Marcos 6,1-6
Comentário do Evangelho
A difícil
missão do profeta
Esta narrativa de Marcos tem como núcleo a proclamação de Jesus: "Um profeta só não é valorizado na sua própria terra". É a sua rejeição pelos frequentadores da sinagoga e por seus familiares. É uma ruptura com as tradicionais estruturas sociorreligiosas de parentesco do judaísmo, que se afirma como povo eleito a partir dos vínculos carnais de consanguinidade, comprovados por genealogias. Já João Batista em sua pregação advertia: "Produzi fruto de arrependimento e não penseis que basta dizer: 'Temos por pai Abraão'". Com Jesus a família fica caracterizada pela união em torno do cumprimento da vontade do Pai.
No evangelho de Marcos, esta é a terceira e última vez que Jesus vai a uma sinagoga, cada vez tendo ocorrido um conflito com os chefes religiosos. Jesus exerce seu ministério na Galileia e territórios gentílicos vizinhos, tendo a "casa" como centro de irradiação da missão.
Percebe-se, bem, como os evangelhos deixam transparecer a dificuldade que os discípulos, e os demais que conviveram com Jesus, tiveram em compreender sua identidade. Quem é Jesus? Durante cerca de trinta anos Jesus viveu com sua família, na Galileia, sem nada excepcional que chamasse a atenção sobre sua pessoa. É o Filho de Deus presente no mundo, em comunicação com as pessoas, certamente de maneira humilde, digna e com amor. É a condição humana, na simplicidade do dia a dia, que é valorizada pelo Pai, o qual, em tudo que nela há de bom, justo e verdadeiro, a assume no seu amor e na sua vida eterna. Após ser batizado por João, Jesus durante cerca de três anos passa a revelar ao mundo este projeto vivificante do Pai. É o Reino de Deus presente entre nós. Ao fazer, com sabedoria, o seu anúncio profético do Reino, seus conterrâneos se admiravam, mas não o valorizaram, pois sempre o conheceram na sua simplicidade de carpinteiro, filho de Maria. Esta reação do povo indica que Jesus não tinha nenhuma origem davídica, pelo que, se fosse o caso, seria exaltado por todos.
O judaísmo tinha uma expectativa messiânica segundo a qual um dia viria um líder que, com carismas especiais, conduziria a nação judaica e a elevaria a um status de glória, riqueza e poder acima das demais nações. Era um ungido (messias, do hebraico; cristo, do grego) à semelhança de Davi, ungido rei, que, segundo a exaltação da tradição, teria criado um glorioso império, o que foi incorporado na memória do povo. Ao longo do ministério de Jesus, os seus discípulos de origem do judaísmo começaram a ver nele este messias poderoso. Esta falta de compreensão foi frequentemente censurada por Jesus.
O crer em Jesus é ver, na sua humildade e em seus atos de amor, a presença de Deus, cumprindo a vontade do Pai de comunicar a vida aos empobrecidos e marginalizados, os quais são assumidos como filhos, em Jesus. O verdadeiro ato de fé é ver Deus, despido de poder, vivendo entre nós, humildemente, na plenitude do amor.
Paulo testemunha que a missão é feita com humildade e não com atos de poder (segunda leitura). Foi, também, na simples condição da fragilidade humana, como "filho do homem", que Ezequiel foi enviado a profetizar a um povo rebelde (primeira leitura).
José Raimundo Oliva
Vivendo a Palavra
Quando Jesus se queixa do pré
julgamento dos seus conterrâneos, na verdade Ele está nos lembrando de que
também nós podemos rotular as pessoas, só escutando os doutores e os famosos,
esquecidos de que o Espírito Santo nos fala através dos simples e humildes.
Estejamos atentos à sabedoria que transpira da vida simples dos que nos cercam.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "NAZARÉ DAS NOSSAS ILUSÕES"
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
É bonito quando vemos alguém famoso causando admiração, outro dia em uma festa de casamento, que acontecia em um belo salão, adentrou um artista de grande talento, contratado pela noiva, representando o Elvis Presley e era de se espantar em ver como os seus trejeitos, lembravam realmente o rei do rock, todos os convidados se aproximaram para umas fotos, as mulheres queriam acompanhá-lo na dança ousada, e até os homens se admiravam e a sua presença inusitada, surpreendeu a todos.
