ANO B
Mc 10,46-52
Comentário do Evangelho
Cegueira dos discípulos
Podemos perceber que Marcos, ao escrever seu evangelho, teve a intenção de caracterizar três etapas do ministério de Jesus. A primeira, até o capítulo 8, versículo 21, envolvendo o ministério de Jesus na Galileia e nas regiões gentílicas vizinhas, abrange desde o batismo de João até a passagem por Betsaida; é uma fase de formação dos discípulos, e a palavra chave é a "casa", mencionada frequentemente como lugar onde a comunidade se encontra com Jesus. A segunda etapa, do capítulo 8, versículo 22, ao capítulo 10, versículo 52, que envolve a viagem com destino a Jerusalém, a partir de Betsaida e dos povoados de Cesareia de Filipe, ao norte da Galileia; nesta etapa a palavra-chave é o "caminho", repetida várias vezes, ao longo do qual Jesus prepara os discípulos para o desfecho de seu ministério em Jerusalém, destacando-se nesta etapa os três "anúncios da Paixão" (Mc 8,31-32; 9,30-32; 10,32-34). A terceira etapa, a partir do capítulo 11, abrange o ministério de Jesus em Jerusalém, culminando com a Paixão, morte e ressurreição.
A leitura de hoje, com a cura do cego de Jericó, fecha a segunda etapa do ministério de Jesus, cujo início foi demarcado também com a cura de um cego em Betsaida. Com este artifício literário, incluindo a caminhada para Jerusalém entre duas curas de cegos, Marcos realça que Jesus está empenhado em abrir os olhos dos próprios discípulos quanto à natureza de sua missão no mundo.
Nesta caminhada, aproximando-se de Jerusalém, passam por Jericó, situada a cerca de 25 km daquela cidade de destino. Os discípulos acompanham Jesus, sem ainda compreender, com clareza, o sentido pleno de sua missão, pois tinham dele uma visão messiânica triunfalista.
A narrativa da cura é feita em cores vivas, como em uma cena teatral: a multidão que acompanha Jesus; o cego, mendigo, sentado à beira da estrada; seus gritos insistentes, indiferente à repreensão de muitos; o chamado de Jesus e o seu pulo, jogando o manto fora, concluindo com a recuperação da visão.
Pode-se imaginar que os mendigos de Jericó se instalassem à beira do caminho que, vindo do norte, levava a Jerusalém, contando com a benevolência e a piedade dos peregrinos, que, em grandes grupos, viajavam para a cidade a fim de cumprir o preceito de participação na festa da Páscoa judaica, no Templo.
O cego que estava à beira do caminho, de certo modo, é a imagem destes discípulos em sua incompreensão. Ele "vê", equivocadamente, Jesus como o "Filho de Davi", messias poderoso e triunfante da tradição judaica do Primeiro Testamento. Contudo, este homem quer libertar-se de sua cegueira. Jesus pergunta-lhe: "Que queres que eu te faça?". Esta pergunta havia sido dirigida, pouco antes a Tiago e João, cuja resposta revela que, cegamente, aspiravam ao poder. Bartimeu, simplesmente, quer "ver", e, vendo Jesus Nazareno com clareza, ele o segue em seu caminho.
Nossa fé consiste em "ver" Jesus presente, hoje, no mundo, humilde e amoroso, caminhando com seus discípulos na construção de um mundo novo de justiça e paz.
José Raimundo Oliva
Oração
Pai, dá-me forças para lutar contra a cegueira que me impede de reconhecer teu amor misericordioso manifestado em Jesus. Faze com que eu veja!
Comentário do Evangelho
A fé é iluminação que permite ver
Jericó, um verdadeiro oásis no deserto da Judeia; Jesus está subindo para Jerusalém acompanhado por seus discípulos e por uma grande multidão que deseja ouvi-lo e tocá-lo, na esperança da cura dos seus males. À beira do caminho estava um cego, Bartimeu. Estava à margem de tudo, da sociedade, inclusive de Deus, por causa da mentalidade da época; por isso também se diz que ele estava “à beira do caminho”. Grita a Jesus com insistência porque tem um grande desejo: ver. O seu clamor foi ouvido. Jesus manda chamá-lo e ele, deixando o manto, foi de um salto até Jesus. O manto era símbolo do poder do homem, por isso se diz que tirou o manto para ir até Jesus. Sem humildade não há possibilidade de receber o dom da visão. Perguntado pelo seu desejo, ele responde: “que eu veja”. A fé é iluminação que permite ver. Consequência da luz da fé é o seguimento de Jesus Cristo. Bartimeu é o modelo do discípulo que, iluminado pela fé, segue Jesus no caminho que o conduz à paixão.
