos que o diferenciam dos outros reinos.
Comparativamente
percebe-se que cada reino é, em si mesmo, mais perfeito do que o outro. Essa
equivalência, esses valores, evidenciam a grandeza e a pluralidade do Criador.
Quanto mais um ser contém "perfeição" mais ele se destaca, se
comparado a outro. Cabe ao homem, então, como "ser", destacar-se dos
outros reinos, atingindo a capacidade para amar e ser amado, com seu esforço e
sua vontade, fazendo jus ao desejo do Criador que o concebeu à Sua Imagem e
Semelhança (Gn 1,26).
Por
isso o homem deve se empenhar nessa tarefa. E, se não o fizer, tendo todos
esses recursos e acertos à mão, torna-se um filho mal-agradecido, um ser
incompleto.
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