Quando Jesus chegou a sua “terrinha” de Nazaré, acompanhado dos discípulos, deve ter causado um verdadeiro “rebuliço”, pois a fama de suas pregações e milagres já tinha chegado por ali, e no sábado, como todo piedoso judeu, foi á celebração da palavra da comunidade, onde qualquer pessoa adulta poderia partilhar o ensinamento sobre a Palavra e Jesus, usando desse direito, começou a pregar á sua gente fazendo a homilia.
O povinho da terra nunca tinha ouvido uma pregação feita com tanta sabedoria, que superava o ensinamento dos Mestres da Lei e Fariseus, imaginemos que na comunidade, algum ministro da palavra pregue melhor do que o padre... E com o estudo teológico acessível aos leigos, isso hoje não seria novidade. Aquilo que causa muita admiração, também logo acabará despertando inveja e ciúmes.
Basta que olhemos para os nossos trabalhos pastorais, onde o carisma das pessoas não deveria jamais perturbar o coração de ninguém, ao contrário, deveria motivar um hino de louvor, por Deus ter dado a alguém um carisma tão belo, colocado a serviço da comunidade. Mas logo surgem os questionamentos maldosos: Como é que ele faz isso? Onde aprendeu? Quem o ensinou, de onde é que vem todo esse saber? Será que o padre o autorizou? (esta última coloquei por minha conta) E a admiração, contaminada por sentimentos de inveja, vai logo se transformando em desconfiança aumentando o questionamento: “Quem ele pensa que é para falar assim com a gente? Será que ele não se enxerga? E ainda tem gente que o aplaude...” Os que não gostam muito do padre, logo vão afirmar que o sujeito faz parte da sua “panelinha”, ou então, irão inventar alguma coisa para que o padre “corte a asinha” do tal.
Jesus deve ter sentido uma frustração muito grande, quando percebeu sentimentos tão mesquinhos em meio á comunidade onde cresceu e fez a sua catequese. Duvidavam da sua sabedoria, e talvez para provocá-lo, queriam que ele resolvesse algum problema da comunidade, “Se ele endireitar a comunidade, daí eu acredito”. Às vezes também nos iludimos quando queremos que alguém que fala “certos milagres”, talvez o cooperador, o coordenador do grupo, o catequista, o ministro da palavra, quem sabe o coitado do Diácono ou o Padre, que têm autoridade. Penso que na sinagoga de Nazaré foi mais ou menos assim que os fatos ocorreram, queriam jogar tudo nas costas de alguém, e como Jesus tinha fama de ser o Messias...
As pessoas, quando enxergam algo de extraordinário no carisma de alguém, começam a fazer do sujeito uma referência importante, acham que a sua oração é especial, que um toque de sua mão poderosa pode realizar curas prodigiosas, e em pouco tempo, a propaganda é tanta, que o tal não pode mais sair as ruas que é logo procurado para resolver os mais complicados problemas, inclusive de relacionamento entre as pessoas, apaziguar casais brigados, aconselhar jovens, e assim a sua palavra se torna poderosa e em consequência passa a ter poder religioso paralelo, e se na comunidade não houver um espaço para ele atuar, terão de criar um, pois ele precisa ser o centro das atenções.
Jesus não quis formar um grupo só para ele, para bater de frente com os Doutores da lei, escribas e fariseus, e como ele pertencia a uma das famílias do local, a ponto de sua mãe e seus irmãos serem de todos conhecidos, começaram a vê-lo como um vulgar, que nada de extraordinário tinha feito em Nazaré, para que merecesse toda aquela fama.
Na verdade, Jesus não quis assumir o papel de “Salvador da Pátria”, diferente de muitos cristãos, que se julgam o máximo naquilo que fazem, e pensam que sem eles, a comunidade estaria perdida. Essa rejeição á ele, suas obras e ensinamentos, iria se ampliar e lhe traria consequências muito trágicas na cruz do calvário, tudo porque suas palavras anunciavam um reino novo, que exigia uma total renovação e mudança de vida.
Quando a pregação que ouvimos, serve para o vizinho, ou para o marido ou a esposa, ou quem sabe para os filhos, ou para o chefe ou o colega de trabalho, prestamos muita atenção e vibramos, só em pensar que aquelas verdades atingem em cheio a pessoa em quem pensamos. Porém, quando a pregação toca o nosso coração e nos motiva a mudar o nosso jeito de pensar ou de agir, temos duas reações, ou reconhecemos a legitimidade da palavra e abrimos o nosso interior, para uma conversão sincera, ou então rejeitamos o pregador e passamos a querer vê-lo pelas costas.