Pe. Carlos Alberto Contieri
Oração
Senhor Jesus, cura minha cegueira espiritual para que, iluminado pela luz da fé, eu te siga, com toda a confiança, no caminho do discipulado.
Vivendo a Palavra
O Mestre mostra o respeito e a gentileza que são devidos ao próximo: quando talvez parecesse óbvio que o desejo daquele cego era voltar a ver, Jesus quis saber dele próprio: “o que você quer que eu faça por você?” Nós, Igreja de Jesus, devemos segui-lo no cuidado dos irmãos, sem nos esquecermos de ouvi-los com carinho e atenção.
vIVENDO A PALAVRa
Uma lição de respeito e gentileza: o Mestre Nazareno não pressupõe o que poderia parecer óbvio para todos e pergunta ao cego qual era o seu desejo. Jesus não decide pelo irmão, mas lhe dá a oportunidade de fazer o seu pedido. Nós, nem sempre somos capazes disso: invadimos o íntimo do próximo e projetamos nele os nossos desejos, privando-os da liberdade de opção.
Reflexão
Existem muitas pessoas que passam por sérias dificuldades e sofrimentos, que resultam em exclusão social. O Evangelho de hoje nos mostra uma realidade muito triste: a maioria das pessoas que são excluídas da sociedade também são excluídas da Igreja e do próprio relacionamento com Deus. Vemos que os seguidores de Jesus, que deveriam contribuir com ele para que houvesse a inclusão de todos no Reino são os primeiros que excluem o cego Bartimeu, pois querem que ele se cale. O Evangelho de hoje exige de todos nós um sério exame de consciência sobre os nossos valores e sobre a forma como nós vemos a religião e o seguimento de Jesus para que, em nome dele, não excluamos ninguém. O Mestre chama, conduzamos até ele.
Reflexão
UMA CONFISSÃO DE FÉ
O grito pode ter múltiplos significados. É frequente ouvir a expressão “grito de guerra”, significando o desejo de atacar, de ir à luta. Fala-se também do “grito de alegria”, representando vigor, contentamento. Vejam-se as torcidas organizadas nos estádios de futebol, vibrando pelo time do coração. O grito vibrante ecoa em som penetrante. Há também o grito de desespero. Mas há ainda o grito de quem grita como única alternativa e possibilidade de ser ouvido. Talvez seja esse o sentido do grito de Bartimeu no evangelho de hoje (Mc 10,46-52).
O narrador faz questão de frisar que Bartimeu era “um mendigo cego, sentado à beira do caminho” (10,46). Isso para ressaltar sua condição de pessoa destituída de dignidade. A mendicância e a cegueira punham-no à margem de tudo. A única ferramenta de luta pela vida que lhe restava era a voz. E voz que tinha de ser gritada. “Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais forte” (10,48).
Bartimeu representa o povo a quem é negado tudo e de quem nada se espera. Ocorre que, de onde menos se espera, é daí que Deus suscita a surpresa, pois “o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte” (1Cor 1,27). O grito de Bartimeu é mais do que simplesmente um grito. É uma confissão de fé.
Ele, embora indigente e cego, na sua pequenez professa a fé no Nazareno, o “Filho de Davi”, isto é, o ungido de Deus, o prometido desde sempre para “evangelizar os pobres, proclamar a libertação aos presos, recuperar a vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). Chegou, pois, o tempo da realização das promessas. Os primeiros a notar isso são os oprimidos. “Tende compaixão de mim!” A súplica de Bartimeu é a prece de todos os que, silenciados e rejeitados, porém cheios de fé, sabem que sua única esperança é Deus.
