1 – “Os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e
contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde
comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre
tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram,
então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se,
muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para
aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande
multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem
pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”.
Jesus e os Seus discípulos estão em constante movimento. Quase não têm tempo
para descansar e por vezes as refeições são feitas à pressa, pois há sempre
pessoas a chegar e a partir.
O primeiro dos evangelistas, São Marcos, o mais "genuíno", não tendo
a preocupação de apresentar uma reflexão refletida e ordenada sobre Jesus, quer
dar-nos o testemunho daqueles que viveram com Ele, como é o caso de São Pedro,
para que o maior número de pessoas possa beneficiar da Sua mensagem e da Sua
benevolência. É um Jesus mais humano e sensível, em ação permanente, sem tempo
para grandes paragens, e onde são mais as interrogações que as respostas.
Duas premissas sobressaem de imediato em São Marcos: Jesus é o Filho de Deus e
tem consciência que é Filho de Deus, mas é um homem entre homens, com
necessidades, precisa de comer e de descansar, de se afastar da multidão e
rezar em silêncio; e é o Messias esperado, n'Ele se cumprem as promessas de
Deus feitas ao Povo da Aliança, de forma mais explícita pelos profetas; surge
do povo e ao povo é enviado.
Ao lermos com atenção este trecho do evangelho sobrevém a delicadeza e atenção
de Jesus. Enviou os seus discípulos e no regresso Ele sabe/sente que precisam
de descansar, de retemperar forças, de comer, e de relatar tudo o que passaram,
a experiência vivida. É um lado muito humano de Jesus e muito concreto. Neste
episódio não há nada de abstrato ou elaborado. É a vida no seu pulsar
quotidiano. O Messias, o Enviado de Deus, assume em pleno a Sua humanidade.

2 – A compaixão de Jesus pela multidão é constante na Sua vida. Vem da parte de
Deus. É o próprio Filho de Deus, mas vem como Pastor para o meio da humanidade,
para o meio de um rebanho tantas vezes desorientado, sem guia e sem esperança.
É notório que há muitas pessoas que ouviram falar de Jesus e não apenas um
bando de maltrapilhos (que Ele acolhe com maior afabilidade). É grande a
multidão que a Ele acorre, gente que vem de toda a parte, de vários grupos
sociais, religiosos e políticos, de várias regiões e em diferentes idades.
A resposta de Jesus é atitudinal: levanta-Se de imediato, não deixa a multidão
à espera. Ensina-lhes muitas coisas. Quem chega não está faminto apenas de pão,
mas de vida nova, de sentido para os seus dias de trabalho e canseira.
As palavras do salmista apropriam-se a Jesus: “O
Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma. A bondade e a graça
hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre”. Deus nada nos tira. Diante d'Ele não precisamos de
disfarces, apresentamo-nos como somos, com a nossa alma em transparência,
sabendo que Ele nos guia para o bem, que nos proporciona descanso, o reencontro
connosco.
3 – A primeira leitura que hoje nos é proposta antecipa a chegada do
Messias-Pastor. Deus virá para o meio do Seu povo. É uma promessa que renova a
esperança em Deus e que haveria de motivar os israelitas a voltarem à Aliança,
evitando a conflitualidade, egoísmo, a perversão, que levaria à ruína do reino
do Norte e de Judá. Um povo sem Deus, e sem Mandamentos, é um povo sem alma e
sem futuro, correndo o sério risco de se desmoronar.
Jeremias é mais um profeta da interioridade, cimentando o compromisso com as
pessoas mais frágeis, apontando a conversão interior, como caminho para Deus e
para os outros, adesão firme à Aliança e que implique, pressuponha e conduza à
prática da justiça e da caridade. Os ritos valem se preenchidos com Deus e com
a Sua Palavra, na vivência dos Seus mandamentos. De contrário são como ossos
ressequidos, esqueleto sem carne e sem músculo, sem vida!
A religião, como a vida política e social, há de estar ao serviço do bem, da
paz, ao serviço de todos, promovendo os mais pequenos. Só iguais podemos viver
como irmãos e também com a mesma responsabilidade social e política.
Hoje precisamos de profetas que bradem esperança e sobretudo nos tragam Deus. E
nós também somos responsáveis pela profecia da esperança e de Deus. Deus não
tardará, já alouram as searas, os campos começam a ficar preparados para a
ceifa, Deus já se anuncia breve, como o Bom Pastor para o meio do seu rebanho,
do Seu povo.
“Eu mesmo reunirei o resto das minhas
ovelhas de todas as terras onde se dispersaram e as farei voltar às suas
pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as
apascentem e não mais terão medo nem sobressalto; nem se perderá nenhuma delas
– oráculo do Senhor. Dias virão, diz o Senhor, em que farei surgir para David
um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há de
exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel
viverá em segurança. Este será o seu nome: «O Senhor é a nossa justiça»”.
4 – O anúncio profético realiza-se em Jesus Cristo, o Pastor por excelência.
Não vem por sobre as nuvens, mas encarna, vem do povo, é Homem que tem poiso e
pisa o nosso chão, terra sagrada para o encontro de Deus e do Homem, vem com a
força divina encher de beleza e enriquecer a fragilidade humana. Não se coloca
de fora, como observador, mas dentro da humanidade. É n'Ele que encontramos a
salvação de Deus.
Como clarifica o Apóstolo,
“foi em Cristo Jesus que vós, outrora
longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de
facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo… de uns e
outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz
reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo... Cristo veio
anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para
aqueles que estavam perto”.
Veio para reunir de todas as nações, para congregar os de perto e os de longe,
para salvar, para semear a paz e a justiça, para formar de todos um só Povo
para Deus.
Textos para a Eucaristia (ano B): Jer
23, 1-6; Sl 22 (23); Ef 2, 13-18; Mc 6, 30-34.
Reflexão Dominical na
página da Paróquia de Tabuaço
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