Na sinagoga de Nazaré foi assim, e nas nossas comunidades, não é muito diferente. Quem prega mudanças de mentalidade e conduta, vai sempre arrumar uma bela de uma encrenca. Enfim, o Jesus que há dentro de nós, criado pelas nossas fantasias, ou fruto de nossas ideologias sociais ou políticas, não coincide com esse Jesus, Profeta de Nazaré, Ungido de Deus. E o pior, é que projetamos tudo isso nas pessoas que lideram a comunidade, nos cooperadores, nos coordenadores, nos ministros, nas catequistas, nos padres e diáconos e assim vai. Um dia, basta um desentendimento mais sério e o nosso Jesus idealizado “vai pro espaço” com a pastoral e o movimento.
Quanto mais somos realistas em nossa fé, mais nos adequamos á comunidade aceitando-a como ela é, quanto mais nos iludimos com o Jesus da nossa fantasia, mais difícil será vivermos em comunidade, aceitando as pessoas do jeito que elas são. Daí, como em Nazaré, nenhum milagre acontece, por causa dessa fé infantil e ilusória...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail cruzsm@uol.com.br
2. A difícil missão do profeta
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
VIDE ACIMA
Oração
Pai, abre minha mente e meu coração, para que eu possa compreender que tu te serves de meios humanamente modestos para realizar as tuas maravilhas.
3. O MINISTÉRIO DE JESUS
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês)
O evangelista Marcos narra que Jesus foi para "sua própria terra", isto é, para sua cidade de origem, a cidade de sua família, Nazaré. O fato de os seus discípulos o acompanharem indica que não é apenas uma visita familiar, mas também uma visita já em vista do anúncio de sua Boa-Nova.
Neste Evangelho, esta é a terceira e última vez que Jesus aparece no espaço simbólico da sinagoga, e todas as ocasiões em clima de contestação e conflito com os chefes religiosos e sua doutrina. Jesus, exercendo seu ministério na Galiléia e nos territórios gentílicos vizinhos, abandona a sinagoga e tem a "casa" como centro de irradiação da missão.
Os que ouviam Jesus "maravilhavam-se" com o que dizia, mas o rejeitaram. E Jesus "espantava-se" com a incredulidade deles. "Não é ele o carpinteiro?" diziam, com desprezo. Faltava-lhes a fé.
A sentença "Um profeta só não é valorizado na sua própria terra" é um patrimônio da cultura antiga, sendo citada em documentos do Antigo Egito. Como palavra de Jesus, exprime sua rejeição pelos frequentadores da sinagoga e por seus familiares. A mensagem central deste episódio é o distanciamento de Jesus em relação às tradicionais estruturas sociorreligiosas de culto e parentesco do judaísmo.
Este se afirmava como povo divinamente eleito a partir dos vínculos carnais de consanguinidade, provados por genealogias, com a ascendência abraâmica, e na obediência à Lei de Moisés.
Afastando-se das sinagogas, Jesus exerce seu ministério percorrendo os povoados da Galiléia e regiões vizinhas, ensinando. Com ele, o espaço do encontro com Deus é a casa, onde se reúne a comunidade; e a família fica caracterizada pela união em torno do cumprimento da vontade do Pai.
Percebe-se bem como os Evangelhos deixam transparecer a dificuldade que aqueles que conviveram com Jesus tiveram em compreender sua identidade. Quem é Jesus?
Durante cerca de trinta anos ele viveu com a família, na Galiléia, sem nada excepcional que chamasse a atenção sobre sua pessoa. É o Filho de Deus presente no mundo, em comunicação com todos, certamente de maneira humilde, digna e com amor.
É a condição humana, na simplicidade do dia-a-dia, que é valorizada pelo Pai e que, em tudo o que nela há de bom, justo e verdadeiro, a assume no seu amor e na sua vida eterna.