O evangelho de hoje quer, portanto, ensinar à comunidade que Jesus realiza o sonho de Deus: a vida plena para todos, especialmente aos renegados do mundo. Toda indiferença é superada, pois o reino chegou. Jesus é a plenitude da vida e ninguém pode impedir o acesso a ele, nem mesmo os que se consideram mais perto dele e, às vezes, querem retê-lo para si ou privatizá-lo.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Reflexão
Na época de Jesus, os cegos eram marginalizados, porque se acreditava que a cegueira era castigo de Deus por algum pecado. Curar um cego significava reintegrá-lo na vida social. Sentado e mendigando à beira do caminho, o cego não conta com a solidariedade da “considerável multidão”, cega, surda e insensível. Com efeito, não só deixam de pedir a Jesus em favor dele, mas tentam abafar seus clamores por saúde. Jesus, no entanto, tem ouvidos atentos para captar as súplicas do cego e sensibilidade aguçada para com sua infeliz situação e lhe devolve a luz. Passando a enxergar, o homem segue a Jesus, imagem do discípulo que compreende quem é o Messias e se dispõe a segui-lo, com os próprios pés e sem medo, pelo caminho que conduz a Jerusalém, onde Jesus entregará a própria vida.
Oração
Ó Jesus, Filho de Davi, perguntas ao cego de Jericó o que realmente ele deseja e ouves a sua súplica: “Mestre, que eu possa ver novamente”. Com a visão recuperada, ele se torna teu discípulo e começa a seguir-te, justamente enquanto caminhas para Jerusalém, onde entregarás a vida. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2021 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp e Pe. Nilo Luza, ssp)
Meditando o evangelho
QUE EU VEJA!
O episódio do cego de Jericó ilustra o caminho percorrido pelos discípulos do Reino. O homem passou da cegueira, da mendicância e da marginalização à condição de discípulo, que segue Jesus no caminho para Jerusalém, portanto, lugar de sua morte e ressurreição. Ele foi curado porque insistiu, resistindo às pressões de quem queria fazê-lo calar-se. Sua fé não lhe permitiu resignar-se com sua condição de excluído.
O discipulado consiste na cura da cegueira que considera Jesus a partir de esquemas mundanos e a espera dele coisas incompatíveis com seu projeto. A cegueira faz do discípulo um decepcionado e revoltado que se vê sempre mais distanciado de suas esperanças mesquinhas. A recuperação da vista permite-o ser realista nas suas expectativas. Quem realmente vê não se frustra.
A pobreza, expressa no fato da mendicância, é superada quando o discípulo passa a acumular os bens verdadeiros e imperecíveis, a riqueza do Reino, que não se identifica com a concentração de bens materiais. Ele não precisa mais mendigar falsos bens.
A marginalização, simbolizada no sentar-se à beira da estrada, torna-se participação quando o discípulo põe-se a seguir Jesus, fazendo seu o projeto do Mestre. Só uma profunda fé em Jesus pode colocar o discípulo neste caminho de salvação.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Senhor Jesus, tira de mim a cegueira que me impede de ver, com realismo, o caminho da cruz e ressurreição pelo qual estou indo contigo.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. SENTADO À BEIRA DO CAMINHO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Há uma canção de Roberto e Erasmo Carlos, que eu vivia cantarolando nos meus tempos de jovem, quando tomado por alguma tristeza ou decepção, o poeta compositor da letra, fala de alguém, que por conta de uma decepção amorosa, desistiu de viver e ficou sentado á beira do caminho, onde até a poeira é triste. A dinâmica da vida nos impele a caminhar, quem não se deixa contagiar por esse dinamismo, acaba ficando fora do processo, a letra da canção mostra bem esse sentimento de que não existimos, quando a pessoa a quem amamos permanece indiferente "Preciso lembrar que eu existo....". Quem é esse cego Bartimeu, mendigando amor á beira de um caminho, senão o próprio homem, que não conhecendo a Deus revelado em Jesus, lhe permanece indiferente? A pós modernidade oferece ao homem Muitas "luzes" na ciência, na tecnologia, no avanço das pesquisas, acontece que o ser humano, apropriando-se desses bens, que são dons de Deus, julga ver tudo, compreender tudo, e sentindo-se Senhor absoluto da situação, pensa e faz o que quer, usa sua liberdade da pior maneira possível e fazendo coro ao racionalismo dos intelectuais, decreta a morte de Deus. Entretanto, um belo dia este homem prepotente e arrogante, irá descobrir-se como este cego de Jericó. Tem tudo mas não tem a graça de Deus, que Jesus trouxe com a Salvação. Nesse sentido não se conhece, porque não conhece a Jesus, é cego, porque não viu em sua vida a luz da verdade, está a margem da verdadeira vida, é um milionário mendigando um pouco de amor áquele que é amor.
Em um coração e uma alma, ferida pela descrença, agonizante de vida e esperança, é que sai esse grito de Bartimeu, ao saber que Jesus de Nazaré passava por ali, bem ao lado de onde ele expunha aos que passavam, a sua miséria vergonhosa. "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!". Foi assim que Jesus, o Verbo Encarnado de Deus, encontrou o homem, morto pelo pecado, andarilho e mendigo á beira da estrada da Vida, sem forças para caminhar, em sua cegueira tenebrosa. No canto da Verônica, no caminho do calvário, inverte-se esse quadro e Jesus ocupa o lugar que é do homem "Oh Vós todos que passais, vinde ver se há uma dor igual a minha..."
Na verdade é a humanidade toda que estava á beira do caminho, sucumbida em sua miséria, quem passa é Jesus, que não fica indiferente as nossas chagas e feridas, como o Sacerdote e o Levita, na parábola do Bom Samaritano, que ouviu por certo os gemidos daquele homem caído á beira do caminho, Jesus também ouviu nossos lamentos e queixumes, o grito desesperado de quem perdeu quase toda a esperança, "Senhor, Tende compaixão".
Sempre haverá vozes contrárias, tentando abafar esse grito de quem já não encontra mais razão para viver, há aqueles que como esse grupo numeroso que segue a Jesus, querem dele se apossar, fecham o anúncio e a graça em suas "Igrejinhas particulares", idealizam um Jesus exclusivo que só atende a eles, os santos, justos e perfeitos, é o grito dos casais em segunda união, talvez, é o grito de tantas jovens mães solteiras, de drogados e prostituídos, de pessoas rotuladas como irrecuperáveis, banidos de nossas relações, explorados pelo sistema pecaminoso, e oprimidos muitas vezes pelo próprio poder religioso, de tantas igrejas que se intitulam de "Cristãs".
O grito de desespero não passa despercebido por Jesus, quando o seu povo gemia sob o chicote dos Faraós do Egito, Deus ouviu, viu e desceu para libertá-los. A Igreja de Cristo não pode tapar os ouvidos diante de tantos que gritam, as vezes dentro da própria comunidade, a Igreja de Cristo não pode abafar o clamor dos pequenos que perderam a esperança e a ela recorrer, deve ser aquela que chama o cego, o acolhe em seu meio, coloca as pastorais a disposição para lhe curar as feridas, e mais ainda, o encoraja a fazer esse encontro pessoal com aquele que é a Vida, a Verdade, o caminho . Coragem! Levanta-te, Ele te chama! Jesus chama esse homem cego, morto, como um dia chamou a Lázaro, inerte no fundo de uma sepultura. O chamado de Jesus é para a Vida, para desencostarmos do barranco do comodismo, e de olhos bem abertos, na visão da Fé, abraçar o discipulado com coragem e desprendimento.
Impressionante a reação do cego, ao saber que Jesus o chamava, sentiu-se importante, deu um salto e foi ter com ele, jogando a capa de lado. Era a única coisa que possuía, mas despojou-se dela ao conhecer Jesus, ao descobrir-se amado e querido por Deus, ao sentir que todo esse amor está presente em Jesus, redobra a força e a coragem, descobre a nova razão de viver, por isso consegue "pular" do seu canto, Jesus é o seu protetor, o seu amor o envolverá totalmente, não precisa mais de nenhuma outra capa.
O seu desejo de VER, manifestado com simplicidade diante de Jesus, foi atendido, "Vai, a tua fé te salvou" – lhe dirá o Senhor. Ir para onde? Para o caminho do discipulado. Salvos pela fé, todos os que fizeram e fazem, essa experiência de ter uma nova visão, no encontro pessoal com Jesus, tornam-se seus discípulos, ontem e hoje, e todos juntos, enquanto Igreja, deixam-se conduzir pelo dinamismo desta vida nova, percorrendo as estradas do mundo, para encorajar os que estão á margem, e chamá-los para se encontrarem também eles com Jesus, a Luz Verdadeira, diante da qual as trevas não resistem.... (XXX Domingo do Tempo Comum Mc 10, 46-52)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
2. A GRANDEZA DE SERVIR
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
O Reino de Deus introduziu nova ordem de relações entre as pessoas, muito diferente da mentalidade do mundo. Para quem é mundano, a grandeza consiste em exercer o domínio sobre as pessoas, e mostrar-se cheio de poder, porque a submissão lhe parece fruto do medo. O serviço prestado ao tirano não resulta de um ato amoroso, mas revela-se uma pesada obrigação.