08.07.2012
14º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(VERDE, GLÓRIA, CREIO – II SEMANA DO SALTÉRIO)
__ "O Profeta: aquele que anuncia com temor e coragem" __
ANO B – COR VERDE -
ANO 37 – Nº 32 – REMESSA VIII – 8/7/2012
14º DOMINGO COMUM
O CONCÍLIO E A
EDUCAÇÃO
Dando continuidade à proposta de –
mensalmente ao longo deste ano, neste espaço de O Domingo – Celebração da
Palavra de Deus – recordar o Concílio Vaticano II ao comemorarmos 50 anos de
seu início, escolhemos para este mês a declaração Gravissimum Educationis, que
versa sobre a educação cristã.
O Concílio Ecumênico Vaticano II não
poderia esquecer a educação, pois a Igreja sempre foi considerada a grande
mestra da vida. À luz da palavra de Deus ela construiu sua pedagogia, porque
evangelização e educação caminham de mãos dadas na formação do ser humano. A
declaração Gravissimum Educationis, o legado do concílio para essa necessidade
da vida humana, assim se inicia: “O sagrado concílio ecumênico considera
atentamente a importância capital da educação para a vida do homem e sua
influência sempre maior sobre o progresso social da nossa época”.
Não obstante fraquezas e limitações
fazerem parte da natureza humana, Jesus convocou seus seguidores à perfeição,
dando-lhes como referência a perfeição do Pai: “Sede perfeitos como o Pai
celestial é perfeito”. A caminhada entre as imperfeições humanas e a perfeição
divina é uma aprendizagem de toda a vida, efetivada exatamente pela educação
auxiliada pela graça de Deus. Daí ser ela considerada um direito humano
universal. Está no documento: “Os homens todos de qualquer raça, condição e
idade, em virtude da dignidade de sua pessoa, gozam do direito inalienável à
educação que corresponda à sua finalidade, à índole, à diferença de sexo, e se
acomode à cultura e às tradições nacionais e, ao mesmo tempo, se abra à convivência
fraterna com outros povos, favorecendo a união verdadeira e a paz na terra”.
Nesse parágrafo está claro que a educação não é um favor prestado, porém um
dever da família, da sociedade e da Igreja para uma formação humana
completa.
Mais adiante, a Gravissimum
Educationis se volta mais para o povo de Deus, sublinhando: “Todos os cristãos
que, pela regeneração da água e do Espírito Santo, se tornaram nova criatura e
são chamados filhos de Deus têm direito à educação cristã”.
O espaço de O Domingo – Celebração da
Palavra de Deus deste mês de julho só permite esta abordagem sumária sobre o
referido documento, cuja importância e qualidade o fazem merecedor de uma
leitura integral de qualquer um de nós, porque, na verdade, todos somos
educadores.
D. Geraldo Majella
Agnelo
Cardeal Arcebispo Emérito de Salvador
14º DOMINGO COMUM
(8 de julho)
Aíla Luzia Pinheiro
Andrade, nj
ENVIADOS POR DEUS E
REJEITADOS PELOS SEUS
I. INTRODUÇÃO GERAL
O tema da liturgia de hoje é a
rejeição à palavra de Deus. No evangelho, os contemporâneos de Jesus não lhe
dão crédito porque não conseguem ver nele nada mais que um carpinteiro. Mas
isso não é fato pontual, já havia incredulidade no tempo dos profetas. A
primeira leitura menciona a falta de fé dos contemporâneos de Ezequiel, porque
têm um coração insensível. O profeta é orientado a insistir na proclamação da
palavra de Deus mesmo que seus contemporâneos não queiram ouvi-la. Assim também
agiu Paulo, que, em vez de desanimar com as dificuldades, continuou com o
anúncio do evangelho e nos ensinou a dizer: “quando sou fraco, então é que sou
forte”.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mc
6,1-6): O profeta é desprezado na própria terra
Passando novamente por sua própria
terra, Jesus encontrou dificuldade para operar milagres por causa da falta de
fé. Ele se dirigiu à sinagoga no dia de sábado, como todo judeu adulto, e tomou
a palavra para ensinar. Não se tratava de qualquer instrução, pois o lugar e o
dia faziam disso um ensino oficial e litúrgico.
O ensino de Jesus causa duas reações
contrárias: admiração e recusa. Essa disposição para com Jesus marca todo o
Evangelho de Marcos, tendo como principais protagonistas dessa recusa os líderes
religiosos de seu próprio povo, Israel.