O Reino, pelo contrário, segue na direção oposta. O domínio transforma-se em serviço. O dominado assume a feição do irmão a quem se deve amar e servir. O poder não é utilizado para oprimir, antes, para libertar. A relação de escravidão transforma-se em relação de fraternidade. A grandeza, portanto, para o discípulo do Reino não consiste em ser servido mas em servir e oferecer a própria vida para que o outro possa crescer.
Foi por esta razão que Jesus convidou Tiago e João a mudarem de mentalidade e pensarem segundo os critérios do Reino. O pedido que fizeram ao Mestre talvez escondesse o desejo de exercerem poder sobre os demais companheiros de discipulado, numa espécie de dominação. Pretendiam ocupar um lugar de destaque junto de Jesus, para usufruir do poder. Jesus denunciou esta maneira errada de pensar.
O discípulo deve espelhar-se nele, enviado pelo Pai para colocar-se a serviço da humanidade e dar a vida pela salvação de todos. Esta é a sua grandeza!
Oração
Senhor Jesus, leva-me a escolher sempre o caminho do serviço feito na gratuidade, para eu me sentir grande junto de ti.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Ganhando no Grito
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Certamente vocês já ouviram esta expressão, quando quer dizer que a pessoa apenas ganhou algo, porque falou mais alto. Mas no caso desse cego de Jericó, a afirmativa é verdadeira, se ele ficasse apenas gemendo a sua sina de ser cego, chorando á beira do caminho, enquanto Jesus passava, para quem sabe comovê-lo...estaria por lá até hoje pedindo esmolas. O texto afirma que ele “Gritou” E não deve ter gritado apenas uma ou duas vezes. A gritaria do cego Bartimeu, Filho de Timeu, que antes de Jesus passar por ali, era um Zé Ninguém, e que agora tem até um nome e uma filiação, incomodou a comunidade que seguia Jesus e alguém o mandou calar a boca. Mas o nosso ceguinho tinha uma Fé grandiosa, e havia decidido que naquele dia sua Vida seria transformada por aquele homem chamado Jesus, por isso, não se intimidou com os que lhe pediram para que se calasse, e gritou mais alto ainda.
O texto fala que Jesus parou e mandou-o chamar. E na mesma comunidade onde alguns o ignoraram e até mandaram-lhe calar a boca, de outro grupo veio o incentivo “Levanta-se, coragem. Ele te chama!”. Nossas comunidades cristãs não podem ficar indiferentes ou se fazer de surdas, diante do clamor de quem está sofrendo, de quem é desprezado, de quem é marginalizado e está a beira do caminho de um sistema pecaminoso, que só privilegia quem produz. Devem ter sempre a reação do segundo grupo, encorajar as pessoas, ajuda-las a ficar em pé para terem suas vidas transformadas pela Graça Santificante que Jesus nos dá.
Para assumir esta Vida Nova é preciso a conversão, é preciso romper com o pecado da falsa segurança que o mundo nos oferece, é preciso renunciar e desapegar-se de tudo para aceitar Jesus como o único Senhor da nossa Vida, por isso o Cego desfez-se rapidamente da sua capa (única coisa que possuía) e dando um pulo foi até Jesus.
A pergunta de Jesus já deu margem até a anedotas “O que queres que te faças?”. O que poderia pedir aquele pobre cego? Quem sabe um cão guia? Uma bengala para poder se locomover? Não! Ao chama-lo de Rabôni, que quer dizer Mestre, o Cego manifesta a sua vontade, o seu desejo, aquilo que ele mais queria: passar a Ver!
Então Jesus disse “Vai, a tua Fé te salvou!”. Por que a pergunta de Jesus? Claro que o cego queria mesmo era enxergar para ter a sua vida mudada! É que a Salvação não nos é imposta, é preciso que nós queiramos nos Salvar, é preciso que tenhamos esse desejo sincero, e nos disponhamos a isso, tornando-nos seguidores de Jesus nesta vida. Deus manifestado em Jesus, não nos salva contra a nossa vontade.
Neste mundo há muitas pessoas que, como este cego, grita, desfaz-se do que tem, dá pulos, e incentivado pelas Comunidades cristãs, se esforça para mudar sua vida a partir desse encontro especial com Jesus, mas há muitos que in felizmente, preferem acomodar-se nas coisas que o mundo oferecer, e não vislumbrando nada de especial na Salvação oferecida em Jesus, ficam a vida inteira “mendigando” a beira do caminho, fazendo da cegueira espiritual um pretexto para não Crer. Quem coloca toda sua esperança nesta Vida Terrena, sem vislumbrar algo de novo e Eterno, que Jesus nos oferece, realmente vive de esmolas...
2. Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim - Mc 10,46-52
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Deixamos tudo e te seguimos, mas não enxergamos o caminho. Andamos à deriva. O Senhor, se quiser, pode ter compaixão de nós e nos fazer ver. O cego de Jericó, figura de todo discípulo, recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. Ele faz par com o cego de Betsaida. Os dois não enxergam bem quem é Jesus nem os valores que ele propõe. Representam os discípulos de todos os tempos interessados em glória e poder. Acham que são grandes senhores, encarnação da sabedoria. Querem os primeiros lugares, querem ser o maior no meio dos outros, querem um Cristo glorioso, não na cruz, mas no trono de Davi. Jesus os desconcerta assim como todos os que deixam de fato tudo e o seguem. Quando Jesus diz: “Vai, tua fé te salvou”, diz também: “Vai e salva os outros com a tua fé”. Assim fez Santo Agostinho de Cantuária, que hoje celebramos. Monge beneditino e apóstolo da Inglaterra, impressionou o rei pagão Etelberto por sua simplicidade e pela qualidade de sua fé.
HOMILIA DIÁRIA
Jesus está passando agora no caminho do seu coração
Postado por: homilia
outubro 28th, 2012
Jericó acordara cedinho trazendo ainda – no rosto dos seus habitantes – a alegria contagiante da passagem de Jesus. Os comentários sucediam-se; não faltavam opiniões, as mais diversas; pessoas emocionadas; gente simples que tomara ares de vida nova… Tudo resplandecia.
A cidade respirava um ar diferente, apesar do parecer contrário de muitos a respeito do ocorrido no dia anterior: o jantar de Jesus e seus discípulos na casa de Zaqueu. É que eles ainda não se tinham dado conta destas palavras: “Eu vos digo que do mesmo modo, haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrependa do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento” (Lc 15,7).
Parece-me ouvir nitidamente a voz de Jesus repetindo aos insatisfeitos o que dissera alguns dias antes aos seus discípulos: “O que vos parece? Se um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele as noventa e nove nos montes e vai à procura da que se perdeu? Se consegue encontrá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram” (Mt 18,12-13). Eles, por certo, ainda não haviam entendido a “lógica” de Jesus, e muito tempo ainda decorreria para que entendessem que “a sua lógica não tem lógica”, visto que o Reino não chegara para “os sábios e entendidos”. Ao sair de Jericó com os seus discípulos e grande multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando, o cego Bartimeu, filho de Timeu.
Os pobres eram, em primeiro lugar, os mendigos. Estes eram os doentes e aleijados que tinham recorrido à mendicância, haja vista a impossibilidade de serem empregados e não possuírem parentes que pudessem (ou quisessem) sustentá-los. Era o contraste que se deparava diante de todos. Ainda há pouco, as cores da alegria; no instante presente, a máscara da tristeza, da miséria e da opressão.
Bartimeu, além de mendigo, era cego. Excluído e humilhado pela sociedade, perdera a vergonha de estender as mãos para angariar míseras moedas para o seu sustento. Aprendera na dor a ser humilde; aprendera na obediência a Deus a viver sem murmurar; aprendera a aceitar a sua condição de dependência e opressão.
Aprendera de maneira dinâmica – e não de maneira estática – a acolher a sua condição limitada. Dentro dele latejava a ânsia de lutar por dias melhores. Sentia em sua alma alguma coisa que falava não sei o quê… Ele não compreendia, mas sentia profundamente que aquela coisa… É como se pressentisse algo. Era chegado o tempo de descruzar os braços.