A admiração diante do ensinamento de
Jesus estava relacionada com sua autoridade, que não vinha de sua profissão.
Ele não tinha a profissão de Rabino (mestre), mas de artesão da madeira. O fato
de ser carpinteiro não era desonra, pois se tratava de profissão bem
considerada. Essa afirmação apenas prova que os seus compatriotas o conheciam
bem e se admiravam que fosse sábio e fizesse milagres, quando o normal seria
apenas trabalhar com a madeira. O objetivo aqui é mostrar que a sabedoria e o
poder de Jesus não vêm das pessoas, não se adquirem como uma profissão, mas vêm
de Deus.
Em seguida, a admiração inicial
transformou-se em hostilidade, sinal da incredulidade ante as obras de Jesus. O
episódio retrata que os galileus estavam marcados pelo preconceito: admiravam
as obras de Jesus, mas não o acolheram. Essa falta de acolhimento o
impossibilitou de fazer milagres em sua própria terra, uma vez que os milagres
significavam o avanço do reino de Deus e o retrocesso do antirreino, e isso só
era possível onde havia fé em Jesus como Messias/Cristo. O preconceito fechou
os corações, e os galileus não perceberam a ação de Deus em Jesus.
2. I leitura (Ez
2,2-5): O profeta anuncia, quer escutem, quer não
O texto diz que o sopro de Deus
entrou em Ezequiel: isso significa que agora ele é inspirado e movido pelo dom
da profecia e o que vai anunciar é palavra de Deus. O Espírito põe o profeta de
pé, em atitude de prontidão, para anunciar ao povo a profecia que vai receber.
Ezequiel é enviado aos filhos de
Israel. Algo fora do comum acontece no v. 3: em vez de Israel ser chamado “povo
de Deus”, como geralmente acontece na Bíblia, é chamado de “nação rebelde”,
literalmente “gentio rebelde”. Na Bíblia, “gentio” está sempre em oposição a
Israel, que é sempre referido como “o povo”. Isso significa que, quando Israel
rejeita a palavra de Deus, se torna igual aos gentios.
A rebeldia dos contemporâneos de
Ezequiel vinha de longa data, as gerações passadas se comportaram da mesma
forma. As perspectivas da recepção da profecia por parte dos destinatários não
são nada animadoras para Ezequiel, pois eles têm a face endurecida e o coração
obstinado. Quer escutem, quer não, saberão que “houve um profeta entre eles”.
Essa expressão significa que Deus é misericordioso e os advertiu, e que eles já
não têm desculpas para o erro.
3. II leitura (2Cor
12,7-10): Prefiro gloriar-me de minhas fraquezas
Paulo afirma que tem um “espinho na
carne”; de maneira geral, essa expressão significa algo que provoca grande
angústia. Uma alusão a Ez 28,24, quando se refere aos povos vizinhos (e
inimigos) de Israel como espinhos e abrolhos. Com a expressão “espinho na
carne”, o apóstolo pode estar se referindo, entre outras coisas, às angústias
que tinha suportado com a oposição à sua pessoa, e à sua autoridade, por parte
dos coríntios. A rebeldia da comunidade de Corinto contra Paulo foi tão
dolorosa que o compeliu a escrever uma “carta entre lágrimas”: “foi levado por
grande aflição e angústias de coração que vos escrevi, em meio a muitas
lágrimas” (2Cor 2,4).
A expressão “mensageiro de satanás” é
equivalente a “espinho na carne” e significa que, mesmo sofrendo rejeição por
parte dos coríntios, o apóstolo não desanimou da missão de exortá-los a viver
conforme o evangelho. Paulo aceitou as angústias como uma motivação para
exercer a humildade e vencer o orgulho. O apóstolo deixou que Deus se
utilizasse da fraqueza humana para mostrar a grandeza do agir divino.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
– A homilia deve levar a comunidade a
refletir sobre as graves consequências da rejeição à palavra de Deus. Ainda
hoje Deus nos fala por meio de pessoas humildes e modestas. Às vezes a palavra
que nos é anunciada questiona nosso agir, e por isso é muito mais fácil
rejeitá-la que sair do nosso estado de comodismo ou de pecado. Não raro nos
tornamos um espinho na carne, não raro provocamos grandes angústias a quem
somente deseja o bem da comunidade e a vivência mais autêntica da mensagem de
Jesus.
Jesus de Nazaré, o Filho de Deus
Postado por: homilia
julho 8th, 2012
O evangelista Marcos narra que Jesus foi para “Sua própria terra”, isto é, para Sua cidade de origem, a cidade de Sua família: Nazaré. Para Marcos, esta é a última vez que Ele àquele lugar. É também a última vez que Ele entra numa sinagoga, lugar onde os judeus se reuniam aos sábados para ouvir a Palavra de Deus e rezar. No início, quem se admira são os ouvintes. Porém, a admiração não os leva à fé em Jesus, mas sim a rejeitá-lo. No final desse Evangelho, é Jesus quem se admira com a falta de fé daquele povo. Essa falta de fé no Homem-Jesus impede a realização de milagres, isto é, o Reino acaba não acontecendo em Nazaré.
Marcos dá a entender que o povo estava cansado com esse costume. De fato, quando o Senhor entra, pela primeira vez, numa sinagoga e começa a ensinar (cf. 1,21-28), o povo gosta desse novo ensinamento dado com autoridade (cf. 1,27).
Em Nazaré, terra de Jesus, as coisas tomaram um rumo diferente. É que Ele não havia frequentado nenhuma escola de ensino das Escrituras, não fez nenhuma especialização. Além disso, Seu ensinamento é acompanhado de uma prática que livra as pessoas de qualquer tipo de opressão. Marcos não consegue mostrá-Lo ensinando sem que antes Ele desse a verdadeira liberdade ao homem. Mais ainda: Seu ensinamento é uma prática de autêntica liberdade.
Em Nazaré, num dia de sábado, Jesus está ensinando na sinagoga. Mais uma vez o evangelista não diz o que Jesus ensina. Nós não precisamos de explicações, pois conhecemos que tipo de ensinamento é o d’Ele.
O povo que está na sinagoga manifesta sua perplexidade e descrédito em relação a Jesus. A primeira e a segunda levantam suspeita e ceticismo: “De onde ele recebeu tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria?” Por trás dessas objeções está o início da rejeição de Jesus como Messias. Naquele tempo, especulavam muito sobre a origem do Messias. E a conclusão a que chegaram era esta: “Nós sabemos de onde vem esse Jesus, mas, quando chegar o Messias, ninguém saberá de onde ele vem” (Jo 7,27). Jesus, portanto, não poderia ser o Messias, pois sua origem era conhecida por todos. Além disso, para os conterrâneos de Cristo é impossível “fazer teologia” sem passar pela escola dos doutores da Lei e fariseus.
A terceira pergunta levanta suspeitas sobre quem age por meio de Jesus: “E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos?” Um pouco antes, alguns doutores da Lei afirmavam que o chefe dos demônios agia em Jesus, levando-O a expulsar demônios. O povo de Nazaré deixa transparecer essa mentalidade.
A última pergunta sintetiza todas as anteriores: “Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” É uma pergunta desmoralizante e debochada. Quando se queria desprezar alguém, bastava substituir o nome do pai pelo da mãe. Por isso, a expressão “filho de Maria” (a não ser que José já tivesse morrido) é altamente depreciativa. E a conclusão é muito simples: “Ficaram escandalizados por causa dele”, isto é, seus conterrâneos O rejeitaram.
Jesus, portanto, foi rejeitado, porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré ao lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram n’Ele nada de extraordinário que pudesse indicá-Lo como o Messias de Deus, mas a extraordinariedade de Jesus-Messias está justamente aí, na Encarnação, no fato de não ter nada que possa diferir da condição humana comum. O Filho de Deus se fez como qualquer um de nós, e aqui está o “nó da questão”. Muitos afirmam que “não creem, porque não veem”. Os conterrâneos de Jesus não creem, justamente porque veem Jesus trabalhador, o filho de Maria, um homem do povo, que não frequentou nenhuma escola superior, um homem que vem de Nazaré, lugarejo insignificante.
O “escândalo” da Encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de muito cristão de boa vontade. Por se encarnar nas realidades humanas, Jesus-Messias foi rejeitado. Isso faz pensar no desafio que é a encarnação do Evangelho na realidade do povo. Ficaremos paralisados como os conterrâneos de Jesus?
Pai, abra minha mente e meu coração para eu compreender que o Senhor se serve de meios humanamente modestos para realizar as suas maravilhas.