Seu tato era extraordinário. Poderíamos afirmar, sem receio, que ele enxergava pelas mãos, pelos dedos. Por outro lado, a sua capacidade auditiva era extre, 2012
Jericó acordara cedinho trazendo ainda – no rosto dos seus habitantes – a alegria contagiante da passagem de Jesus. Os comentários sucediam-se; não faltavam opiniões, as mais diversas; pessoas emocionadas; gente simples que tomara ares de vida nova… Tudo resplandecia.mamente apurada. Não tendo capacidade para detectar a luz, desenvolvera a capacidade de detectar as formas e os sons. Aqueles sons que se aproximavam do lugar em que estava mendigando, um alarido não muito constante em Jericó, tornara-se o sinal indicativo de que um personagem importante estava deixando a cidade. À medida que a multidão se aproximava, mais ele apurava os ouvidos. Quando percebeu que era Jesus, o Nazareno, que passava, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” Ele naturalmente não viu; mas através do vozerio identificou que era Jesus. E começou a gritar, clamando por misericórdia Àquele que é “a luz do mundo e o caminho, a verdade e a vida” (Jo 8,12; 14,6).
E muitos o repreendiam para que se calasse. Ele porém, gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem compaixão de mim!” A insistência e a persistência de quem luta por aquilo que quer e deseja, e anseia, e busca, e pede, e clama… Encontra ressonância aos ouvidos do Senhor.
Detendo-se, Jesus disse: “Chamai-o!” Jesus para e manda chamá-lo. Diante da miséria humana, Jesus nunca segue adiante. É o Bom Pastor que cuida da ovelha doente; e o Bom Samaritano que trata das feridas da ovelha machucada. Chamaram o cego, dizendo:“Coragem! Ele te chama. Levanta-te!” Deixando a sua capa, levantou-se e foi até Jesus.
A doença que o oprimia, escravizava e humilhava, a partir de agora deixava de ter sentido. Aquela capa que fora símbolo de exclusão social foi atirada longe. O que importava era levantar-se o mais depressa possível e chegar até Jesus.
Naquele instante, os olhos da Luz encontraram os olhos sem luz. E no Coração de Jesus afloram as palavras proferidas na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar o ano da Graça do Senhor”. Diante dele, Bartimeu: pobre, mendigo, cego, cativo, preso, oprimido… Então Jesus lhe disse: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu possa ver novamente!”
Jesus respeita a nossa liberdade. Por isso a razão da sua pergunta. Ele queria que Bartimeu verbalizasse, apesar de saber e vê-lo cego. Quando ele expressou o seu desejo de cura, Jesus lhe disse: “Vai, a tua fé te salvou!” No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia-o pelo caminho. São palavras que curam o corpo, a alma e o coração.
O cego não é aquele que não vê, mas aquele que não quer ver. Quantos passam a vida sentados à beira do caminho, braços cruzados, olhos perdidos no vazio e na escuridão, acomodados, desencorajados, desesperançados, descrentes de Deus, descrentes do mundo, descrentes das pessoas… Mortos vivos ou vivos mortos? Em qual das duas categorias você se ajusta?
Jesus está passando agora no caminho do seu coração. Não deixe esta graça passar sem realizar o que Deus quer. Peça, busque, clame, grite, como Bartimeu: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” Clama com as palavras que o Espírito Santo lhe inspirar: “Jesus, eu só enxergo as coisas do mundo. O meu coração e os meus olhos encharcados de concupiscências, de pecados, de vícios, de egoísmo, de orgulho, de vaidade, de adultério, de rancor.. Eu sou cego para o amor, para o perdão, para a misericórdia, para a disponibilidade, para o serviço aos irmãos, para a partilha. Eu sou cego para a humildade, para o desprendimento, para a renúncia, para o despojamento de mim mesmo. Tem compaixão de mim!”
E os seus olhos se abrirão; sua alma exultará; seu espírito haverá de cantar as misericórdias que o Senhor realizou na sua vida.
Mas não basta apenas isto. É necessário exercitar a fé. É seguindo Jesus pelo caminho, como fez Bartimeu, que se cumpriram as palavras de Jesus em sua vida: “Vai, a tua fé te salvou”.
Padre Bantu Mendonça
Oração Final
Pai Santo, dá-nos olhos e coração capazes de ver e participar da realidade do mundo e dos irmãos, com suas alegrias e dores. E faze-nos generosos para acolher com presteza as suas necessidades, pois queremos ser discípulos missionários do Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.
oRAÇÃO FINAl
Ó Deus, que amas teus filhos com a ternura de Pai que tem entranhas maternais, ensina-nos a gentileza no trato com nossos companheiros de peregrinação. Faze-nos delicados e atenciosos, prontos para ouvir, muito mais do que para falar; para oferecer, muito mais do que para impor. Nós pedimos, Pai que tanto amamos, pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.