Padre Bantu Mendonça
Leitura Orante
Preparo-me para orar a Palavra invocando,
com todos que circulam na internet, o Espírito Santo:
Espírito de verdade,
consagro-te a minha inteligência,
imaginação e memória, ilumina-me.
Dá-me a graça de conhecer Jesus Cristo Mestre.
1. Leitura (Verdade)
- O que a Palavra diz?
Leio o texto da Palavra de hoje em
Mc 1,1-6.
Jesus voltou com os seus discípulos para a cidade de Nazaré, onde ele tinha morado. No sábado começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o estavam escutando ficaram admirados e perguntaram:
- De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres? Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui?
Por isso ficaram desiludidos com ele. Mas Jesus disse:
- Um profeta é respeitado em toda parte, menos na sua terra, entre os seus parentes e na sua própria casa.
Ele não pôde fazer milagres em Nazaré, a não ser curar alguns doentes, pondo as mãos sobre eles. E ficou admirado com a falta de fé que havia ali. Jesus ensinava nos povoados que havia perto dali.
Compreende-se que, sendo Nazaré uma pequena vila de cerca de 300 vizinhos, tivesse um único carpinteiro. O texto diz também que se questionavam se não era ele o irmão de Tiago, José, Judas e Simão. Em aramaico, uma mesma palavra é usada tanto com o sentido de irmão próprio como de parente próximo, e, portanto, não indica que Maria teve outros filhos ou filhas.
Com a baixa auto-estima, ou seja, não acreditando nos valores de um filho da terra, veio a incredulidade, ou seja, não acreditam que Jesus de Nazaré é Filho de Deus.
Na verdade, a fé não cura. Mas, é condição para que o poder de Deus atue com independência de outras intenções. Ali, Jesus curou alguns doentes, diz o texto. A cura é o sinal para encontrar o verdadeiro dom de Jesus: a salvação.
Jesus ficou admirado com a falta de fé que havia ali.
2. Meditação (Caminho)
O que a Palavra diz para mim?
O evangelista Marcos diz quem é Jesus. Os nazarenos não estavam interessados nisto. Só queriam saber dos milagres. Apenas buscavam seus interesses e não, a pessoa de Jesus.
Os bispos, na Conferência de Aparecida, lembraram que como cristãos somos portadores de boas novas:
"Deus amou tanto nosso mundo que nos deu o seu Filho. Ele anuncia a boa nova do Reino aos pobres e aos pecadores. Por isso, nós, como discípulos e missionários de Jesus, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo. Anunciamos a nossos povos que Deus nos ama, que sua existência não é ameaça para o homem, que Ele está perto com o poder salvador e libertador de seu Reino, que Ele nos acompanha na tribulação, que alenta incessantemente nossa esperança em meio a todas as provas. Os cristãos somos portadores de boas novas para a humanidade, não profetas de desventuras." (DAp 30)
É assim que eu me sinto e vivo?
3. Oração (Vida)
O que a Palavra me leva a dizer a Deus?
Acolho no meu coração Jesus de Nazaré e rezo com o papa Bento XVI:
"Ficai conosco, Senhor, acompanhai-nos, ainda que nem sempre tenhamos sabido reconhecer-vos. Ficai conosco, porque as sombras vão se tornando densas ao nosso redor, e vós sois a Luz; em nossos corações se insinua a desesperança, e vós nos fazeis arder com a certeza da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas vós nos confortais na fração do pão para anunciar aos nossos irmãos que na verdade vós ressuscitastes e nos destes a missão de ser testemunhas da vossa ressurreição."
(Bento XVI, Discurso inaugural na V Conferência)
4. Contemplação/Ação (Vida)
- Qual o meu novo olhar a partir da Palavra?
Depois deste contato com Jesus de Nazaré, vou passar o dia, acolhendo Deus e as suas manifestações nas coisas simples, no pequeno, em cada pessoa.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Irmã Patrícia Silva, fsp
Oração Final
Pai Santo, mantém-nos
abertos ao Novo que acontece à nossa volta, receptivos ao teu Espírito que
sopra onde, como e quando quer. Não permitas, Pai amado, que nos fechemos nas
coisas já sabidas e vistas, mas, como crianças de teu Reino, estejamos atentos
à tua Presença criativa em nós e no meio de nós. Por Jesus Cristo, teu Filho e
nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.

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